Blog de Luis Nassif.
O estilo de negociação de Dilma.
Do Valor
Eleição da Mesa expõe estilo de negociação
Raymundo Costa | De Brasília
A eleição dos novos comandos do Senado e da Câmara revelou que há um novo estilo de negociação política no Palácio do Planalto: em vez de negociar com grupos isolados, como fazia o antecessor Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente Dilma Rousseff trafegou preferencialmente pela via institucional dos partidos. Teve êxito, mas a expectativa entre os congressistas é que Dilma terá de negociar caso a caso as futuras votações de interesse do governo, seja para atender ao fisiologismo, seja por eventuais diferenças de interesse, como em questões ambientais e sindicais.
A expressiva maioria obtida pelo deputado Marco Maia (PT-RS) também é resultado de um entendimento institucional, o acordo PT-PMDB para o rodízio na presidência da Câmara: o primeiro biênio (2011-2012) caberá a um petista; o segundo, a um pemedebista. Antes da eleição, diante das notícias de insatisfação no PMDB por causa da composição do ministério e das primeiras nomeações do segundo escalão, o PT exigiu que o partido cumprisse o acordo firmado, sob a ameaça de retaliação em 2013. No Senado, o PT desde o ano passado já havia se rendido ao entendimento de que a presidência deveria ficar com a maior bancada (PMDB) e elegeu José Sarney sem criar dificuldade.
O Palácio do Planalto cobrou dos partidos, diretamente, as ameaças de dissidência. O presidente em exercício do PR, deputado Valdemar Costa Neto, foi cobrado pela Presidência por conta da candidatura dissidente do deputado Sandro Mabel (PR-GO). Ele abriu um processo de expulsão do deputado, que manteve ontem, apesar dos pedidos em contrário do ministro Alfredo Nascimento (Transportes) e do próprio Marco Maia. Antes, o ministro Antonio Palocci (Casa Civil) fizera a mesma cobrança ao presidente do PCdoB, Renato Rabelo, diante do anúncio de que o deputado Aldo Rebelo (SP) também lançaria sua candidatura a presidente da Câmara.
Inicialmente, Maia nem era o candidato do PT. O partido, assim como a presidente Dilma, apostava suas fichas no líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP). Mas o deputado bateu de frente com as centrais sindicais e sindicatos, em uma entrevista concedida à revista "Veja" na qual defendeu reformas trabalhistas, a desoneração dos encargos trabalhistas, enfim, teceu críticas em geral ao sindicalismo. Maia, um ex-metalúrgico, soube aproveitar-se da situação e juntou a reação das centrais aos sentimentos contrários à hegemonia paulista do partido, e ganhou a guerra interna. De azarão passou a favorito da disputa.
O curioso é que Vaccarezza expressou opiniões de trânsito fácil no atual governo, como a desoneração da folha de pagamento.
A questão capital x trabalho estava nos cálculos de, quando o deputado se lançou candidato: Maia é autor de um projeto de redução de 44 para 40 as horas da jornada de trabalho. Grande empresário (é dono da marca de bolachas com seu nome), Mabel contava com a solidariedade da bancada de 246 deputados, contra a de 72 sindicalistas. Calculou mal, mas não fez feio: 106 votos o credenciam como porta-voz dos descontentes.
Mabel teve votos dispersos entre os insatisfeitos dos partidos da base do governo, entre os mais renitentes da oposição e o grupo de Vaccarezza, se não votou no dissidente, não arregaçou as mangas pelo candidato oficial. Vaccarezza foi reconduzido à liderança do governo na Câmara.
A coalizão de sustentação do governo Dilma mostrou que é forte, quando consegue manter unidos os partidos que a integram, especialmente aqueles com as maiores bancadas, o PT e o PMDB. No processo, o comando formal do PMDB, por meio do vice-presidente Michel Temer (que está apenas licenciado da presidência do PMDB) se impôs ao grupo da Câmara que ameaçava se rebelar por conta de interesses contrariados em Furnas Centrais Elétricas.
Outro movimento em curso, no sentido de uma composição mais firme entre PMDB e PT, é a filiação do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), ao partido de Michel Temer. Kassab já avisou que apoiará o governo.
Os 375 votos obtidos por Maia, no entanto, não são um cheque em branco para o governo Dilma. O PMDB, por exemplo, não vai criar caso com a mudança do comando de Furnas, mas está atento ao tratamento que o governo dará ao PT. Nos partidos médios, como o PSB, é grande a demanda por apoio federal aos seus governadores - o partido está em plena fase de crescimento e espera o apoio do governo para crescer mais nas eleições de 2012 e 2014. A expectativa mais realista entre os congressistas é que Dilma tenha de negociar "por dentro" a aprovação de projetos, de vez que a oposição está fragilizada. No momento, o maior risco para seu governo é mesmo o "fogo amigo". Antes do "enquadramento" do PMDB, havia a expectativa de que os descontentes enviariam um recado na votação do salário mínimo. Agora, o mais provável é que isso ocorra adiante, quando o governo demonstrar desgaste.
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