Fernando Soares Campos
Chefes de redação acostumados a montar matérias editando ao bel prazer dos patrões, conforme interesses às vezes escusos, estão reclamando do blog que a Petrobras criou para apresentar “fatos e dados recentes” da Companhia e deixar claro “o posicionamento da empresa sobre as questões relativas à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)”. Dessa forma, o blog também se dispõe a prestar assessoria à imprensa, atendendo a jornalistas que necessitem de informações complementares para fechar suas matérias. (Certamente os repórteres não devem se conformar com as informações prestadas pela empresa através do blog; mas, sim, confrontá-las com o que possam obter de qualquer fonte.)
Tão logo o blog da Petrobras estreou, jornalistas enviaram e-mail para testar a novidade. As perguntas eram do tipo “penico de barro enferruja?” (Tudo bem, era só um teste.) Os responsáveis pelo blog responderam as indagações, mas o fizeram, naturalmente, no próprio blog, com leitura ao dispor de qualquer internauta. Órgãos de imprensa, pasme, consideraram aquilo um “vazamento” de informação, “quebra de sigilo”. O Globo estampou: “Petrobras vaza em blog informações obtidas por jornalistas” Tem cabimento?! Ora, aquilo lá é um blog!
No próprio blog da Petrobras, entre oito itens postados para esclarecimento dessa questão, copiei este, que já seria suficiente para os grandes jornais entenderem o que é um blog e em que ano estamos: “A iniciativa de criar o blog Fatos e Dados, na opinião da Petrobras, é um marco na construção de novas pontes de comunicação com os públicos de relacionamento da companhia em uma nova era de circulação de informação digital em tempo real. A chamada blogosfera permite uma relação direta entre a fonte divulgadora de informação e leitores, sem a necessidade de filtros, de maneira que a decisão sobre o que interessa de fato ao receptor seja por ele selecionada, na medida em que tem acesso a íntegra das perguntas e respostas”.
Confiram o restante na própria página da empresa.
Acontece que tem jornal habituado a noticiar à base de “um pescador me confirmou que um passarinho lhe cantou”, como no caso em que acusaram Lula de xingar a mãe de Evo Morales, quando o presidente boliviano encampou empresas estrangeiras; entre elas, uma unidade da Petrobras. Tratei desse assunto no Observatório da Imprensa, artigo intitulado “Intrigas, boatos e jornalismo de opinião”. http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=380JDB010
No diário espanhol La Insignia saiu com o título: “Hijo de puta es lo más cariñoso” http://www.lainsignia.org/2006/mayo/ibe_011.htm .
Ainda discorrendo sobre artimanhas na maneira de noticiar, comentei matéria da Folha de S. Paulo, que especulava sobre suposta viagem de Zé Dirceu a não se sabe bem onde. O artigo pode ser lido também no Observatório da Imprensa: “A não-reportagem sobre uma não-informação”.
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=389CIR002 .
Mesmo diante das evidências, os grandes jornais e revistas de expressiva tiragem não sabem por que estão perdendo leitores.
Fonte:Blog Nova e
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