segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

POLÍTICA - O risco de fazer o jogo da reação.

Carlos Chagas

Posto na defensiva, para não dizer acuado, o governo Dilma Rousseff custa a perceber que quanto mais recuar, mais avançarão as forças da reação. Aliás, as mesmas que, reagrupadas no governo Fernando Henrique, conquistaram vastos espaços no governo Lula e agora investem contra a sucessora. Tome-se apenas o último embate: depois de declarar na campanha eleitoral não ver motivos para ajustes fiscais e para a contenção de gastos públicos, a presidente da República surpreendeu seu pano de fundo com o corte de 50 bilhões de reais nas despesas de governo. Além de manter-se inflexível na sustentação da merreca de 545 reais para o salário mínimo, reivindicação dos conservadores e dos especuladores. Agora assiste sem reagir a virulentas críticas formuladas contra o Lula, “que nos seus oito anos de governo aumentou os gastos públicos em 282 bilhões de reais”…

Ora bolas, mais deveria ter aumentado, porque longe de ter sido uma irresponsabilidade ou um escândalo, esse aumento significou sólido crescimento no setor das políticas públicas. Atendeu às necessidades de saúde, educação, alimentação, habitação, transportes e outras obrigações do estado para com a maioria carente da população. As elites financeiras jamais se preocuparam com esses detalhes, porque frequentam hospitais particulares, escolas privadas para seus filhos, restaurantes de luxo, mansões paradisíacas, helicópteros e jatinhos pagos por suas empresas. Reagem diante das iniciativas do governo em favor das massas porque preferiam ver canalizadas para suas especulações e seus interesses essas centenas de bilhões.

O diabo é que estão conseguindo botar o governo Dilma na defensiva. Não engoliram o fato de que o Lula tornou-se popularíssimo precisamente por haver minorado parte das agruras dos menos favorecidos, ainda que tivesse atendido com igual empenho os pleitos do andar de cima. Um mês e meio de governo é pouco para avaliar a performance e os rumos da nova administração, mas seria bom a presidente perceber que faz o jogo da reação, até mesmo conservando no ministério parte dos seus representantes. Correndo as coisas como vão, logo ficará tarde para a contramarcha. O risco de ceder nas primeiras batalhas sempre será de perder a guerra.

Fonte: Tribuna da Imprensa.

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