quinta-feira, 11 de junho de 2009

OS 60 ANOS DA REVISTA FUNDADA POR PAUL SWEEZY.

por Monthly Review [*]

Esta edição da Monthly Review assinala o 60.º aniversário da revista. Olhando para a história da Monthly Review, somos surpreendidos pela congruência histórica entre a crítica de longo prazo do capitalismo desenvolvida nestas páginas ao longo das décadas e a abordagem do curso presente dos acontecimentos. Trata-se de uma verdade aplicável a três grandes áreas da crise do sistema capitalista mundial: economia, ecologia e Império.

No que diz respeito à economia, o trabalho de Paul Sweezy e Harry Magdoff, durante muito tempo editores da MR, começou a centrar-se na criação do padrão dólar desde o início, nos anos 1970 (com a extinção do velho padrão dólar-ouro). Daí em diante, eles relacionaram o défice da balança de pagamentos externa com as despesas militares externas dos Estados Unidos. O poder de Washington para reforçar o padrão dólar permitiu aos Estados Unidos empenharem-se num investimento imperial em massa, inundando o mundo com dólares sem que tivessem que suportar as consequências.

De modo semelhante, o crescimento da dívida norte-americana em proporção do PIB foi comentada desde o início dos anos 1960. Nos anos 1970, tal veio a ser identificado como uma tendência marcante que se estende para lá dos meros ciclos ascendentes e descendentes dos negócios. Isso mesmo foi manifesto mais espectacularmente num crescimento explosivo do sector financeiro norte-americano em relação à economia real subjacente. Nas últimas duas décadas do século XX, Paul e Harry começaram a observar o fenómeno económico mais visível da altura – a saber, a financeirização, a "globalização" e a criação de um exército global de reserva (e a capacidade de produção excessiva) – como manifestações ou tentativas de contrariar a tendência fundamental para a estagnação que haviam identificado na década de 1930. Sugeriram que a estagnação e a financeirização tomavam cada vez mais a forma de um "abraço simbiótico", estando o problema de base na primeira.

À medida que o século XX chegava ao fim, parecia-lhes claro que a financeirização não só não estava a ser capaz de deter o abrandamento do crescimento, como tendia, ela própria, para o que parecia ser cada vez mais um limite, com a hipertrofia da finança a evoluir previsivelmente para crises financeiras mais devastadoras. Uma das imagens favoritas de Harry nos últimos anos era que seriam necessárias cada vez maiores quantidades de dívida para atingir o mesmo nível de crescimento na economia norte-americana. Paul, nos seus últimos anos, afirmou que estava confortável com a morte, mas lamentava não vir a ver como tudo terminaria. Não teria ficado surpreendido com o que, efectivamente, viria a acontecer.

Os editores da MR estavam seguros de que tinham identificado algumas das relações básicas que não eram imediatamente visíveis. Mas não tinham a pretensão (como acontece com as pretensões inflacionadas que muitas vezes caracterizam os intelectuais, tanto à esquerda como à direita) de ter desenvolvido o que seria um novo sistema ou modelo que cobrisse tudo o que era importante. Pelo contrário, Paul em particular insistia que a análise plena desses processos marcantes e interconectados no capitalismo global – financeirização, estagnação do crescimento, concentração das principais indústrias num pequeno punhado de empresas multinacionais, transferência de poder dos conselhos de administração para os banqueiros – teria que ser tomada por pensadores mais jovens que beneficiariam de ver essas contradições a funcionar.

Nestas páginas, aplicámos esta herança intelectual aos acontecimentos que vieram a desenvolver-se na economia global e nos Estados Unidos durante os últimos anos. Pensamos que qualquer observador bem-intencionado concordará que esta perspectiva nos deu – e acreditamos que aos nossos leitores – uma poderosa ferramenta para compreender os acontecimentos e a forma como se desenvolveram. No entanto, do nosso ponto de vista, esta herança nunca foi vista como o fim da linha da construção de um sistema. Pelo contrário, foi sempre um ponto de partida – exigindo para o seu desfecho análise histórica continuada, acção e crítica – de uma tentativa colectiva de mudar o mundo. Se nos referimos frequentemente à tradição da MR, isso serve para dar crédito ao que o merece e a impulsionar com mais eficácia o projecto de transformação social radical.

Não é necessário sublinhar que a análise económica do capital monopolista (ou, como hoje surge, do capital monopolista-financeiro) está no centro mas não esgota o projecto da MR. A revista também é globalmente conhecida pela sua crítica do Império e, mais recentemente, pela sua crítica ecológica. Infelizmente, o espaço não nos permite desenvolver essas outras tendências cruciais aqui. Todos esses problemas centrais estão crescentemente interligados no actual momento histórico, reflectindo o que pode ser visto como uma crise total do sistema.

Além disso, essas contradições do sistema capitalista estão todas profundamente enraizadas nas múltiplas formas de opressão associadas à classe, raça, género, orientação sexual, exploração da natureza e outras divisões fundamentais. Não hesitamos em admitir que a forma exacta como essas variadas formas de opressão se encaixam umas nas outras não é totalmente clara para nós e tem conduzido a muitas discordâncias na esquerda. Mas a realidade é que elas encaixam, que isso se relaciona com o sistema e que a saída depende de se encontrar um terreno comum de resistência. Quanto a isso, não temos dúvidas. Como sempre, a MR está comprometida com a construção do terreno comum para a mudança revolucionária. Não obstante os editores da MR se terem apresentado a si próprios como marxistas, a revista procurou ser um espaço onde outras correntes radicais fossem também bem-vindas: a única condição é promoverem uma crítica, por mínima que seja, do sistema capitalista, do ponto de vista da humanidade (e do planeta) como um todo. Esta visão ampla e não-sectária também caracteriza a Monthly Review Press e, mais recentemente, a MRzine.

Estamos ansiosos por podermos encontrar-nos com todos os que possam juntar-se à nossa celebração do 60.º aniversário em Setembro próximo (divulgaremos oportunamente mais detalhes). Mas também queremos aproveitar a oportunidade para convidar a vasta maioria dos que não possam juntar-se a nós em Nova Iorque nessa ocasião a fazê-lo nas lutas críticas que temos pela frente. Como escreveu Einstein há 60 anos nas páginas da MR, "A clareza acerca dos objectivos e dos problemas do socialismo tem um grande significado na nossa era de transição. Considero que a fundação desta revista é um importante serviço público". Acreditamos que as suas palavras e, em particular, o papel que atribuiu à MR são ainda mais importantes hoje, seis décadas mais tarde, do que eram quando foram escritas.

Estas notas que comemoram o 60.º aniversário da Monthly Review não estariam completas se não comemorassem também um dos nossos mais antigos e queridos assinantes, o nosso amigo Pete Seeger, que celebra agora o seu 90.º aniversário. Satisfaz-nos e orgulha-nos bastante podermos identificar a MR com a todas coisas por que Pete lutou toda a sua vida. Que o seu banjo toque para sempre!

O original encontra-se em http://monthlyreview.org/nfte090501.php

Este editorial encontra-se em http://resistir.info/

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