Gabeira pede desobediência à lei que ele próprio endossou na Câmara.
Piero Locatelli
Do UOL Notícias
Em Brasília
Atualizado às 18h23
O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) estava presente na reunião em que foram votadas as restrições para a internet na campanha eleitoral. Na sessão, o deputado não se opôs ao projeto.
Restrição na web
O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) desafia os relatores do texto, Marco Maciel (DEM-PE) e Eduardo Azeredo (PSDB-MG), a "controlarem a internet em seus gabinetes", o que "daria uma boa comédia". Os senadores se declararam favoráveis à imposição do uso da internet na eleição do ano que vem, mas agora recuam diante do bombardeio dos colegas.
Agora, o deputado conclama o povo a desobedecer as regras com as quais ele foi condescendente na Câmara dos Deputados.
Gabeira postou o seguinte comentário em seu microblog Twitter nesta quinta-feira (3): "Vamos brigar feio pela liberdade na internet nas eleições. Na derrota, o caminho é a orientação de Thoreau para leis estúpidas: desobedeça."
Apesar de chamar as pessoas para a "briga feia", Gabeira não se opôs formalmente ao projeto na sessão extraordinária realizada às 13h30 do dia 8 de julho de 2009 no plenário da Câmara dos Deputados. Lá, as restrições à internet foram referendadas sem objeções pelos congressistas.
O UOL Notícias não encontrou registros de emendas ou discursos de Gabeira para evitar as novas regras. O deputado também não pediu o registro nominal dos votos, para que fossem contabilizados aqueles que não concordavam com a proposta.
Gabeira disse ao UOL Notícias que só se lembra de ter falado da restrição de outdoores na sessão.
"Eu era contra [as restrições na internet], mas não havia correlações de forças para isso," disse o deputado. "Eu nunca me preocupei porque essa lei não vai pegar", justificou.
Por volta das 18h desta quinta, Gabeira voltou ao Twitter, desta vez, para reclamar da cobertura do UOL Notícias. "UOL conta a história pela metade. Comuniquei aos líderes que era pela liberdade na internet", escreveu o deputado. E continuou: "Visitei o Ministro Ayres Brito e afirmei minha posição".
O senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), co-relator do projeto de reforma eleitoral no Congresso, criticou Gabeira. "Eu respeito o Gabeira, mas lamento o posicionamento oportunista dele. O texto que ele está criticando foi votado por ele, ele deveria prestar mais atenção no que faz", afirmou o tucano.
O projeto de reforma eleitoral aguarda votação no plenário do Senado Federal. A proposta original restringe blogs, sites e portais na internet de emitirem opinião favorável a um candidato.
Apesar de estarem presentes na pauta há meses, as restrições à internet só sofreram oposição por congressistas nesta quarta-feira (3). Os senadores Arthur Virgilio (PSDB-AM) e Aloizio Mercadante (PT-SP), líderes dos seus partidos no Senado, mostraram-se favoráveis à liberdade na internet.
A proposta ainda deve retornar ao plenário da Câmara dos Deputados. Para ter validade, deve ser sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Se não for aprovada até o dia 3 de outubro, ela não terá validade nas eleições de 2010.
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