segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O NEGRO E O ANALFABETO.

Eliakim Araujo

Paralelamente à votação da reforma do sistema de saúde norte-americano, estava em jogo o próprio futuro do governo do presidente Barack Obama, seriamente abalado pelas recentes vitórias republicanas para o governo de dois estados onde o democrata venceu há exatamente um ano: Virginia e Nova Jersey.

Embora a Casa Branca tente argumentar que naquelas eleições o governo federal não estava sendo julgado e atribuir a derrota aos independentes por terem abandonado o barco democrata, a verdade é que a perda nos dois estados deixou preocupada a equipe política do presidente.

Daí a importância da votação deste sábado. Os parlamentares governistas, à frente Nanci Pelosi, a Speaker (presidente da Câmara), trabalharam arduamente pela aprovação do projeto governamental porque sabiam de uma defecção nas fileiras democratas que poderia levar à derrota do governo. Obama pessoalmente, numa atitude incomum, foi ao Capitólio onde se reuniu com os parlamentares democratas para dizer-lhe que eles deviam “responder a um chamado da história”.

O partido tem maioria na Casa, são 258 contra 177 republicanos. Para aprovação do projeto eram necessários apenas 218 votos. Um número fácil de ser alcançado não fosse a incerteza quanto aos democatas, digamos, mais conservadores.

No final de mais de 12 horas de debates, a vitória do projeto governamental por um placar apertadíssimo, 220 votos a favor 215 contra, mostrou que essa maioria do governo Obama não é muito confiável. Um republicano votou a favor e 39 democratas votaram contra.

A verdade é que política americana está passando por um processo de mudança. Para pior. O enfrentamento democratas versus republicanos tradicionalmente se dava em torno de ideologias e práticas administrativas.

Esse quadro mudou depois da eleição de Obama. Aqueles republicanos tradicionais perderam espaço na cena política e a oposição hoje é exercida por direitistas ou extremistas ou fundamentalistas raivosos. A boca pequena pregam o ódio ao presidente. Vimos isso sobejamente nas manifestações contrárias ao projeto de reforma da saúde. Cartazes que caracterizavam Obama como Hitler se misturavam a outros em que ele era acusado de socialista e comunista.

Esses radicais só não têm coragem de chamar o presidente de negro que é, no fundo, a razão de todo esse ódio. Mais ou menos como em certo país ao sul do continente onde a direita radical não se conforma em conviver com um presidente que não tem curso superior.

Aliás, mal comparando, a direita brasileira é corrupta e usa falsos intelectuais para chamar o presidente de analfabeto, a direita americana é agressiva e usa meia dúzia de falsos jornalistas para chamar o presidente de incompetente e inexperiente, porque não pode chamá-lo de negro.

A vitória deste sábado aliviou um pouco a tensão na Casa Branca. Vale esclarecer, a aprovação na Câmara dos Deputados é um passo importantíssimo, mas não o definitivo. O projeto sobe agora para o plenário do Senado, onde já foi aprovado pelas principais comissões. Saindo do Senado, com eventuais emendas, o texto final segue para a sessão plena do Parlamento para aprovação final.


PS. E já que falei em negro, e na qualidade de vascaíno desde os tempos de Ademir Menezes, não posso deixar de celebrar aqui a volta do Vasco à primeira divisão do futebol brasileiro. Pela sua tradição e sua história, ao abrir as portas do futebol aos negros, quando Fluminense e Flamengo os discriminavam, o Vasco merece a homenagem de todas as torcidas. Por isso mesmo, e a título de provocação, conclamo torcedores de outros clubes de futebol do Rio, negros ou brancos, a juntarem-se à torcida mais feliz do planeta. Com ou sem casaca.
Fonte:Direto da Redação.

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