Com um em cada cinco membros da Geração Y incapaz de encontrar trabalho, uma nova "geração perdida" pode estar sendo forjada na Europa. Os governantes temem que o desemprego de longo prazo possa reduzir as futuras perspectivas dessa geração no mercado de trabalho.
A reportagem é de Mark Scott, publicado pelo Der Spiegel, 25-07-2009. A tradução é do sítio Uol – Notícias internacionais.
Teoricamente, Jerome Delorme parece ser um cobiçado candidato a um emprego. O rapaz de 23 anos tem mestrado em Estudos Europeus pela prestigiada Universidade de Ciências Políticas de Grenoble - algo que no passado já foi uma garantia de ingresso em uma companhia de ponta, mesmo em épocas difíceis.
E ele passou um ano estudando em Dublin, fala inglês fluentemente, e já fez vários estágios notáveis. Mas após passar três meses procurando um emprego, Delorme só conseguiu um outro estágio, em uma organização sem fins lucrativos. "A crise fez com que conseguir um novo emprego ficasse muito difícil", diz Delorme, que é nativo da cidade de Valence, no sul da França.
Nos dias de hoje Delorme é o típico europeu da Geração Y. A maioria dos seus amigos também está gastando as solas dos sapatos em busca de emprego - assim como cerca de cinco milhões de outros europeus, ou aproximadamente 20% da população com menos de 25 anos de idade, segundo estimativas da União Europeia. Este número é quase um terço superior ao de um ano atrás, e está bem acima do índice de desemprego de 8,9% da União Europeia como um todo. Em alguns países a situação é bem pior. Quase 37% dos espanhóis da Geração Y não conseguem encontrar trabalho. Na França, este número está em 24%, comparado aos 17% registrados nos Estados Unidos.
Os governantes temem que o desemprego prolongado prejudique a capacidade de uma geração inteira de competir no mercado de trabalho. Quando a economia finalmente recuperar-se, muitos desses jovens terão mais de 25 anos de idade, e rivais mais novos estarão nos seus calcanhares em busca de emprego. O maior temor é o de que a Geração Y da Europa tenha o mesmo destino que a Geração Perdida do Japão - jovens que chegaram à idade de trabalho durante os recessivos anos noventa, e que não tiveram as qualificações para conseguir emprego mesmo depois que a economia começou a recuperar-se.
Planos governamentais
Se isso acontecer, o continente terá dificuldades para lidar com uma grande quantidade de jovens desempregados. Protestos violentos contra as sombrias perspectivas de trabalho ocorridos neste ano na Europa Oriental fizeram com que os políticos ficassem bastante cientes dos problemas sociais que se acumulam. "A maior parte dos países está rumando na direção correta, mas ainda existe o risco de que o desemprego persista por vários anos", afirma Stefano Scarpetta, diretor de análise de desemprego da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em Paris.
Os governos estão gastando bilhões de euros para manter os jovens ocupados por meio de bolsas universitárias e cursos vocacionais até que a economia recupere-se. Em 29 de junho, o primeiro-ministro britânico Gordon Brown anunciou um plano de US$ 1,6 bilhão (1,1 bilhão de euros, R$ 3 bilhões) para a criação de 100 mil empregos para os jovens, com uma ênfase especial na ajuda àqueles que estão sem trabalho há mais de um ano.
E, em 24 de abril, o presidente francês Nicolas Sarkozy anunciou um plano de US$ 1,9 bilhão para encontrar emprego para 500 mil jovens até junho de 2010. Isso inclui verbas de companhias que empregam os membros da Geração Y e um aumento de 12% na quantidade de novos estágios financiados pelo governo para a formação de bombeiros hidráulicos, carpinteiros e profissionais de outras áreas.
Algumas pessoas questionam até que ponto esses programas serão úteis, ao se levar em conta a gravidade da crise econômica. "Os governos veem-se pressionados para encontrar emprego para os jovens, mas não vejo como isso acontecerá no curto prazo", diz Giorgio S. Questa, professor da Escola Cass de Negócios da City University, em Londres.
Enquanto isso, grupos empresariais advertem que os novos estágios poderão retirar empregos dos trabalhadores mais velhos bem como mostrar-se insustentáveis caso acabem as verbas governamentais. Neil Carberry, diretor de políticas de emprego da Confederação da Indústria Britânica, diz que programas similares na década de oitenta fracassaram porque limitaram-se a manter os jovens ocupados, sem dar a eles qualificações suficientes para que arrumassem empregos mais interessantes quando a economia se recuperasse. "Pessoas cavando buracos e pintando paredes simplesmente não agregam valor", diz ele.
Retrocesso na Espanha
Sistemas generosos de bem-estar social aliviam um pouco a situação da Geração Y europeia. Com um sistema de saúde financiado pelo Estado e amplos benefícios para os desempregados, os europeus têm menos preocupações do que os desempregados de pouco mais de 20 anos de idade nos Estados Unidos. E os jovens europeus têm uma maior probabilidade do que os jovens norte-americanos de morarem na casa dos pais, de forma que para eles é mais fácil sobreviver enquanto procuram um emprego. Na Espanha, por exemplo, mais da metade dos indivíduos com menos de 30 anos de idade ainda mora na casa dos pais.
Mas isso pouco contribuiu para aliviar o sofrimento com a crise para muitos espanhóis. Quando as indústrias da construção civil e imobiliária do país estavam prosperando, os jovens de menos de 25 anos abriram mão da faculdade para irem direto para o mercado de trabalho, beneficiando-se da situação favorável alimentada pelo crédito. Entretanto, a partir de 2007 a economia implodiu, e poderá sofrer uma contração de 3,2% neste ano.
Muitos jovens tinham contratos de curto prazo, de forma que foram os primeiros a serem despedidos quando a conjuntura ficou difícil. E, como abriram mão da educação para trabalhar, eles muitas vezes carecem de qualificações como o domínio de idiomas estrangeiros, conhecimentos no setor de tecnologia da informação e matemática avançada. Todas essas qualificações são muito procuradas pelos patrões. Carlos Serrano, um engenheiro eletrônico de 25 anos de idade do norte da Espanha que está procurando emprego há um ano, sem conseguir nada, afirma: "A crise pegou os recém-formados no pior momento possível".
Fonte:IHU
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