Do blog Tijolaço.
Manchete do Estadão envelhece em poucas horas.
Uma das estratégias recentes da mídia para atingir a campanha de Dilma Rousseff é atacar o BNDES em sua política de promoção dos investimentos a taxas menores que a do mercado, atitude semelhante, guardadas as devidas proporções, a dos bancos públicos na expansão do crédito durante o período mais agudo da crise econômica global.
O BNDES virou do dia para a noite o lobo mau que age de forma pouco transparente e desequilibra o mercado com suas taxas de juros de longo prazo e financiamento abundante. Tanto a mídia brasileira bateu na tecla, que a The Economist, tradicional defensora do capital, entrou na roda e questionou o tamanho do BNDES no fomento dos investimentos no Brasil.
O cenário começava a se delinear favorável a uma campanha contra o maior banco de desenvolvimento do país, como se fosse um ente único, sem similar em outros países. Mas o problema que a mídia não esperava era a reação do empresariado produtivo brasileiro, que está muito satisfeito com o BNDES, responsável pela recuperação de uma política industrial no país. Os empresários, que sabem ocupar muito bem os espaços midiáticos, publicaram um manifesto nos maiores jornais do país em defesa do BNDES e seu papel no crescimento da economia brasileira.
Mesmo assim, a mídia leva adiante sua campanha, proporcionando situações esdrúxulas, como ser desmentida por ela mesma em questão de horas. Hoje, a manchete do Estadão afirmava que “Incentivo do BNDES à indústria vira alvo na OMC. E na versão online, o jornal dizia que, “com atraso”, o Brasil submeteria os programas do BNDES à investigação da Organização Mundial do Comércio.
A leitura da matéria dava a entender que o Brasil estava na berlinda e precisaria se explicar para não ser punido por subsídios ao setor industrial do país. O texto falava até em “dossiê BNDES” que estaria sendo trabalhado por governos de outros países para questionar a maneira como o BNDES financia a produção e a exportação brasileira.
Mas o Valor Econômico não embarcou nessa história e publicou matéria diferente em sua versão online, às 9:17 da manhã de hoje, afirmando que a OMC não investiga e nem investigará as operações do BNDES. Com base em fontes da organização sediada em Genebra, o jornal assegura que nenhum país declarou que irá deflagrar o mecanismo para os juízes examinarem as práticas do banco brasileiro.
O que a OMC faz com o BNDES é uma mera operação de rotina, que acontece a cada três anos com os seus 151 países membros. “Além disso, a entidade não proíbe um país de dar subsídios para suas empresas, a não ser em duas situações: se a subvenção for vinculada a exportação ou à obrigação de utilizar só componentes nacionais”, comenta a matéria.
O Valor também desconsiderou o atraso tão relevado pelo Estadão, a ponto de fazer parte do título de sua matéria online. Diz a reportagem do jornal econômico que o atraso é quase uma norma na OMC e que os EUA e a União Européia levam vários anos para informar o montante dos subsídios agrícolas que oferecem a seus produtores.
O Estadão tentou fazer terror com uma medida corriqueira, que não causou a menor intranquilidade às autoridades brasileiras sobre a capacidade de responder a qualquer questionamento de outros países. Ao próprio Estadão, o diretor do Departamento Econômico do Itamaraty, Carlos Marcio Bicalho Cozedey, disse que o governo não esconderá nada e que a maioria dos programas do BNDES não será comunicada à OMC porque não se trata de subsídio. Mesmo assim, o jornal jogou a história que não se sustentava como manchete de primeira página, que envelheceu logo pela manhã, desmentida pela verdade dos fatos.
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