Por Leticia Nunes (edição e tradução) em 28/7/2009
Barack Obama bateu Hillary Clinton na disputa da candidatura presidencial pelo Partido Democrata, bateu o republicano John McCain na eleição de novembro passado, tomou posse em janeiro e tornou-se o primeiro presidente negro dos EUA. Nas últimas semanas, especulações sobre sua nacionalidade – surgidas há pelo menos um ano – ganharam espaço na mídia americana.
A teoria da conspiração dá conta de que Obama não teria nascido no Havaí, e sim no Quênia, país onde nasceu seu pai. Quando este boato surgiu entre a direita, a campanha de Obama respondeu apresentando a certidão de nascimento do então candidato, documento do departamento de saúde do Havaí que confirma o nascimento em Honolulu em agosto de 1961. A certidão foi examinada por organizações independentes, que dizem que ela é real e "preenche todos os requisitos do Departamento de Estado para a cidadania americana".
Provas
Ainda assim, a história voltou a ganhar destaque. Na semana passada, o popular apresentador de rádio Rush Limbaugh afirmou aos ouvintes que o presidente "ainda tem que provar que é cidadão americano". O apresentador Lou Dobbs, da CNN, declarou que Obama deveria ser mais incisivo ao refutar a alegação de que não teria a cidadania. Larry King, também na CNN, questionou os participantes de seu programa de entrevistas sobre o assunto. A NBC News chegou a fazer uma reportagem sobre o tema. Na MSNBC, por outro lado, apresentadores como Chris Matthews e Rachel Maddow fizeram piada com a controvérsia.
Curiosamente, há uma referência ao nascimento de Obama na seção de "Nascimentos, Casamentos, Mortes" da edição de 13 de agosto de 1961 do jornal Honolulu Advertiser. Ainda assim, um pequeno grupo de ativistas não se convence de que o presidente é americano, alegando que se trata de um estrangeiro que consegue enganar suas origens há quase cinco décadas.
Apesar de circular na internet e em programas de rádio de direita há pelo menos um ano, só agora a história parece ter chamado a atenção da grande mídia. O advogado Philip J. Berg, que já questionou a cidadania de Obama – sem sucesso – em diversos processos, comemora o aumento da cobertura. Ele diz que, se pudesse, abriria uma ação contra os grandes veículos de comunicação dos EUA, "porque a mídia fez uma grande injustiça ao não cobrir Obama" de maneira apropriada.
Racismo
A polêmica parece ter se intensificado por conta de um projeto de lei que obrigaria candidatos à presidência a apresentar a cópia de sua certidão de nascimento original e por causa de um vídeo postado no YouTube que mostra o deputado republicano Mike Castle em um encontro com eleitores sendo questionado por uma mulher sobre a cidadania de Obama. "Ele não é um cidadão americano, é um cidadão do Quênia", afirma a mulher, aplaudida pelo público. O deputado é vaiado quando tenta dizer que o presidente é, de fato, americano.
Phil Griffin, presidente da MSNBC, classifica a teoria de que Obama seria queniano de "racista". Mas a cobertura do assunto, ressalta, é compreensível, já que há "uma parte da população que acredita nisso e fica trazendo o assunto à tona". Em alguns casos, entretanto, a cobertura virou obsessão. Lou Dobbs debate o assunto há pelo menos duas semanas na TV e no rádio, e já foi acusado pela ONG Media Matters de "legitimar teorias da conspiração sem fundamento". Dobbs diz acreditar que Obama é cidadão americano, mas parece gostar da polêmica.
Quem não tem gostado nada dela é o presidente da CNN nos EUA, Jon Klein, que, em e-mail para os produtores do programa de Dobbs, escreveu que "parece que esta história morreu – porque quem ainda não está convencido [da cidadania do presidente] não tem nada legítimo para provar o contrário". Questionado sobre a mensagem, Klein amenizou o tom, dizendo que não se trata de uma ordem para que Dobbs encerre o assunto. Ele ainda defendeu o apresentador, afirmando que o que ele faz é "buscar a verdade sobre temas controversos". Informações de Brian Stelter [The New York Times, 24/7/09].
Fonte:Observatório da Imprensa.
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