sexta-feira, 31 de julho de 2009

A.L. - Brasil, Espanha e Chile contra bases dos EUA na Colômbia.

Ao final de reuniões bilaterais realizadas ontem em São Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente do Chile, Michelle Bachelet, convocaram uma reunião do Conselho de Defesa da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) para o dia 10 de agosto, em Quito, a fim de analisar a presença militar dos Estados Unidos em bases da Colômbia. Eles se posicionaram contra a instalação de bases americanas naquele país, tema que tem gerado conflitos entre os presidentes colombiano, Álvaro Uribe, e venezuelano, Hugo Chávez. Por sua vez, a Espanha decidiu unir-se ao Brasil no questionamento a Washington sobre as bases.

A reportagem é de Adauri Antunes Barbosa, Carolina Brígido, Eliane Oliveira e Janaína Figueiredo e publicada pelo jornal O Globo, 31-07-2009.

Em entrevista coletiva concedida ontem, depois do Seminário Empresarial Brasil-Chile, na sede da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Lula disse que não quer se envolver em assuntos do presidente Uribe porque não gostaria que ele desse palpite em assuntos de seu governo.

— A mim não me agrada mais uma base norte-americana na Colômbia, mas como eu não gostaria que Uribe desse palpite nas coisas que faço no Brasil, prefiro não dar palpite sobre as coisas de Uribe. Vamos conversar pessoalmente porque nós temos liberdade e confiança para ter um diálogo livre e aberto — disse ele, que anteontem recebeu um telefonema de Chávez para conversar sobre o tema.

A presidente chilena concordou com a afirmação de Lula:

— Certamente muitos países estão inquietos com essa situação.

Lula também quer reunião com EUA sobre Quarta Frota

Lula disse também que o governo brasileiro terá de se reunir com o presidente dos EUA, Barack Obama, para discutir a questão da Quarta Esquadra americana, reativada no ano passado para atuar nas Américas do Sul e Central. Ele lembrou que já havia feito um pedido ao então presidente George W. Bush para debater o assunto.

— Mandamos uma carta dizendo que nós não víamos com bons olhos a ideia da Quarta Frota porque me parece que a linha territorial dela é quase que em cima do nosso pré-sal — afirmou, observando que a questão deve ser debatida “com muito cuidado” para não gerar conflitos entre países.

Por sua vez, autoridades do governo chavista solicitaram à Organização dos Estados Americanos (OEA) — um dia depois de o secretário-geral, José Miguel Insulza, ter pedido à Venezuela que evite a adoção de medidas drásticas contra a Colômbia — que analise o acordo militar entre Bogotá e Washington.

Caracas também defendeu um debate sobre o possível entendimento no âmbito da Unasul e do Grupo do Rio.

— Se o acordo for assinado, nossa relação (com a Colômbia) nunca mais poderá ser a mesma — declarou o embaixador venezuelano em Bogotá, Gustavo Márquez.

Na visão do governo Chávez, o eventual acordo entre a Colômbia e os EUA é “ofensivo” para a região, sobretudo para os países andinos. Longe de explicar como armas suecas compradas pela Venezuela na década de 80 chegaram às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), segundo denunciou segunda-feira o governo Uribe, as autoridades chavistas insistiram em questionar os entendimentos de Uribe com os EUA.

— (O acordo) Poderia permitir que os EUA utilizassem essas bases (militares) para lutar contra o que eles considerarem terrorismo ou o que eles definem como eixo do mal — afirmou o embaixador chavista.

Apesar do pedido de organizações internacionais e governos estrangeiros, a Venezuela não parece disposta a recuar em sua decisão de congelar o relacionamento político, econômico e comercial com a Colômbia.

O assunto das bases também foi tema de conversas na quartafeira e ontem entre autoridades brasileiras e o chanceler espanhol, Miguel Ángel Moratinos, em visita ao Brasil. Segundo um influente diplomata que participou das discussões, o governo brasileiro está preocupado com as consequências do tratado em regiões próximas à fronteira com o Brasil.

Decisão dos EUA seria surpresa negativa com Obama O Itamaraty já deu instruções aos embaixadores na Colômbia e nos EUA para que consigam o máximo de informações a respeito do acordo. Ontem, ao lado de Moratinos, o chanceler Celso Amorim afirmou que a situação é preocupante.

— A Colômbia explicou que as bases serão administradas por autoridades colombianas.

Mas sempre é algo que desperta alguma preocupação (a presença de bases estrangeiras), porque vivemos num continente pacífico.

A avaliação geral é que o presidente Barack Obama surpreendeu a todos negativamente com o acordo. Isto porque Obama tem defendido a pacificação na região.

A iniciativa Brasil-Espanha, que querem mais informações da Casa Branca sobre o acordo, pode ser ampliada com a inclusão de outros países da região.

— Esperamos evitar uma militarização na América Latina — enfatizou Moratinos.
Fonte:IHU

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