domingo, 29 de novembro de 2009

PRÉ-ESTRÉIA DO FILME "LULA, O FILHO DO BRASIL".

Ricardo Kotscho

Os convidados eram tantos que os Barreto tiveram que fretar dois ônibus para levá-los à pré-estréia de “Lula, o Filho do Brasil”, nos estúdios da Vera Cruz, em São Bernardo do Campo, na região do ABC, onde o filme termina quando morre a mãe do protagonista, dona Lindu, em 1980.

O encontro para a excursão foi marcado para as quatro da tarde _ a projeção estava marcada para as oito da noite _ no apartamento de Bruno, irmão do diretor Fábio Barreto. Entre as pessoas que foram chegando, encontrei os artistas do filme, patrocinadores, empresários, os publicitários Washington Olivetto e Nizan Guanaes, e o pessoal de cinema, incluindo minha filha Carolina e seu marido Bráulio Mantovani, roteiristas que já fizeram ou estão fazendo trabalhos para a família Barreto.

No comando de tudo, Paula Barreto, a onipresente irmã dos diretores, responsável pela produção de seus filmes. Agitado como sempre, Luiz Carlos Barreto, o pai de todos, circulava de rodinha em rodinha. Para saber o que eu achava, veio me mostrar o discurso de apenas uma página que leria à noite antes da apresentação do filme.

Pouco depois das cinco, entramos todos nos ônibus e, apesar de ser um sábado, levamos uma hora e meia para chegar a São Bernardo do Campo. Até gostei da demora porque deu para ouvir histórias engraçadas e dar boas risadas com gente que você não cruza nas esquinas todo dia.

Apesar de toda a polêmica causada pelo filme, que só estréia nos cinemas no começo de janeiro, não ouvi ninguém discutindo os possíveis desdobramentos políticos que a exibição de “Lula, o Filho do Brasil” poderá provocar nos rumos da eleição presidencial de 2010.

Glória Pires, que faz o papel de dona Lindu, gastava seu francês castiço no celular falando com alguém em Paris, onde a família mora atualmente e onde ficaram os seus filhos com Orlando Morais, o compositor boa praça que eu não conhecia pessoalmente.

Washington Olivetto, como de hábito, só falava do seu Corinthians _ ele lança nesta segunda-feira à noite, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, mais um livro que tem por tema sua grande paixão _ e sacaneava os torcedores de outros times.

Atrás dele, feliz da vida com o resultado que já tinha visto nas telas, estava a jornalista e pesquisadora Denise Paraná, autora do livro que deu origem ao filme do mesmo nome. Em 1989, ano da primeira eleição presidencial pós-ditadura, quando nos conhecemos, e ela começou a fazer as primeiras entrevistas para o livro, nenhum de nós poderia imaginar que vinte anos depois seríamos convidados a assistir ao filme que conta a história do Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva.

Por uma ou outra razão, os convidados que chegaram à Vera Cruz nos dois ônibus pareciam todos alegres colegiais premiados com uma viagem à Disneylândia. Entramos todos em fila indiana e no caminho encontramos outros dois convidados, Carlos e Dirce Mantovani, pais de Bráulio, que moram ali perto. Carlos, metalúrgico aposentado da Mercedes, até levou sua carteira do sindicato para mostrar a Lula.

Um dos monumentais estúdios da Vera Cruz foi transformado em sala de exibição e o outro serviu de sala de espera para os mais de dois mil convidados, recebidos com pipoca, salgadinhos e refrigerantes sem gelo. Ali encontrei dezenas de personagens das minhas matérias sobre as greves dos metalúrgicos no final dos anos 1970 e levei um tempão para chegar até a área reservada aos convidados da produção, sempre com medo de me perder da minha mulher, a Mara, e da Paula Barreto, a severa chefe da excursão.

“Acho que o Brasil é o país que tem mais vips no mundo”, brincou Olivetto ao encontrar meio mundo na área reservada. Eram ministros, senadores e deputados, grandes empresários, líderes sindicais da ativa e aposentados, artistas famosos _ uma seleta amostra do saco de gatos da grande aliança promovida por Lula nos seus dois governos.

Veio também boa parte da família Silva, irmãos, filhos, netos e sobrinhos de Lula, todos orgulhosos de estar ali. O mais paparicado como sempre era Frei Chico, como é conhecido o careca José Ferreira da Silva, um dos irmãos mais velhos do presidente, responsável por sua entrada na vida sindical.

O presidente Lula e Marisa chegaram logo depois da ministra Dilma Roussef, pouco depois das oito da noite, para alívio dos convidados que começaram a chegar à Vera Cruz por volta das três da tarde. Mas, antes do filme começar, ainda teve sessão de fotos de Lula e Marisa com os atores, vários discursos e um vídeo sobre a história da Vera Cruz e seus ousados planos para o futuro.

O diretor Fábio Barreto se emocionou ao dedicar o filme a dona Lindu e arrancou as primeiras lágrimas de Lula, que passou o resto do filme chorando discretamente. Como já conhecia a história da família Silva, que o presidente gosta sempre de repetir aos amigos, e testemunhei a parte final do filme, a partir de 1978, foi como se estivesse assistindo à noite ao vídeo-tape de um jogo de futebol que já tinha assistido no estádio à tarde.

Não se trata de um documentário, evidentemente, a exemplo dos que Silvio Tendler, por exemplo, produziu sobre Jango e JK, e agora está fazendo sobre Tancredo Neves. Nem concordo que o filme de Barreto seja este melodrama todo, um filme hagiográfico, como andaram falando.

Mesmo sem ser crítico de cinema, achei que é apenas um filme muito bem feito, baseado na vida de um personagem improvável e sua saga familiar, na medida do possível fiel ao livro e aos fatos. Mas é apenas cinema, um espetáculo de entretenimento, que recomendo aos meus leitores.

Para os mais jovens, é uma boa oportunidade de conhecer os principais fatos políticos do período e saber como se formou a personalidade de Lula, que o levou a comprar muitas brigas, a criar o PT e a CUT, sem nunca deixar de negociar e compor, até chegar à Presidência da República, depois de três derrotas. Parece que ele seguiu à risca, o conselho tantas vezes repetido por dona Lindú: “Teime!”.

Lula se emocionou tanto ao ver nas telas a sua própria história e a da sua família, que não atendeu ao pedido dos assessores para falar com a imprensa. Recolheu-se a uma pequena sala, onde estavam sua família e uns poucos amigos, e ainda passou algum tempo conversando com Barretão e Barretinho, que lhe falou dos problemas com a equalização do som no início da projeção.

Quase meia noite do sábado, os ônibus já tinham ido embora, mas conseguimos pegar uma carona na van providenciada por Paula Barreto para levar de volta os retardatários. Foi uma excursão bem divertida.

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