Jorge Folena
Podem dizer que o governo da presidente Dilma tem pouco tempo (50 dias), mas até agora tem sido apresentada uma face conservadora à opinião pública, ao contrário do que se esperava da primeira mulher a assumir o mais alto cargo do Brasil.
Logo nos primeiros dias, retomou-se o velho fantasma das privatizações, sendo manifestada a possibilidade de se delegar o estratégico setor aeroportuário a Estados e Municípios, que assim passariam sua exploração à iniciativa privada, como defende há muito tempo o conservador governador Cabral Filho. Conservadores, um a zero.
Contrariando as promessas de campanha, há poucos dias foram anunciados cortes de aproximadamente R$ 50 bilhões no orçamento, incluindo-se nas medidas a proibição de contratação de novos servidores públicos, as reposições salariais etc. Porém, não foi anunciada qualquer redução no pagamento dos juros da questionável dívida pública. Mais um ponto para os conservadores.
Nesta semana, a Presidente e seu governo festejaram como se fosse uma grande vitória a aprovação pelos deputados do pífio reajuste do salário mínimo para R$ 545,00. Esqueceram-se de que, na gestão anterior do Partido dos Trabalhadores, um dos fatores que mais contribuiu para a ampliação da economia brasileira foi justamente a valorização do salário mínimo, que possibilitou o aumento de consumidores na base da pirâmide social, e desta forma contribuiu para o fortalecimento político daquele governo. Três a zero para os conservadores.
Como se vê, os atos até então anunciados têm confirmado a invariável penalização do trabalho e o favorecimento do capital, que, nessas condições, encontra um campo fértil para prosperar e se concentrar cada vez mais. Não há dúvida de que o governo teria mais recursos em seu caixa se decidisse tributar a distribuição do lucro e a entrada e a saída de capital do país.
Todo cuidado é pouco, pois quando os grandes veículos de comunicação começam a apregoar que o atual governo tenta se livrar das marcas do seu antecessor, algo de estranho está acontecendo. Não se pode esquecer que o carisma e a popularidade do ex-presidente Lula foram fundamentais para mantê-lo à frente do seu governo e garantir a eleição da ex-chefe da Casa Civil.
Presidente Dilma, tenho certeza de que a senhora sabe disso, mas vale ressaltar que, agradar apenas aos conservadores e aos interesses que eles representam, não será suficiente para garantir a solidez da sua administração, pois, se mudarem os ventos, a casa pode cair e seu governo estará desgastado com o povo. Quem, então, irá defendê-la nas ruas?
Fonte: Tribuna da Imprensa online.
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