O ex-juiz chileno Luis Correa Bulo confirmou que uma ministra de Pinochet o pressionou em 1982 para evitar o envio de Sebastián Piñera, então gerente do Banco de Talca, à prisão.
A reportagem é do jornal Pagina/12, 27-07-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O candidato da direita chilena esteve com problemas... mas a ditadura o salvou. Um ex-juiz chileno confirmou que uma ministra de Pinochet o pressionou, em 1982, para evitar que enviasse o empresário Sebastián Piñera – hoje candidato da coligação Alianza por Chile – à prisão pela quebra de um banco. Piñera alegou sua inocência e indicou seu rival do situacionista Concertación, Eduardo Frei, insistindo em que se trata de uma "campanha suja".
Em declarações publicadas neste domingo pelo jornal La Nación de Santiago, o ex-magistrado Luis Correa Bulo confirmou que Mónica Madariaga, ministra da Justiça de Pinochet, ligou para ele para lhe pedir que não prendesse Piñera, então gerente do falido Banco de Talca e irmão do ministro do Trabalho daquela época, José Piñera. O caso havia sido denunciado semanas atrás pela própria Madariaga e, tanto então como neste domingo, o candidato a desmentiu.
Piñera indicou que a exigência de Frei de esclarecer os acontecimentos que o envolvem quando era gerente do banco "não tem qualquer validade, já que foi ele mesmo (Frei) que depois designou Carlos Massad como ministro da Saúde e presidente do Banco Central". Massad havia atuado como presidente do Banco de Talca durante o episódio em que o próprio candidato da Concertación foi chamado a "transparecer".
Nessa linha, o candidato repartiu dardos: "Não acho boa essa campanha suja que Frei começou, das mãos de uma ministra do governo militar e de um juiz que foi destituído do Poder Judicial pelos seus próprios pares."
O ex-juiz Correa Bulo foi peça chave no fim da década de 90 – como presidente da Sala Penal do Supremo Tribunal – para reabrir todas as investigações de violações dos direitos humanos.
Neste contexto, ele teve que enfrentar uma acusação constitucional, que foi rejeitada na Câmara dos Deputados, e encargos por irregularidades na Corte Suprema que foram levantados em uma instância pela Comissão de Ética.
Foi afastado do Poder Judicial em 2001, depois que o pleno do Supremo Tribunal estimou que ele havia tido reiteradas condutas em contradição com a ética (suposto tráfico de influências). Tudo foi analisado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Piñera é candidato a presidente por uma coligação de direita opositora ao governo da Concertación. O empresário, acionista da LanChile, possui uma fortuna estimada em 1,3 bilhão de dólares e, junto com os empresário Anacleto Angelini e Eleodoro Matte, compartilham de um privilegiado posto entre os mais ricos do mundo, segundo um ranking elaborado pela revista Forbes em 2007.
O governo lhe pede que informe a a origem de sua fortuna e, diante da falência do Banco de Talca, o cristão-democrata Juan Carlos Latorre ressaltou que este episódio deveu-se ao fato de que Piñera "construiu uma sociedade papel", fazendo empréstimos a empresas que, finalmente, não pagaram suas dívidas ao banco.
O candidato milionário lidera as pesquisas de intenção de voto para as eleições de dezembro. A última sondagem conhecida, publicada neste domingo pelo jornal La Tercera, atribuiu, para o primeiro turno, 30% das intenções de voto para Piñera; 25% para o situacionista Eduardo Frei (que já foi presidente entre 1994 e 2000); e 21% ao situacionista dissidente Marco Enríquez Ominami.
Com relação à última pesquisa semelhante, realizada em abril, Piñera perdeu cinco pontos percentuais, e Frei, três, enquanto Enríquez Ominami ganhou 11 pontos. Para o eventual segundo turno, que será realizado em janeiro, Piñera derrota Frei por 46% a 22%, e derrota também Enríquez Ominami por 49% a 22%. No entanto, o candidato conservador é quem reúne a maior porcentagem de respostas afirmativas à pergunta se "sob nenhuma circunstância" iriam votar nele, com 41%.
A Concertación, cujos principais integrantes são os partidos Democrata-Cristão – ao qual Frei pertence – e Socialista – do qual a presidenta, Michelle Bachelet, faz parte –, governa ininterruptamente desde 1990, quando o Chile recuperou a democracia após a ditadura militar liderada por Pinochet desde 1973.
Fonte:IHU
Nenhum comentário:
Postar um comentário