Uma visão impessoal sobre a crise
Tenho ouvido falar de crise vinte e quatro horas por dia. Não nego
que ela exista. Nem eu e muito menos o mundo que passa por uma recessão
econômica histórica. Mas a análise da crise não pode nascer de
discussões efêmeras, muito menos no calor dos debates ideológicos
manchados por um ódio recíproco. A discussão sobre crise, se há, deve
ser permeada por seriedade, levando-se em conta os erros de cada um. O
que existe é uma acalorada troca de farpas da oposição contra o governo e
vice-versa, desvios de foco, debates menores e disse-me-disse. Enquanto
o governo e a oposição não estendem a discussão, a população
desinformada se perde em tendenciosas coberturas jornalísticas.
O governo tem uma parcela de culpa incontestável, sobretudo no campo da comunicação. Abdicaram do direito de informar ao brasileiro sobre os problemas que viriam. Os problemas alcançaram a população e o poder público se acovardou. Não foi corajoso o bastante para dizer ao povo o que de fato estava acontecendo. O maior erro de uma administração pública – e isso vale também para qualquer tipo de gestão – é lidar com a verdade ou saber o momento certo de expô-la. Faltam relações públicas no governo Dilma. Não se pode determinar a dimensão de uma crise se não há mapeamento da opinião pública. O governo parece querer isolar-se de uma crise que precisa ser debatida por ele e por todos os brasileiros.
A oposição nega-se a debater. O que eles querem de verdade é assumir o poder e pronto. Assumir o poder numa condição de crise somente define a incapacidade dos oposicionistas. Eles não estão lutando pelo Brasil; estão lutando por ascensão ao poder. O principal nome da oposição é Aécio Neves, do PSDB. Desafio qualquer um a me apresentar uma matéria em que Aécio esteja discutindo ou debatendo a crise com propostas definidas e claras para o Brasil. Se a oposição estivesse mesmo interessada em ajudar o governo a sanar a crise, mesmo havendo divergências partidárias, encontraria uma maneira de intervir positivamente, mesmo que fosse no campo das ideias. A grande verdade é que o Brasil tem um governo deficiente em se expressar e não tem uma oposição política.
Não adianta bater panelas. O som que sai delas pode atrapalhar um discurso ou silenciar uma fala. Mas o que significa a codificação do som de uma panela para a política? O que representa uma panela batendo quando as bocas estão em silêncio, incapazes de discutir de fato a crise? É preciso pensar que estas pessoas a bater panelas são oriundas das classes média alta e alta, e, certamente, receberam boa educação. Em vez de definirem um discurso superior sobre a crise, sobre as falhas do governo, sobre o que não aprovam dos partidos políticos, reservam-se ao pré-histórico ato de bater uma coisa na outra para chamar a atenção. Um comunicólogo não conceber este gesto com normalidade. Quem bate panelas está muito mais abdicando do direito de se expressar do que aqueles que soltaram a voz.
A crise política não é determinada somente pelos erros governo. Existem tantos fatores que permitem a variação da crise que só mesmo um néscio seria capaz de enxergar erro numa de suas causas. Caso acontecesse, a queda do governo apenas acentuaria a crise no Congresso, nas ruas e aí sim, teríamos uma fase desgastante para a nossa política. Não seria um novo presidente o salvador da pátria e nem mesmo teria ele, sob seus domínios, o Congresso, a imprensa e a opinião pública. Teria de enfrentar a crise econômica do mesmo jeito. Seria obrigado a enfrentar os mesmos dragões vistos por Dilma. O povo, que não é bobo, não divaga mais nestas tolices que a produção de sentido da grande mídia insiste em promover. Eles, os grandes grupos de comunicação, sempre têm interesses divergentes dos interesses populares. Deveriam ser os primeiros a promover um debate claro sobre a crise. Não o faz. Mais vale um país e um governo na berlinda do que a bonança e o populismo.
A uma só voz, os manifestantes continuam a demonizar partidos e figuras políticas. Passamos por um momento turbulento em que não se respeita mais a opinião alheia, porque ou se é “coxinha” ou “petralha”. Sou do tempo em que petista era o cidadão afiliado ao Partido dos Trabalhadores. Hoje, o petista é definido pela simples opinião favorável ao governo. É como se os cidadãos favoráveis ao governo FHC tivessem que ser tratados como tucanos, mesmo não sendo afiliados ao PSDB. Há uma generalização ao ódio e ao embate que trava qualquer tipo de discussão, porque elas sempre vão terminar em ofensas, e o pior, em ofensas pessoais. Isso representa o travamento de qualquer debate. Se as pessoas não têm interesse em debater a política em alto nível, por favor, não me chamem para a discussão.
*Mailson Ramos é escritor, profissional de Relações Públicas e autor do blog Nossa Política. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político.
Mailson Ramos*
O governo tem uma parcela de culpa incontestável, sobretudo no campo da comunicação. Abdicaram do direito de informar ao brasileiro sobre os problemas que viriam. Os problemas alcançaram a população e o poder público se acovardou. Não foi corajoso o bastante para dizer ao povo o que de fato estava acontecendo. O maior erro de uma administração pública – e isso vale também para qualquer tipo de gestão – é lidar com a verdade ou saber o momento certo de expô-la. Faltam relações públicas no governo Dilma. Não se pode determinar a dimensão de uma crise se não há mapeamento da opinião pública. O governo parece querer isolar-se de uma crise que precisa ser debatida por ele e por todos os brasileiros.
A oposição nega-se a debater. O que eles querem de verdade é assumir o poder e pronto. Assumir o poder numa condição de crise somente define a incapacidade dos oposicionistas. Eles não estão lutando pelo Brasil; estão lutando por ascensão ao poder. O principal nome da oposição é Aécio Neves, do PSDB. Desafio qualquer um a me apresentar uma matéria em que Aécio esteja discutindo ou debatendo a crise com propostas definidas e claras para o Brasil. Se a oposição estivesse mesmo interessada em ajudar o governo a sanar a crise, mesmo havendo divergências partidárias, encontraria uma maneira de intervir positivamente, mesmo que fosse no campo das ideias. A grande verdade é que o Brasil tem um governo deficiente em se expressar e não tem uma oposição política.
Não adianta bater panelas. O som que sai delas pode atrapalhar um discurso ou silenciar uma fala. Mas o que significa a codificação do som de uma panela para a política? O que representa uma panela batendo quando as bocas estão em silêncio, incapazes de discutir de fato a crise? É preciso pensar que estas pessoas a bater panelas são oriundas das classes média alta e alta, e, certamente, receberam boa educação. Em vez de definirem um discurso superior sobre a crise, sobre as falhas do governo, sobre o que não aprovam dos partidos políticos, reservam-se ao pré-histórico ato de bater uma coisa na outra para chamar a atenção. Um comunicólogo não conceber este gesto com normalidade. Quem bate panelas está muito mais abdicando do direito de se expressar do que aqueles que soltaram a voz.
A crise política não é determinada somente pelos erros governo. Existem tantos fatores que permitem a variação da crise que só mesmo um néscio seria capaz de enxergar erro numa de suas causas. Caso acontecesse, a queda do governo apenas acentuaria a crise no Congresso, nas ruas e aí sim, teríamos uma fase desgastante para a nossa política. Não seria um novo presidente o salvador da pátria e nem mesmo teria ele, sob seus domínios, o Congresso, a imprensa e a opinião pública. Teria de enfrentar a crise econômica do mesmo jeito. Seria obrigado a enfrentar os mesmos dragões vistos por Dilma. O povo, que não é bobo, não divaga mais nestas tolices que a produção de sentido da grande mídia insiste em promover. Eles, os grandes grupos de comunicação, sempre têm interesses divergentes dos interesses populares. Deveriam ser os primeiros a promover um debate claro sobre a crise. Não o faz. Mais vale um país e um governo na berlinda do que a bonança e o populismo.
A uma só voz, os manifestantes continuam a demonizar partidos e figuras políticas. Passamos por um momento turbulento em que não se respeita mais a opinião alheia, porque ou se é “coxinha” ou “petralha”. Sou do tempo em que petista era o cidadão afiliado ao Partido dos Trabalhadores. Hoje, o petista é definido pela simples opinião favorável ao governo. É como se os cidadãos favoráveis ao governo FHC tivessem que ser tratados como tucanos, mesmo não sendo afiliados ao PSDB. Há uma generalização ao ódio e ao embate que trava qualquer tipo de discussão, porque elas sempre vão terminar em ofensas, e o pior, em ofensas pessoais. Isso representa o travamento de qualquer debate. Se as pessoas não têm interesse em debater a política em alto nível, por favor, não me chamem para a discussão.
*Mailson Ramos é escritor, profissional de Relações Públicas e autor do blog Nossa Política. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político.
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