terça-feira, 19 de maio de 2015

POLÍTICA - Jean Wyllys e o Eduardo Cunha.

O manifesto de Jean Wyllys contra Eduardo Cunha e seu ‘ódio homofóbico’




De Jean Wyllys, no facebook:
Pela primeira vez em doze anos, o Seminário LGBT do Congresso Nacional não terá os convites oficiais enviados pela presidência e não será publicizado pelo site oficial da Câmara dos Deputados. Eduardo Cunha proibiu qualquer tipo de divulgação oficial do seminário, que já foi realizado sob a presidência de parlamentares do PT, do PMDB, do PP e do PCdoB ao longo de mais de uma década, sem restrições. Cunha proibiu inclusive que sejam colados os cartazes de divulgação do seminário dentro do prédio do Congresso — cartazes que já foram colados e eu não penso pedir para retirar — e essa decisão antidemocrática, antirregimental, inconstitucional e autoritária obedece a uma única razão: HOMOFOBIA.
O que incomodou Cunha foi a foto do (quase) beijo entre Daniela Mercury e Malu Verçosa que está nas peças aprovadas pelas comissões de Cultura, Legislação Participativa e Ciência e Tecnologia, que dividem a organização da XIIª edição do seminário. Ele fez de tudo para censurar o beijo. Primeiro, falou que era necessária uma autorização de uso da imagem assinada por Daniela, mesmo ela tendo divulgado a arte no seu site oficial. Daniela enviou a autorização por escrito, mas mesmo assim, ele disse não. Não! Ele não vai permitir um beijo lésbico em cartazes e convites oficiais da House of Cunha, o poder legislativo que ele acha ser de sua propriedade pessoal.
O tema do seminário é a empatia, um sentimento do qual o presidente da Câmara dos Deputados carece, pelo menos no sentido humano. Ele tem empatia com as empresas que financiaram sua campanha com “doações” que somaram 6.832.479,98 reais, para as quais quer aprovar uma emenda à constituição que lhes garanta a possibilidade de continuar “investindo” em candidatos patrocinados que as representem no executivo e no legislativo. Ele tem empatia com os deputados que lhe deram o voto para a presidência em troca de aumento de salário e verba parlamentar e outras regalias que ofendem o povo trabalhador em época de crise e ajustes.
Ele tem empatia com as igrejas caça-níquel que se valem do discurso de ódio — contra LGBTs, adeptos das religiões de matriz africana, mulheres que fazem aborto e/ou usuários de drogas ilegais — para disputar o mercado das almas, arrecadar o dízimo e as “ofertas” e até vender vassouras “ungidas”. Ele tem empatia com as máquinas partidárias fisiologistas, as legendas de aluguel, os cabos eleitorais pagos e outros beneficiários da “contrarreforma” política que pretende aprovar nesse ano para fazer menos democrática a democracia.
Ele tem empatia com os fabricantes de armas, para os quais o Congresso prepara uma reforma do estatuto do desarmamento que pode aumentar a violência e a morte num país que já tem violência e morte demais. Ele tem empatia com planos de saúde, para os quais conseguiu o perdão de multas milionárias e o engavetamento de uma CPI. E por aí vai…
Mas ele não consegue ter empatia com as pessoas que se amam. Não consegue sentir empatia por um (quase) beijo entre duas mulheres — fica revoltado, indignado, assustado, enjoado, raivoso. Não basta ele pretender que o Congresso aprove um estatuto contra as famílias que não são como a dele, não basta o discurso de ódio homofóbico. Ele precisa, também, usar seu poder — que acredita ser absoluto, monárquico — para censurar um beijo. Isso diz, também, o que ele pensa das instituições da República, e o pouco respeito que ele tem pela democracia.
Daniela e Malu continuarão se beijando, como outros milhares de casais de todo tipo. E farão isso no Congresso, se quiserem, na cara do censor, na porta do seu gabinete, ou onde for necessário. ALIÁS, EU CHAMO TODOS OS CASAIS A VIR SE BEIJAR NO SEMINÁRIO, NO CONGRESSO NACIONAL! EU CONVOCO VOCÊS A DENUNCIAR A CENSURA E RECLAMAR À MÍDIA QUE NOTICIE ESTE ATO ANTIDEMOCRÁTICO! Nenhum e nenhuma de nós vai voltar ao armário, senhor Cunha!
E eu te garanto: quando chegar o momento, vamos cobrar com juros todo esse amor reprimido e esse silêncio que você quer nos impor. Se não for a “Lava-Jato” a nos dar essa oportunidade, certamente haverá outra!

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