Dilma 'contra' Lula? O tiro vai sair pela culatra.
Em seu artigo dessa sexta-feira (04/03) na Folha de S. Paulo, Fernando Barros e Silva tenta entender a os motivos pelos quais 'o andar de cima' está satisfeita com Dilma Rousseff.
Dilma Rousseff caiu no gosto das pessoas que vivem no que Elio Gaspari costuma chamar de 'andar de cima'. As classes dirigentes parecem encantadas com a nova presidente. Quanto ao povo que a elegeu por causa de Lula, por enquanto é mais difícil saber o que está pensando, ou mesmo se estaria pensando algo a esse respeito. Elogia-se em Dilma sobretudo o estilo. A discrição, a sobriedade, o formalismo dos gestos. É menos o governo que mal começou do que sua maneira de se comportar que tem arrancado entusiasmados aplausos dos analistas políticos.
Com mais ou menos consciência, elogia-se Dilma para criticar Lula -- ou melhor, pretende-se atacar Lula elogiando Dilma, numa espécie de revanche póstuma e de efeito simbólico contra o boquirroto. A agenda de boa parte da mídia tem sido intrigar Dilma e Lula, como se este fosse um governo de oposição, e não de continuidade. [...]
[...] Basta, por ora, que Dilma seja o negativo comportamental de Lula para sair bem na foto das elites. Se o Brasil fosse uma praia, é como se essas pessoas ficassem aliviadas com a retirada de cena do farofeiro.
Lamento dizer a nossas 'zelites', mas o tiro vai continuar saindo pela culatra. Periga vocês tornarem Dilma popular com mais rapidez que o esperado, sem conseguir desconstruir Lula. Tarefa a qual vocês se dedicaram com raro afinco e incompetência por longos e 'tenebrosos' 8 anos.
Um marciano que pousasse no Brasil hoje acreditaria que Dilma é mais popular entre os antiu-lulistas que entre os eleitores cativos do PT. Em termos. Os lulistas nunca acreditaram que Dilma seria um poste, portanto seus primeiros dias de mandato não chamam tanto a atenção. Favas cantadas em verso, cordel e prosa. A gente anunciava que o 'poste' se transformaria rapidamente em farol, inutilmente desenhamos várias vezes. A surpresa de hoje nos enche de ironia.
Afinal, há oito anos que o 'o andar de cima' se surpreende com os governantes do PT. Se Lula foi vendido como um desastre em 2002, com Dilma não poderia ser diferente. Se depenesse dos 'especialistas', ela sequer teria sido escolhida candidata, se eleger, nem pensar, gevernar bem ... tão improvável quanto um marciano pousar no Brasil.
Vale lembrar uma coluna de Clóvis Rossi para a Folha de S.Paulo, em 08 de junho de 2002:
George Soros, sinônimo mundial de megainvestidor (ou megaespeculador, como muitos preferem), avisa: o Brasil está condenado a eleger José Serra ou a mergulhar no caos, assim que um eventual governo Luiz Inácio Lula da Silva se instalar.
Não se trata, desta vez, apenas da habitual má vontade do mundo financeiro em relação a Lula e ao PT. É muito pior: trata-se de uma análise fria de como se mexem as engrenagens do capitalismo global, de que Soros é não apenas um perito mas também um ativo agente.
O caos virá, acha Soros, por uma questão de "profecia que se autocumpre". Funcionaria assim, na sua avaliação: os mercados acham que Lula dará o calote quando assumir e já começaram a se prevenir, apostando contra o Brasil _ou, mais especificamente, contra o real.
A aposta só pode aumentar enquanto as chances de Lula permanecerem de pé, uma tendência que provavelmente irá até o dia do segundo turno. Se Lula de fato vencer, assumirá com uma situação financeira tão dramática que não lhe restará alternativa a não ser dar o calote que o mercado antecipava que ele daria. A profecia então se autocumpriria.
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