No dia 28 de junho, o presidente de Honduras, Manuel Zelaya, foi destituído do exercício, apenas algumas horas antes da realização de um referendo que deveria autorizá-lo a se apresentar para um segundo mandato. Depois, foi "enviado" para a Costa Rica. Roberto Micheletti, presidente do congresso nacional (o parlamento hondurenho), foi nomeado chefe de Estado interino do parlamento, defensor do "putsch".
A reportagem é de Agnès Noël, publicada na revista Témoignage Chrétien, n° 3357, 16-07-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Oficialmente, essa reviravolta tinha como objetivo preservar a democracia, enquanto Manuel Zelaya era acusado de ter sido contra o parecer negativo da Suprema Corte com relação ao referendo. A comunidade internacional, a ONU e a OEA (Organização dos Estados Americanos) condenaram unanimemente o golpe de Estado.
O que é mais surpreendente nesse episódio é a atitude do clero local. Começando pelo seu mais alto dignitário, o cardeal Oscar Rodriguez Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa, presidente da Conferência Episcopal do país e ex-potencial candidato ao sólio de Pedro.
Em uma declaração feita em nome da Conferência Episcopal no dia 04 de julho, ele apoiou o golpe de Estado, afirmando que os seus organizadores "agiram segundo a lei e a democracia de acordo com a constituição". Ele denunciou a ação "anticonstitucional" do presidente Zelaya, mesmo condenando o modo em que ocorreu a sua expulsão do território nacional. E principalmente pediu ao chefe de Estado que não voltei ao país por enquanto, por medo de "causar um banho de sangue".
Jean-Jacques Kourliandsky, pesquisador do Iris (Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas), especialista em América Latina, comenta: "É uma declaração de defesa muito clara em favor daqueles que fizeram o golpe. Em todas as instituições da cúpula, existe uma rede de pessoas que se conhecem. Pode-se supor que o cardeal tenha relações com eles".
Walter Prysthon, encarregado da América Latina no CCFD (Comitê Católico contra a Fome e pelo Desenvolvimento), atenua, porém, essa opinião: "As vozes que nos chegam de Honduras dizem que se julga muito rapidamente a atitude do cardeal. Para eles, há apenas uma posição prudente. Na sua declaração, ele disse a Zelaya: não volte neste momento. Não lhe disse para não voltar! Em todo caso, é difícil compreender bem a situação do exterior".
O que é certo é que a aproximação de Zelaya e Chávez, com a crescente influência da Venezuela em Honduras, dividiu a sociedade hondurenha, provocando temores na oligarquia no poder e tornando-o popular entre as classes mais pobres. Mas, segundo alguns, a política de Zelaya é próxima do populismo. Uma divisão à qual nem o clero fugiu. Alguns dias antes do golpe, o cardeal havia feito uma declaração para condenar o "chavismo" e os desvios políticos do presidente.
Mas dentro da Igreja nem todas as vozes são unânimes. Dom Luis Alfonso Santos, da diocese de Santa Rosa de Copan, denunciou o golpe de Estado em um comunicado no dia 1º de julho: "Ninguém pode ser preso se não em virtude de um mandato escrito de uma autoridade competente. Se o presidente cometeu alguma coisa de ilícito, ele tem o direito a um processo justo, comparável ao de qualquer cidadão hondurenho e, em geral, de qualquer ser humano".
Ele se manifestou também contra a restrição das liberdades individuais introduzida desde o dia 28 de junho (o toque de recolher foi instaurado por duas semanas) e acusa os organizadores do golpe de Estado de serem "fiéis aos grupos econômicos (...) nacionais e transnacionais".
Por sua parte, a rádio jesuíta Progresso, contrária ao novo poder, foi censurada e depois fechada, e as suas instalações foram saqueadas. Segundo as últimas notícias, o velho e o novo presidente teriam aceitado dialogar, sem se comprometerem a negociar, na presença de um mediador, o presidente da Costa Rica, Oscar Arias. Escolha que o cardeal Maradiaga aprovou, considerando que "parece ser esse o melhor caminho para encontrar uma solução para a crise".
Fonte:IHU
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