quarta-feira, 9 de setembro de 2009

AO CÉU NÃO SE CHEGA DE CADILAC.

A poucos dias do término do seu mandato como presidente da Organização das Nações Unidas (ONU), o sacerdote nigaraguense Miguel D’Escoto Brockmann, em visita a Cuba, disse, em entrevista ao diário Juventude Rebelde que “não se pode ir ao céu de Cadilac”.

A notícia é de José Aurelio Paz e publicada pela Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação -ALC, 08-09-2009.

Em entrevista à repórter Marina Menéndez Quintero, D’ Escoto recorreu a aquela expressão popular para afirmar que não se atinge metas sem lutas. Ele admitiu que será difícil concretizar o sonho de Bolívar de integrar a América Latina, porque “o caminho tem muitos percalços”.

O sacerdote nicaragüense destacou que o império (norte-americano) não será mais o mesmo depois da crise. Ele “terá os mesmos desejos e sonhos de dominação planetária”, mas não se atreverá na medida em que países periféricos se unirem, como é o caso da América Latina.

Um dos sinais desta nova realidade é a presença de países emergentes,como a Índia, a China, a Rússia e o Brasil no desenvolvimento econômico. “O mundo é outro. E daqui a dez anos a multipolaridade estará bem mais desenvolvida”, disse.

Sobre sua atuação como presidente da ONU, D’Escoto declarou que estava contente, mas não satisfeito com os resultados alcançados, embora admitisse que em nenhum outro momento se avançou tanto na defesa dos interesses dos mais débeis.

“Sempre queremos mais e não bastam declarações e resoluções. É preciso agir para a erradicação da pobreza, que não é somente algo inaceitável, mas é inescusável”, frisou. D’Escoto defendeu a Assembleia Geral da ONU como “o lugar adequado para discutir tudo o que esteja relacionado à
nova arquitetura financeira e econômica internacional”.

Também defendeu o governo da Frente Sandinista de Libertação Nacional na Nicarágua. O sacerdote católico criticou a oposição no país e comparou a guerra midiática que o governo de Daniel Ortega enfrenta nos dias de hoje à revolução dos anos 80 do século passado.

Apesar de ser um país pobre, o governo nicaragüense promove programas como Fome Zero, Usura Zero, Ruas para o Povo. “A gente sente as mudanças”, assinalou. “Creio que vamos bem. Daniel está tão comprometido como sempre. Ele é o maior estadista e dirigente político que a Nicarágua já teve em toda a sua história”, agregou.

Os mesmos motivos que o levaram ao Palácio de Cristal da sede da ONU – o compromisso com a causa dos excluídos – o conduziram ao ministério sacerdotal. “Essa é a parte essencial da minha razão de ser como sacerdote e como militante sandinista”, confessou. Assim que retornar à Nicarágua, ele será “um soldado sandinista sob as ordens do nosso comandante.”

Miguel d’ Escoto nasceu em Los Angeles, em 5 de fevereiro de 1933. Estadista, político, dirigente comunitário e sacerdote, foi ministro de Relações Exteriores da República da Nicarágua por mais de dez anos.

Nesse período, desempenhou papel fundamental nos processos de paz de Contadora e Esquipulas, que colocaram um ponto final nos conflitos armados internos da América Central na década de 80.

Ordenado sacerdote dos Missionários Maryknoll no início dos anos 60 do século passado, muito cedo o padre d’Escoto destacou-se por seus grandes dotes oratórios, de mediação e diplomacia, estabelecendo, em 1973, depois do terremoto de Manágua, a Fundação Nicaragüense pró Desenvolvimento Comunitário Integral (FUNDECI), uma das mais reconhecidas organizações não-governamentais do país.
Fonte:IHU

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