Mauro Santayana, Blog: Mauro
Santayana "A vinda do Primeiro Ministro chinês ao
Brasil, e a assinatura de acordos com o governo brasileiro em um valor de mais
de 50 bilhões de dólares, é alvissareira, mas pontual. O que o Brasil precisa
fazer com a China é um acordo estratégico de longo prazo, que nos permita
queimar etapas na área de infra-estrutura e desenvolvimento, permitindo que os
bancos estatais chineses, que estão nadando em dinheiro, complementem, meio a
meio, a capacidade de investimento do BNDES em novos projetos conjuntos, e trazer para o Brasil, com a
associação de construtoras chinesas com construtoras brasileiras, o
know-how chinês na construção, em prazo recorde e a baixo
custo, de grandes obras de engenharia.
A prioridades devem ser a associação dos
chineses com as empresas que estão sendo prejudicadas pelos efeitos "colaterais"
- quase fatais - da Operação Lava a Jato, em que a elevação de declarações
"premiadas" à categoria de provas quase incontestáveis, ameaça destruir milhares
de empregos; e preservar do sucateamento dezenas de projetos de grande porte que
estão em andamento, todos eles essenciais para o desenvolvimento nacional nos
próximos anos, com prioridade para as refinarias, navios e plataformas de petróleo
da Petrobras, sem os quais não se poderia prosseguir na exploração do pré-sal e
no atendimento ao mercado interno, com o aumento da oferta de combustível
nacional e a consequente diminuição das importações.
Além disso, é preciso
terminar as ferrovias, rodovias, grandes represas hidroelétricas, linhas de transmissão, sistemas de
irrigação, hidrovias, portos, rodovias e aeroportos, que não se construíam há
décadas no Brasil, e cujas obras estão em andamento ou sob ameaça de
paralisação, e, para isso, nada melhor que um parceiro que - ao contrário do que
pensam aqueles que acham que a força da China está em seus baixos salários -
possui capital e trabalha na fronteira da expansão do conhecimento e da
tecnologia, usa
inovações como impressoras 3D na construção civil que erguem casas inteiras e monta
edifícios de dezenas de andares em poucas semanas. Mesmo que venham,
temporariamente, para o Brasil, trabalhadores chineses, é melhor criar novos
postos de trabalho para eles e também para brasileiros, do que deixar que o
desemprego se aprofunde - também como consequência da permanente sabotagem -
para gaudio dos que querem ver o circo pegar fogo.
A visita
chinesa mostra que Pequim está se lixando, literalmente, para o que dizem as
agências de "classificação", e as empresas de "auditoria" ocidentais, sobre o
Brasil e a Petrobras.
Organizações de duvidosa reputação, como a Standard
& Poors e a PriceWaterhouseCoopers, que não conseguiram prever - quando não
ocultaram, deliberadamente - a quebra de bancos como o Lehman Brothers, e as
várias crises econômicas nascidas no "ocidente", desde o ano
2.000.
Aliás, do
alto de suas reservas internacionais - só a China possui 4 trilhões de dólares e
o Brasil ainda é o terceiro maior credor individual dos EUA, com 370 bilhões de
dólares* - os BRICS já afirmaram que pretendem fazer suas próprias agências de
classificação, assim como estão montando um fundo de reservas de bilhões de
dólares e o Banco dos BRICS, com 100 bilhões de dólares de capital inicial, para
criar novas alternativas ao FMI e ao Banco Mundial.
A
parceria com a China deve servir para isso. Para diminuir a dependência de
capitais ocidentais, e para melhorar nossa capacidade de barganha com os Estados
Unidos e a União Europeia, daqui para a frente.
Mesmo com
eventuais problemas em nossas relações comerciais, os chineses já ultrapassaram
os Estados Unidos como o nosso maior parceiro comercial desde 2009 - e o fizeram
também com muitos outros países latino-americanos.
Temos que
aproveitar a nossa presença no BRICS - onde somos a segunda maior economia -
para aumentar, em condições mais vantajosas para o Brasil, nosso intercâmbio
comercial com a Europa e os Estados Unidos, negociando de igual para igual - e
isso vale também para a China - sem a subalternidade do passado, e com a mais
absoluta atenção ao princípio da reciprocidade.
Afinal, somos o quinto maior país do mundo
em território e população, e a sétima maior economia do planeta, posição que
pode variar eventualmente para cima e para baixo em função do câmbio, mas que nos deixa sempre entre as primeiras
nações do mundo, quando estávamos em décimo-quarto lugar em
2002.
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