Luis Nassif
O aturdimento do editorial do Estadão com o aturdimento do PSDB é curioso. O grande erro do PSDB foi ter embarcado na onda midiática da guerra sem quartel.
O Estadão.
A reportagem no Estado de domingo, "Para voltar ao poder, PSDB aposta até na neurociência", é um retrato desalentador da desorientação que os anos Lula infligiram à legenda oposicionista que em dias melhores se distinguia por reunir um patrimônio intelectual incomum para os padrões partidários nacionais. Com dois presidenciáveis de peso, o governador paulista José Serra e o seu colega mineiro Aécio Neves, mas desprovido de “discurso”, o sinônimo corrente de mensagem, os tucanos também tateiam em busca de um caminho para chegar ao eleitorado que decidirá a sorte da sucessão de 2010 - os 58 milhões de brasileiros, ou 45% do total de votantes potenciais, que podem escolher tanto um candidato do PT como do PSDB, segundo as pesquisas.
Em português claro, os tucanos não sabem nem o que dizer nem como dizê-lo. De tal modo Lula conseguiu assumir a paternidade da política econômica e dos projetos sociais implantados sobretudo no segundo mandato do presidente Fernando Henrique que 67% dos entrevistados numa sondagem para este jornal, em 2007, apontavam o seu sucessor como o maior responsável pela estabilidade da economia. E vá um tucano dizer a qualquer dos 45 milhões de beneficiários do Bolsa-Família que o programa descende em linha direta do Bolsa-Escola do governo FHC e a reação variará entre a incredulidade e o escárnio. Melhor faria, como Serra e Aécio já afirmaram que farão, se elogiasse a benesse e prometesse ampliá-la.
(…) Mas Lula não teria conseguido sequestrar a política nacional e ditar os termos das disputas eleitorais se, depois de desperdiçar a sua melhor oportunidade, no auge das denúncias do mensalão, quando ele cogitou seriamente de desistir da reeleição, os tucanos não tivessem sido acometidos de uma catatonia desmoralizante. Agora, diante de um prato feito - os vexames em série proporcionados pelos políticos no Congresso e respaldados pela complacência cínica do presidente da República -, o máximo que os tucanos fizeram foi ecoar burocraticamente, e olhe lá, as denúncias da imprensa. (…)
Comentário
Quanto terminaram as eleições de 2006, escrevi várias vezes sobre o tema. A campanha sistemática da mídia, tentando derrubar o governo Lula, cansara. O novo tempo seria o da política.
Acreditava que com José Serra em São Paulo, Aécio Neves, em Minas e Lula em Brasília, haveria a possibilidade dos negociadores se imporem sobre os guerreiros.
O que o leitor não queria ewra justamente a manutenção desse clima de guerra artificial, alimentado fundamentalmente pela grande mídia.
Quando escrevi a coluna abaixo, Serra me telefonou. No começo, acenou com a possibilidade de fundar um novo partido, desvencilhando-se da herança fernandista. Depois, disse que, em geral, concordava com minhas ideias, mas agora não: FHC era seu amigo e aliado.
Nos anos seguintes, pegou o que de pior a herança fernandista tinha. Deslumbrou-se como um neófito com o canto de sereia de certo colunismo de guerra, passou a se valer cada vez mais de blogueiros de esgoto para atingir adversários, passou a dedicar a maior parte do seu tempo a articular as Vejas, Globos, Jungmans, Itagibas da vida, e se esqueceu da política e da gestão, abandonou suas raízes para vestir o figurino da direita raivosa.
Como diz um amigo comum, Serra é inteligente para algumas coisas. Mas é politicamente burro.
Agora vem o Estadão questionar que o PSDB não sabe o que quer. Nâo sabe porque foi atrás, entre outros, do Estadão. E o que faltou ao PSDB, segundo o jornal? Ter aproveitado o momento certo para derrubar Lula. Incareditável!
Fonte:Luis Nassif online.
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