Quinta, 14 de maio de 2015
As palavras do Papa sobre os interesses econômicos por trás das guerras
Ao receber 7.000 crianças da Fábrica da Paz e respondendo às suas perguntas, o Papa Francisco voltou a falar sobre os enormes interesses econômicos que estão por trás das guerras:
“Por que muitos poderosos não querem a paz? Porque vivem das guerras, a
indústria das armas é poderosa! Os poderosos ganham a vida fabricando
armas e vendem-nas a este ou aquele país: é a indústria da morte...
lucram com isso”.
A reportagem é de Andrea Tornielli e publicada por Vatican Insider, 12-05-2015. A tradução é de André Langer.
A preocupação com o comércio das armas e com o aumento dos gastos militares não é uma novidade no magistério pontifício. Basta recordar as recentes palavras de Bento XVI, contidas na Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2006: “Não é possível deixar de registrar com tristeza os dados de um aumento preocupante dos gastos militares e do comércio sempre próspero das armas, enquanto permanece atolado no pântano de uma indiferença quase geral o processo político e jurídico posto em marcha pela Comunidade Internacional para consolidar o caminho do desarmamento. Se se continua a investir na produção de armas e na pesquisa para desenvolver novas, que futuro de paz será possível?”
Não há dúvida de que Francisco referiu-se a este tema com maior insistência, propondo um enfoque que se afasta das simplificações ideológicas compartilhadas pelas mais avançadas expressões do fundamentalismo islâmico e pelas análises de determinados “think tanks” ocidentais.
No domingo 02 de junho de 2013, o Papa Bergoglio recebeu na residência Santa Marta 13 soldados italianos feridos durante as missões de paz, a maioria dos quais havia prestado serviço no Afeganistão. Estavam acompanhados de seus familiares e dos parentes de outros 24 militares que morreram durante as operações para manter a paz na região. Durante a homilia da missa que celebrou com eles, Francisco, referindo-se aos “grandes da Terra” e à ilusão de quem pensa resolver os “problemas locais e as crises econômicas” através das guerras, afirmou: “Por quê? Porque o dinheiro é mais importante que as pessoas para eles! E a guerra é justamente isso: é um ato de fé no dinheiro, nos ídolos, nos ídolos do ódio, no ídolo que te leva a matar o irmão, que leva a matar o amor”.
No dia 08 de setembro de 2003, depois da vigília pela paz na Síria, que contou com uma grande participação em todo o mundo (pois milhares de pessoas se somaram à oração e ao jejum no momento em que se propunha uma intervenção armada ocidental contra o regime de Assad), Francisco pronunciou palavras claríssimas contra o comércio de armas e dos traficantes de morte durante o Angelus. Admoestava os poderosos da Terra que jogam seu jogo militar e comercial sobre a pele de populações que sofrem. Escolher o bem “implica em dizer não ao ódio fratricida e às mentiras das quais se serve, à violência em todas as suas formas, à proliferação das armas e ao seu comércio ilegal”. Improvisando, o Papa acrescentou uma frase muito eloquente: “Sempre fica a dúvida: esta guerra daqui, aquela de lá (porque em todas as partes há guerras), é verdadeiramente uma guerra por problemas ou é uma guerra comercial para vender estas armas no comércio ilegal?”
Na entrevista que concedeu ao jornalista Henrique Cymerman, publicada no jornal catalão La Vanguardia no dia 12 de junho de 2014, Francisco afirmou: “Mas descartamos toda uma geração por manter um sistema econômico que já não se sustenta, um sistema que, para sobreviver, deve fazer a guerra, como sempre fizeram os grandes impérios. Mas, como não se pode fazer a Terceira Guerra Mundial, então se fazem guerras regionais. E o que isto significa? Que se fabricam e vendem armas, e com isso os balanços das economias idolátricas, as grandes economias mundiais, que sacrificam o homem aos pés do ídolo do dinheiro, obviamente se sanam”.
Uma semana depois da publicação desta entrevista, o The Economist criticou Francisco e o comparou a Lênin, colocando na mira suas afirmações sobre as economias idolátricas que se alimentam com as guerras. “Ao declarar uma conexão direta entre capitalismo e guerra – escreveu o referido jornal –, parece tomar uma linha absolutamente radical: uma linha que, consciente ou não, segue aquela proposta por Vladimir Lênin em sua análise do capitalismo e do imperialismo e sobre como foram as causas da explosão da Primeira Guerra Mundial há um século. Há muitos contra-argumentos: a história está cheia de exemplos de formas de poder que geraram violência de maneira muito mais evidente do que fez o capitalismo, desde o feudalismo até os regimes totalitários, e pensadores como Joseph Schumpeter e Karl Popper afirmaram com veemência que o capitalismo pode consolidar a paz oferecendo métodos não violentos para satisfazer as necessidades humanas”.
Francisco voltou a falar sobre as guerras e sobre os interesses que as mantêm no dia 13 de setembro de 2014, por ocasião da missa que celebrou em Redipuglia para comemorar o centenário da eclosão da Primeira Guerra Mundial. “Aqui e no outro cemitério – disse o Papa – há muitas vítimas. Hoje, nós as recordamos. Há choro, há luto, há dor. E daqui recordamos todas as vítimas de todas as guerras. Também hoje há muitas vítimas... Como isso é possível? É possível porque, também hoje, nos bastidores, há interesses, planos geopolíticos, avidez de dinheiro e de poder, e há a indústria das armas, que parece ser muito poderosa. E estes planejadores do terror, estes organizadores dos conflitos, assim como os empresários das armas, têm escrito no coração: ‘O que me importa?’”
A reportagem é de Andrea Tornielli e publicada por Vatican Insider, 12-05-2015. A tradução é de André Langer.
A preocupação com o comércio das armas e com o aumento dos gastos militares não é uma novidade no magistério pontifício. Basta recordar as recentes palavras de Bento XVI, contidas na Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2006: “Não é possível deixar de registrar com tristeza os dados de um aumento preocupante dos gastos militares e do comércio sempre próspero das armas, enquanto permanece atolado no pântano de uma indiferença quase geral o processo político e jurídico posto em marcha pela Comunidade Internacional para consolidar o caminho do desarmamento. Se se continua a investir na produção de armas e na pesquisa para desenvolver novas, que futuro de paz será possível?”
Não há dúvida de que Francisco referiu-se a este tema com maior insistência, propondo um enfoque que se afasta das simplificações ideológicas compartilhadas pelas mais avançadas expressões do fundamentalismo islâmico e pelas análises de determinados “think tanks” ocidentais.
No domingo 02 de junho de 2013, o Papa Bergoglio recebeu na residência Santa Marta 13 soldados italianos feridos durante as missões de paz, a maioria dos quais havia prestado serviço no Afeganistão. Estavam acompanhados de seus familiares e dos parentes de outros 24 militares que morreram durante as operações para manter a paz na região. Durante a homilia da missa que celebrou com eles, Francisco, referindo-se aos “grandes da Terra” e à ilusão de quem pensa resolver os “problemas locais e as crises econômicas” através das guerras, afirmou: “Por quê? Porque o dinheiro é mais importante que as pessoas para eles! E a guerra é justamente isso: é um ato de fé no dinheiro, nos ídolos, nos ídolos do ódio, no ídolo que te leva a matar o irmão, que leva a matar o amor”.
No dia 08 de setembro de 2003, depois da vigília pela paz na Síria, que contou com uma grande participação em todo o mundo (pois milhares de pessoas se somaram à oração e ao jejum no momento em que se propunha uma intervenção armada ocidental contra o regime de Assad), Francisco pronunciou palavras claríssimas contra o comércio de armas e dos traficantes de morte durante o Angelus. Admoestava os poderosos da Terra que jogam seu jogo militar e comercial sobre a pele de populações que sofrem. Escolher o bem “implica em dizer não ao ódio fratricida e às mentiras das quais se serve, à violência em todas as suas formas, à proliferação das armas e ao seu comércio ilegal”. Improvisando, o Papa acrescentou uma frase muito eloquente: “Sempre fica a dúvida: esta guerra daqui, aquela de lá (porque em todas as partes há guerras), é verdadeiramente uma guerra por problemas ou é uma guerra comercial para vender estas armas no comércio ilegal?”
Na entrevista que concedeu ao jornalista Henrique Cymerman, publicada no jornal catalão La Vanguardia no dia 12 de junho de 2014, Francisco afirmou: “Mas descartamos toda uma geração por manter um sistema econômico que já não se sustenta, um sistema que, para sobreviver, deve fazer a guerra, como sempre fizeram os grandes impérios. Mas, como não se pode fazer a Terceira Guerra Mundial, então se fazem guerras regionais. E o que isto significa? Que se fabricam e vendem armas, e com isso os balanços das economias idolátricas, as grandes economias mundiais, que sacrificam o homem aos pés do ídolo do dinheiro, obviamente se sanam”.
Uma semana depois da publicação desta entrevista, o The Economist criticou Francisco e o comparou a Lênin, colocando na mira suas afirmações sobre as economias idolátricas que se alimentam com as guerras. “Ao declarar uma conexão direta entre capitalismo e guerra – escreveu o referido jornal –, parece tomar uma linha absolutamente radical: uma linha que, consciente ou não, segue aquela proposta por Vladimir Lênin em sua análise do capitalismo e do imperialismo e sobre como foram as causas da explosão da Primeira Guerra Mundial há um século. Há muitos contra-argumentos: a história está cheia de exemplos de formas de poder que geraram violência de maneira muito mais evidente do que fez o capitalismo, desde o feudalismo até os regimes totalitários, e pensadores como Joseph Schumpeter e Karl Popper afirmaram com veemência que o capitalismo pode consolidar a paz oferecendo métodos não violentos para satisfazer as necessidades humanas”.
Francisco voltou a falar sobre as guerras e sobre os interesses que as mantêm no dia 13 de setembro de 2014, por ocasião da missa que celebrou em Redipuglia para comemorar o centenário da eclosão da Primeira Guerra Mundial. “Aqui e no outro cemitério – disse o Papa – há muitas vítimas. Hoje, nós as recordamos. Há choro, há luto, há dor. E daqui recordamos todas as vítimas de todas as guerras. Também hoje há muitas vítimas... Como isso é possível? É possível porque, também hoje, nos bastidores, há interesses, planos geopolíticos, avidez de dinheiro e de poder, e há a indústria das armas, que parece ser muito poderosa. E estes planejadores do terror, estes organizadores dos conflitos, assim como os empresários das armas, têm escrito no coração: ‘O que me importa?’”
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