Dona Dilma foi elogiadíssima, de todos os lados. Enfrentou a intimidação e a chantagem, deixou bem claro: “Ninguém ameaça o Presidente da República”. Se continuar assim, será aplaudida no Maracanã, contrariando Nelson Rodrigues: “O Maracanã vaia até minuto de silêncio”.
Helio Fernandes
Fiquei satisfeitíssimo, dezenas e dezenas de comentaristas, aqui mesmo, apoiaram e referendaram a posição dela, enfrentando os que acreditavam que podiam ou podem ameaçar, assustar ou intimidar um presidente eleito.
A maioria dos comentaristas deixou bem clara a convicção: “Pela decisão de enfrentar os corruptos-corruptores, merece aplausos, mas será criticada, a critério dos que escrevem. Podem ficar contra (civilizadamente, lógico) se assim entenderem. É um direito de todo e qualquer cidadão”.
A posição do repórter é a mesma de sempre. No final de 1952, quando Golbery (ainda na ativa) exigiu de Vargas a demissão do seu Ministro do Trabalho (João Goulart) e o presidente aceitou, estava se enfraquecendo e fortalecendo os golpistas, que se escondiam atrás no Manifesto dos Coronéis, redigido e assinado por 69 coronéis. Fiquei a favor do Presidente, defendendo não a pessoa que estava no Poder, mas sim aquele que representava as instituições.
Doze anos depois, glorificado, consagrado, orgulhoso e sabendo que sairia novamente vitorioso, a repetição. O mesmo Golbery, mentor intelectual (?) do golpe de 64, derrubou o mesmo João Goulart, já então presidente da República. É quase certo, é uma suposição mas também um fato: se não tivesse havido 1952, não teria havido 1964. A primeira resistência reforçaria a segunda.
Eduardo Cunha, com Lula, colocou a céu aberto a intimidação, a chantagem, a ameaça; “Ou nomeia o meu candidato para presidente de Furnas, ou derrubo a CPMF”. O presidente Lula considerava fundamental a aprovação dessa CPMF.
Ficou seis meses recebendo e aceitando toda a aviltante perseguição do deputado-lobista, finalmente cedeu, nomeou para Furnas o indicado por ele. E este, tripudiando, “trabalhou” contra a CPMF, ela foi derrotada no Senado.
Na época, ainda na Tribuna de papel (que não voltará nunca mais, os 31 anos do processo judicial que se passaram se transformarão em 40, 50, 100, não tenho a pretensão de resistir fisicamente tanto tempo, embora mentalmente esteja cada vez mais forte, ninguém me abaterá) critiquei o presidente Lula pela entrega não dos cargos, mas do Poder.
Agora, o episodio ia se repetindo, no mesmo palco, com o mesmo roteiro, o mesmo público e aparentemente o mesmo espetáculo. Só que mudou um dos personagens, o que vem provar (como tem acontecido no mundo) que a liberdade, a dignidade, a credibilidade, o respeito ao Poder, que pelo menos em teoria pertence ao povo, pode ser defendido e preservado por apenas uma pessoa.
No caso não de um homem mas uma mulher, a primeira que chega ao Poder em toda a nossa Historia. Cumpriu integralmente o que foi definido por um dos Presidentes-Fundadores dos EUA: “O governo é do POVO, pelo POVO e para o POVO”. Foi Monroe que fez a definição que resiste a mais de 200 anos. Além de lobista-chantagista, Eduardo Cunha se revelou péssimo e execrável analista. Pensou (?) que podia repetir integralmente o que fizera com Lula, em Furnas e com a mesma “técnica” de intimidação.
Colocou as exigências no mesmo patamar anterior, estava satisfeitíssimo com tudo o que ganhara em Furnas, queria enriquecer ainda mais, é o objetivo de uma vida. Só que assim que soube da “exigência”, Dona Dilma disse publicamente: “O presidente de Furnas será um técnico”.
Eduardo Cunha não acreditou, e apoiado abertamente pelo líder (Deus me perdoe a calunia) Henrique Eduardo Alves, veio a público de forma acintosa, referendando a própria indicação para Furnas. Nem lhe passava pela cabeça que fosse repudiado.
A presidente Dilma não deu uma palavra pública, (a não se a convicção exposta anteriormente) chamou o Chefe da Casa Civil, levou uma lista de técnicos que poderiam presidir Furnas, se decidiu por um deles, mandou direto para o site do Planalto. (Como publiquei aqui no exato momento que isso acontecia). E foi embora, satisfeita com o dever cumprido. E o Poder (dela e da República) mantido, garantido, estabelecido, defendido.
Só aí, Eduardo Cunha e o deputado Alves, compreenderam que haviam sido atingidos, derrotados, desprezados, saíram ganindo. E em vez de responderem a Dona Dilma, passaram a culpar o PMDB e alguns nomes da “cúpula”.
O PDMD é uma efervescência completa. A “cúpula” perdeu o medo de Cunha e Alves, que assustavam internamente, de forma intimidativa e acenando com artifícios e exibição de possíveis acusações guardadas e arquivadas para um momento com este.
As acusações cruzam os “céus” do partido, mas apesar de todas dúvidas e ressalvas, o “comando da legenda” se alinha agora, muito mais a FAVOR da presidente do que CONTRA ela. O silêncio, o ostracismo, o desprezo, rondam os que fizerem da chantagem a arma do Poder político.
Como gostava de dizer o presidente Lula, “foi um gol de placa”. Só que agora Lula não falou nada, ficou confuso, intrigado e até contrariado com a soberba decisão da presidente. Na restrita intimidade, Lula diz tímida mas incisivamente, visivelmente queixoso, mas sem afirmação: “Como é que a Dilma conseguiu agir dessa maneira?”
Não sei até quando a presidente Dilma continuará trilhando ou transitando por essa estrada aparentemente desimpedida, mas na verdade cheia de obstáculos, armadilhas perigosas, descaminhos muitas vezes não observados.
Agora terminou a primeira grande vitoria do governo da presidente Dilma. Hoje ela está completando 37 dias da posse, não sei qual presidente obteve uma vitoria tão rápida. E tão significativa, tão demonstrativa, tão elucidativa. Mas que precisa que o cidadão-contribuinte-eleitor compreenda que no que depender dela, será d-e-f-i-n-i-t-i-v-a.
***
PS – Não posso deixar de repetir o que está no título, e que foi dito por Nelson Rodrigues, num programa de televisão, depois de assistir episodio inédito: “O Maracanã vaia até minuto de silêncio”.
PS2 – Nelson disse isso, se referindo ao jogo Botafogo-América, dia 22 de julho de 1967, vitoria do Botafogo por 3 a 1.
PS3 – Os generais do golpe (que gostavam realmente de futebol) não perdiam jogos da seleção e finais de campeonato, aprenderam a lição. Ficavam num bar (acima da bancada de imprensa), quando a seleção aparecia, eles saíam também do “bunker” elevado, davam a impressão de estarem sendo aplaudidos.
PS4 – Se fizer, se cumprir o que o país espera dela, se compreender que “o futuro a Deus pertence”, mas que a máquina de construir está nas mãos dela, Dilma pode entrar e sair do Maracanã pela porta da frente.
PS5 – Não precisará se esconder como os generais, “eleitos e entronizados” por eles mesmos. Espero sinceramente que isso aconteça. O contrário? Que decepção e frustração.
Fonte: Tribuna da Imprensa.
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