Quem analisar de forma serena e objetiva o quadro inicial da sucessão de 2010, sem dúvida vai reconhecer um retraimento do governador José Serra e uma desenvoltura natural da ministra Dilma Roussef, impulsionada e inflada pela popularidade do presidente Lula. Maioria de razão para que Serra se expusesse mais ao eleitorado e não ficasse contido, como até agora ficou, restrito às áreas de renda mais alta. Permaneceu em torno de 37 a 40 pontos, de votos úteis fração que não pode levar ninguém à vitória, como temos uma sequencia de fatos do passado.
Política é muito mais emoção do que razão, se é que para esse plano para o qual o governador de São Paulo espera deslocado debate e confronto. Nunca aconteceu isso, pelo contrário, as campanhas eleitorais somente esquentam e arrebatam quando adquirem um clima de competição esportiva. Ninguém – ou muito poucos – vão decidir o voto na fase derradeira do embate porque um dos candidatos revelou-se mais racional ou ponderado do que o outro.
O entusiasmo se sobrepõe – e isso é natural. Dilma Roussef já colocou sua campanha nas ruas. Serra sequer já tornou explícito se vai disputar a sucessão presidencial. E, muito mais do que Dilma, tinha condições de avançar, de romper a marcha. Assim não o fazendo, além de acentuar uma timidez prejudicial, ainda deixa por cima, para Dilma, a conquista do eleitorado flutuante. Este eleitorado é muito grande. Pode ser facilmente observado na recente pesquisa do Datafolha. Os que já decidiram votar em Serra, na escala dos 39 a 40 por cento praticamente já se definiram. Os de Dilma ainda não. Ela tem portanto muito mais espaço a conquistar, independentemente de Ciro Gomes ou Marina Silva.
Ciro Gomes com 13 pontos, Marina Silva com praticamente 7 por cento, ficam contidos na escala do patamar de 20 pontos. Não vão se transferir por igual em favor dele, Serra, nem dela, Dilma. E há ainda a parcela dos que hoje não se dispõe a votar em ninguém, na escala de 15. Mas esta escala, na reta de chegada, cai para 8 ou 9 por cento. E os votos de Ciro e Marina, na melhor das hipóteses para Serra, se dividiria.
Este resultado matemático conduziria Dilma a vitória, sobretudo em função do empenho da máquina do Planalto, muito forte sempre, agora mais forte ainda em função da popularidade do presidente da República. De sua posição amplamente majoritária no Nordeste, e da diminuição da diferença de votos na região Sul, bastando para isso o desastre que marca o governo Ieda Crusius no Rio Grande do Sul. E não é só.
Há o mensalão do DEM, do governador José Roberto Arruda em Brasília, cujas imagens ao vivo já fizerem esquecer o mensalão de 2008 em que culminou com a cassação dos mandatos de José Dirceu e Roberto Jeferson. O caso dos alaprados de São Paulo, uma trama contra Serra, também não é capaz de superar as imagens de José Roberto Arruda e deputados distritais de Brasília, colocando dinheiro até nos sapatos. Por isso, percebe-se não faltam argumentos a Serra. Para que passe da defensiva à ofensiva? Onde está a dissolução para isso? É o que principalmente falta ao PSDB, um partido que ainda não decolou. E que, em meu ver, dificilmente decolará. Não com Serra no comando. Serra foi um excelente assessor de Tancredo, um ótimo ministro da Saúde de FHC. Mas é pouco para disputar a presidência da República. Faltam combatividade, disposição e aguerrimento.
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