terça-feira, 9 de junho de 2009

PERU - Garcia promove massacre em defesa das transnacionais.

por Michelle Amaral da Silva.

Pelo menos 25 morrem em despejo; entidades indígenas e sindicatos responsabilizam governo e marcam nova paralisação nacional

Dafne Melo

Uma ordem de despejo executada, no dia 5, pelo Exército e pela polícia peruana numa estrada na região norte do país deixou dezenas de mortos e pelo menos 150 feridos. Os números reais do confronto são incertos: o governo de Alan García fala em pelo menos 11 policiais mortos e apenas 9 civis; já a principal entidade indígena do país, a Associação Interétnica de Desenvolvimento da Selva Peruana (Aidesep), afirma que no mínimo 25 nativos foram assassinados, mas que o número pode chegar a 40. A entidade e outras organizações não-governamentais também acusam a polícia peruana de estar ocultando cadáveres, a fim de diminuir a contagem de mortos.

A Aidesep alega que os manifestantes não tinham armas de fogo e que os policiais foram mortos no próprio fogo cruzado. De acordo com testemunhas, o Exército iniciou o ataque atirando de helicópteros; usaram também bombas de gás lacrimogênio e de efeito moral. Depois, iniciaram a repressão por terra.

O governo federal, a despeito do que mostram fotos, afirma que suas forças não levavam armamentos pesados e acusa os manifestantes de terem iniciado o confronto. Na manhã do dia 5, antes da ofensiva, o presidente havia declarado publicamente que iria começar a atuar energicamente. “Quando dizem que vão bloquear e cortar gasodutos, nos deixar sem luz, o que pode fazer o governo senão atuar com energia e restabelecer a ordem?”. Em seguida, ele afirmou que os indígenas eram “cidadãos de segunda classe”.
Repressão

Comunidades de povos originários de regiões da Amazônia peruana estão em mobilização desde o dia 9 de abril contra uma série de decretos editados em 2008, buscando um diálogo com o governo federal. Após um ano de tentativas, decidiram por uma greve e protestos na região.

Cerca de 5 mil militantes mantinham, há dez dias, um piquete na rodovia Fernando Belaunde Terry. A polícia enviou 639 oficiais para participar do operativo. De acordo com a imprensa, o clima na região foi de pânico e de forte tensão; dezenas de feridos lotaram os hospitais das cidades próximas ao município de Bagua, que estariam sem estrutura para atender os pacientes.

Após o incidente, o governo federal manteve a linha dura. A pedido da Procuradoria da Presidência do Conselho de Ministros, o presidente da Aidesep, Alberto Pizango, teve prisão decretada. Ele se encontra foragido. García também aproveitou para cutucar Hugo Chávez e Evo Morales: sugeriu que há ingerência desses chefes de Estado, que estariam estimulando a ação das comunidades indígenas para desestabilizar seu governo e impedir a exploração de hidrocarburetos na região, evitando concorrência regional.

Mais protestos

Principal central sindical do país, a Confederação Geral de Trabalhadores do Peru (CGTP) saiu em defesa das comunidades indígenas e se somará a novos atos marcados para dia 11. Em coletiva de imprensa, sua direção afirmou que “o governo aprista fala de ingerência estrangeira, nós lhe damos razão e afirmamos que são as transnacionais que o estão pressionando a provocar esse massacre, para impor à Selva os decretos inconstitucionais editados para implementar o Tratado de Livre Comércio (TLC) com os Estados Unidos”.

De acordo com os movimentos sociais peruanos, os decretos legislativos aprofundam o neoliberalismo no país, promovendo a privatização dos recursos naturais. O interesse maior do governo peruano seria intensificar a exploração de petróleo, gás natural e minérios da região. Além disso, os decretos prepararam o o terreno para o TLC, além de obras da Integração da Infraestrutura Regional Sulamericana (IIRSA), que já vêm ocorrendo e que são de grande interesse das transnacionais que atuam na região.

No dia 4, um desses decretos, o 1090, seria votado no Congresso Nacional novamente, após ser considerado inconstitucional pela Comissão de Constituição do Congresso. A base governista, porém, conseguiu frear a votação, alegando que ela só deverá ocorrer após a apresentação de um relatório da Comissão, que deverá apontar propostas para a anulação ou alteração dos decretos. (Com agências internacionais)

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