Reforma política vira guerra fria entre PT e Eduardo Cunha
PT adotou a proposta de voto distrital misto para tentar evitar a aprovação do 'distritão'. Próximo passo é derrotar o financiamento privado de campanha.
Antonio Lassance (*)
O deputado Carlos Zarattini
(PT/SP), representante do PT na Comissão Especial da reforma política,
anunciou que o Partido resolveu adotar a proposta de voto distrital
misto como forma de evitar a aprovação do chamado "distritão".
Distritão foi o apelido dado à proposta encampada pelo PMDB, arquitetada pelo vice-presidente da República, Michel Temer. Se adotado, o Brasil passaria a eleger vereadores e deputados estaduais e federais pelo sistema majoritário, em que é eleito o candidato mais votado, independentemente de coligações. Haveria um único distrito (o município, para vereadores, e o estado, para deputados estaduais e federais).
Zarattini postou em vídeo a posição agora defendida pelo PT na comissão da reforma política, precedida por um ataque ao distritão.
O PT defende o voto proporcional em lista - o eleitor votaria no partido, que ofereceria uma lista com os nomes e a ordem dos candidatos. Seriam eleitos os candidatos conforme o número de cadeiras proporcionalmente à sua votação, na ordem da lista.
O PSDB defende um meio termo, o voto distrital misto. Uma parte (que poderia ser metade, 1/3 ou 2/3) seria eleita pelo sistema proporcional, e a outra parte, pelo sistema majoritário, por distritos.
O presidente da Câmara dos Deputados quer a aprovação do distritão a toque de caixa. Diante da contrariedade do relator da reforma, Marcelo Castro (PMDB/PI), que também tornou-se opositor do distritão, Cunha chegou a humilhá-lo, chamando seu relatório de confuso e duvidando de sua "inteligência e perspicácia política".
A queda de braço entre Cunha e a comissão mostra como Cunha comanda a Câmara com mão de ferro e impõe um chicote ao PMDB, tratando seus correligionários como serviçais. As reclamações a esse respeito vêm de dentro do próprio PMDB.
A reação do PT envolve agora a tentativa de acordo com os demais partidos interessados em derrotar também o financiamento privado de campanha, que permanece legalizado pela proposta do relator peemedebista.
A iniciativa petista pode levar a uma derrota de Cunha e também do vice, Michel Temer. Ou pode suscitar alguma represália de Cunha, seguindo o padrão de levantar agendas antigoverno como forma de angariar apoio da oposição, isolar o PT, desgastar Temer e mostrar que, na Câmara, ele é quem manda. Os outros ou obedecem ou são derrotados e humilhados publicamente.
Por enquanto, o único que parece capaz de enfrentar o estilo truculento do presidente da Câmara e impor-lhe uma derrota substantiva é o Supremo Tribunal Federal, no curso das investigações do processo da Lava Jato, em que Cunha é citado.
(*) Antonio Lassance é cientista político.
Distritão foi o apelido dado à proposta encampada pelo PMDB, arquitetada pelo vice-presidente da República, Michel Temer. Se adotado, o Brasil passaria a eleger vereadores e deputados estaduais e federais pelo sistema majoritário, em que é eleito o candidato mais votado, independentemente de coligações. Haveria um único distrito (o município, para vereadores, e o estado, para deputados estaduais e federais).
Zarattini postou em vídeo a posição agora defendida pelo PT na comissão da reforma política, precedida por um ataque ao distritão.
O PT defende o voto proporcional em lista - o eleitor votaria no partido, que ofereceria uma lista com os nomes e a ordem dos candidatos. Seriam eleitos os candidatos conforme o número de cadeiras proporcionalmente à sua votação, na ordem da lista.
O PSDB defende um meio termo, o voto distrital misto. Uma parte (que poderia ser metade, 1/3 ou 2/3) seria eleita pelo sistema proporcional, e a outra parte, pelo sistema majoritário, por distritos.
O presidente da Câmara dos Deputados quer a aprovação do distritão a toque de caixa. Diante da contrariedade do relator da reforma, Marcelo Castro (PMDB/PI), que também tornou-se opositor do distritão, Cunha chegou a humilhá-lo, chamando seu relatório de confuso e duvidando de sua "inteligência e perspicácia política".
A queda de braço entre Cunha e a comissão mostra como Cunha comanda a Câmara com mão de ferro e impõe um chicote ao PMDB, tratando seus correligionários como serviçais. As reclamações a esse respeito vêm de dentro do próprio PMDB.
A reação do PT envolve agora a tentativa de acordo com os demais partidos interessados em derrotar também o financiamento privado de campanha, que permanece legalizado pela proposta do relator peemedebista.
A iniciativa petista pode levar a uma derrota de Cunha e também do vice, Michel Temer. Ou pode suscitar alguma represália de Cunha, seguindo o padrão de levantar agendas antigoverno como forma de angariar apoio da oposição, isolar o PT, desgastar Temer e mostrar que, na Câmara, ele é quem manda. Os outros ou obedecem ou são derrotados e humilhados publicamente.
Por enquanto, o único que parece capaz de enfrentar o estilo truculento do presidente da Câmara e impor-lhe uma derrota substantiva é o Supremo Tribunal Federal, no curso das investigações do processo da Lava Jato, em que Cunha é citado.
(*) Antonio Lassance é cientista político.
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