Luis Nassif
Quando o mercado fechou ontem, primeiro dia após o anúncio da demissão de Mário Torós do cargo de Diretor de Política Monetária do Banco Central, os juros futuros tinham caído. De ontem para hoje, o DI (Depósito Interbancário) de janeiro de 2011 caiu de 10,27% ao ano para 10,20% ao ano. O DI de julho de 2010, de 9,14% para 9,10% ao ano.
Qual a lógica? De acordo com a retórica terrorista do mercado, se sai um diretor ortodoxo e há sinais de afrouxamento da política monetária, os juros podem cair no curto prazo, mas deveriam subir no longo - porque, pela leitura do mercado, o afrouxamento da política monetária produziria mais inflação obrigando, mais à frente, a outro movimento de alta nas taxas.
Nada disso ocorreu. Pelo contrário, o mercado sequer reagiu à declaração do Ministro da Fazenda Guido Mantega, de que a taxa ideal para o dólar é em R$ 2,60. Nesse nível, declarou Mantega, não tem China, Coréia ou Japão que segure o Brasil.
O significado desse jogo é que começa a cair o último grande mito da economia brasileira, que é a taxa de câmbio baixa.
Vamos entender um pouco melhor o modelo armado em torno do sistema de metas inflacionárias do Banco Central.
Por esse sistema, o BC procede a pesquisas permanentes sobre as expectativas da economia em relação à inflação. Desde que mudou a composição do Copom (Comitê de Política Monetária), na partida do Real, o universo pesquisado é exclusivamente das instituições financeiras.
O BC tem seu próprio Departamento de Pesquisas, que permite a montagem de cenários. E tem um segundo departamento, especificamente para trabalhar em cima das metas inflacionárias.
É nessa segunda área que se dá o jogo de expectativas viciadas com o mercado. Cada Departamento Econômico não procura acertar a inflação, mas acertar qual a inflação que o BC está esperando.
Torna-se, portanto, extremamente fácil manipular as expectativas para justificar taxas de juros elevadas. Recorre-se a argumentos de toda ordem - para uma boa lista, basta consultar os artigos do professor Afonso Celso Pastore, o campeão dos “juristas” (aqueles que defendem juros altos para curar qualquer doença, de lumbago à perda de rentabilidade do sistema).
Suponha que a inflação estivesse sob absoluto controle. Levanta-se o mito do PIB potencial - consagrado por Pérsio Arida depois que abandonou o estudo da economia. Consistia em modelos matemáticos nunca explicitados, mas que permitiam ao economista garantir que, se a economia crescesse acima de determinado percentual, haveria inflação. Bastava um crescimento moderado, para o BC aumentar os juros.
Depois, o mito da capacidade instalada. Bastava haver certo nível de ocupação da capacidade instalada - passo necessário para deflagrar processos de investimento - para se abortar o crescimento com alta de juros.
Um a um foram caindo os mitos. Persistiu a idéia de que com real desvalorizado seria impossível segurar a inflação - mito, aliás, que já havia sido desmentido em duas ocasiões, nas desvalorizações de 1999 e 2003.
Agora é o próprio mercado que derruba o mito, reagindo com queda de juros à saída de Torós e à fala de Mantega.
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