Reforma Agrária. O pedido do Vaticano a Tancredo Neves | |
A velha agenda ficou entre os guardados do embaixador e ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero por um quarto de século. Nela, o diplomata registrou, em letra de mão caprichada, um capítulo conturbado da história brasileira. A reportagem é de Ivan Marsiglia e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 07-03-2010. No dia 23 de janeiro de 1985, Tancredo Neves, recém-eleito presidente, partiu em avião de carreira do Aeroporto do Galeão para o exterior. Com ele, uma discreta comitiva, integrada, entre outros, por Ricupero, o embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima, a primeira-dama, d. Risoleta, e seu neto, Aécio Neves. A ditadura militar agonizava, mas elementos da linha-dura do regime - que o general Ernesto Geisel chamara de "sinceros, porém radicais" - ainda resistiam à Nova República. "A viagem tinha o sentido de uma sagração para desestimular qualquer tipo de golpe", lembra Ricupero. O périplo de 15 dias viria a ser, nas palavras do ex-chanceler Celso Lafer, o "momento presidencial de Tancredo", no qual se pode vislumbrar o que teria sido a sua presidência. O jornal publica um trecho que relata a inusitada conversa no Vaticano com um assessor do Papa, SURPRESA NA SANTA SÉ Cumprimos esta manhã o programa no Vaticano. O único aspecto inesperado foi a longa duração da audiência a sós com o papa, das 11h32 às 12h15, bem mais do que os 15 minutos previstos. (...) Fomos, em seguida, recebidos pelo cardeal Casaroli, o secretário de Estado, homem miúdo, de ar inteligente. O presidente eleito adotou, no início da conversa, temas e tons que naturalmente imaginara que seriam do agrado de um cardeal idoso, dos mais poderosos da Cúria romana: "Eminência, viemos aqui, minha mulher, minha comitiva e eu, trazer ao Santo Padre a comovida expressão dos sentimentos mais sinceros da devoção e da filial obediência do povo brasileiro. Nossa população é muito sofrida e ainda numerosos brasileiros vivem em estado de lamentável pobreza (...). São os atributos de fervorosa fé católica e de viva religiosidade que explicam a resignação com que a população brasileira suporta a adversidade e o sofrimento". O velho cardeal secretário de Estado ouviu tudo com atenção e, na mesma nota de unção e formalismo, replicou usando palavras parecidas, mas se encaminhando a uma conclusão bem diferente: "Senhor presidente, tenho a certeza de que o Santo Padre terá acolhido com grande alegria esse fervoroso testemunho (...). Mas é preciso nunca esquecer que a fé profunda, a religiosidade são sempre admiráveis, mas não bastam. É necessário igualmente agir para mudar a situação, para melhorar as condições de vida do povo, não só resignar-se. É preciso realizar a reforma agrária e as demais reformas sociais aconselháveis." Senti que dr. Tancredo não esperava esse tipo de resposta. |
Carlos Augusto de Araujo Dória, 82 anos, economista, nacionalista, socialista, lulista, budista, gaitista, blogueiro, espírita, membro da Igreja Messiânica, tricolor, anistiado político, ex-empregado da Petrobras. Um defensor da justiça social, da preservação do meio ambiente, da Petrobras e das causas nacionalistas.
domingo, 7 de março de 2010
HISTÓRIA - O pedido do Vaticano a Tancredo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário