Argemiro Ferreira,
Blog do Argemiro Ferreira.
A revista semanal do New York Times sai aos domingos, mas uma das reportagens de destaque do próximo número já está na edição online do jornal (leia AQUI). Oferece perfil elaborado de uma das pessoas que exercem mais influência sobre o presidente Barack Obama. Atualmente ela ocupa na Casa Branca o espaço na ala Oeste que foi de Karl Rove, estrategista das campanhas de 2000 e 2004, chamado no título de uma biografia de “o cérebro de George W. Bush”.
Um pouco mais nova do que Obama, advogada como ele, mulher de negócios, ex-executiva da Bolsa de Chicago, Valerie Jarrett era presença constante a assessorá-lo durante a campanha presidencial (na foto ao lado ela acompanha uma entrevista dele). Agora tem um título semelhante ao de Rove, alta assessora e assistente presidencial para assuntos intergovernamentais e compromissos públicos. Ou, trocando em miúdos: ela é uma intermediária entre Obama e o mundo exterior.
O texto de 8.000 palavras, assinado por Robert Draper no Times está repleto de pequenas histórias e testemunhos que atestam o atual poder de Jarrett. Desde o início da campanha ela tem funcionado como ponte para tornar realidade alguns eventos e feitos considerados improváveis – ou mesmo impossíveis. Na campanha chegou a ser hostilizada algumas vezes por outros, como se fosse um complicador em certas situações.
A conselheira que funciona como ponte
Circulam rumores sobre problemas gerados pela atividade dela, tanto durante a campanha, quando seu papel não estava definido e podia ser imprevisível, como hoje, quando se tornou claro e institucional. O problema pode resultar, pelo menos em parte, do relacionamento muito próximo de Jarrett com o presidente e também com com a primeira dama Michelle Obama.
Mas um episódio contado por Draper parece especialmente significativo. Foi uma reunião em julho de 2007, na casa de Jarrett em Chicago. A campanha não parecia decolar nas pesquisas. Dizia-se que a ênfase nas primárias iniciais, em especial em Iowa, distanciava o candidato de um enfoque nacional. Além disso, havia a queixa dos negros contra o abandono das questões afro-americanas.
A bilionária Penny Pritzker, que presidia o comitê de finanças, disse então que o candidato precisava ter um conselheiro inteligente, capaz e realmente muito próximo dele, para ser uma espécie de ponte. E recomendou o nome da própria dona da casa, Jarrett (foto ao lado), como “a solução perfeita”. No resto da campanha, de fato, ela desempenhou esse papel com sucesso, apesar de trombadas eventuais com os estrategistas, com responsabilidades mais concretas no dia-a-dia da campanha.
Uma poderosa força oculta
Gente poderosa – como Rahm Emanuel, chefe de gabinete, hoje onipresente na Casa Branca; David Axelrod, estrategista que definia as questões críticas no esforço eleitoral, com ação extremamente delicada; e David Plouffe, que administrava a campanha de Obama – teve dificuldades com ela. Eventualmente, ainda tem. Mas em geral eles reconhecem a relevância do trabalho que ela desenvolveu antes e do papel que desempenha agora na Casa Branca, dada a sua amizade estreita com o casal Obama.
Dificilmente ela já não tenha vivido tais situações no passado, já que passou quase uma década (até 1995) como autoridade municipal da cidade de Chicago – como sub-chefe de gabinete do prefeito Richard M. Daley, depois integrante da comissão de planejamento e em seguida presidente da Autoridade do Trânsido (saiba mais sobre ela AQUI e AQUI). Ao sair, tornou-se executiva-chefe (CEO) da Habitat Company, cargo que só deixou para integrar o governo Obama.
Iraniana de nascimento, ela tem – como o presidente – uma história singular de sucesso para os padrões afro-americanos. Quando Obama ainda era um estranho entre os afro-americanos de Chicago, ela já tinha status de nobreza naquela comunidade negra. Primeiro conheceu Michelle, que se candidatava a um cargo sob a supervisão de Jarrett no gabinete do prefeito. Desde então tem sido um anjo da guarda para os dois.
Os Daley e a má fama de Chicago e Illinois
Formada em Stanford e na Escola de Direito da Universidade de Michigan, Jarrett fez na prática o curso de política numa cidade corrompida pelos gangsters no tempo da lei seca e, mais tarde, celebrizada pelos hábitos duvidosos do boss Richard J. Daley (foto ao lado), último dos lendários chefões políticos (mais sobre ele AQUI). Em 1960 ele garantiu os votos (possivelmente fraudulentos) para eleger John Kennedy e em 1968, como prefeito, ordenou a repressão dos protestos de rua na mais tumultuada convenção democrata da história.
O prefeito a quem Jarrett serviu é filho daquele outro Daley, que morreu em 1976. Embora os tempos sejam outros, alguma coisa permanece, como ficou claro no episódio este ano da queda do governador Rod Blagojevich – no qual Obama, seu chefe de gabinete Rahm Emanuel e a própria Jarrett foram ouvidos pelos investigadores do FBI sobre a tentativa de venda da cadeira que o atual presidente tinha ocupado.
Mas os antecedentes dela têm ainda outra vertente sugestiva. O bisavô de Jarrett foi o primeiro negro a se formar no M.I.T., o avô foi o primeiro a dirigir a Autoridade Habitacional de Chicago e o pai foi o primeiro médico negro a fazer residência no St. Luke’s Hospital. E mais. Ainda que ela não tenha trabalhado antes em Washington, foi precedida pela celebridade do tio-avô Vernon Jordan, insider respeitado e ex-colaborador próximo do presidente Clinton (que o encarregou, entre outras coisas, de encontrar um emprego para a ex-estagiária Monica Lewinsky).
Fonte:Blog do Argemiro.
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