MARCOS NOBRE
O JORNAL NASCEU quando se decretava o fim da arte e a morte da filosofia, no século 19. Com a rápida expansão da internet, foi o jornal que se tornou a mais nova vítima do serial killer “progresso”. Mas a questão aqui não é de atestado de óbito. É de saber se as práticas que esses nomes figuram podem adquirir novos sentidos ou não.
O jornal não é papel. É antes de tudo notícia. E é o formato notícia que está em crise há já algum tempo.
A notícia pretende separar o acontecimento de quem conta o que aconteceu, pretende separar o noticiário de artigos de opinião e de análise, distingue fatos de interpretações. O formato notícia pretende ter o monopólio da informação neutra e objetiva. Foi com base na notícia que o jornal construiu sua legitimidade e seu prestígio.
A internet minou essas distinções de maneira irremediável. Os processos colaborativos entre produção e consumo de informações, a cultura dos blogs, a proliferação acelerada de fontes virtuais destruíram na prática o monopólio do formato notícia.
Por Antonio José Soares Brandão
A omissão de notícias, a minimização ou maximização da importancia de notícias, a erosão do princípio da neutralidade na exposição de notícias por ideologia ou por outros interesses, a divulgação de notícias sem segurança de veracidade, a falsificação pura e simples de “notícias” visando interesses econômicos ou políticos, feriram de morte a importancia dos jornais. Tudo isso tem origens antigas, mas multiplicou-se por mil quando, na segunda metade do Século Vinte, acelerou-se o fenômeno da coisificação capitalista. Tudo que tem valor passa a ser uma coisa, com um papel a ser desempenhado nos mecanismos de mercado.
O jornal passou a ser uma “coisa”, uma mercadoria preciosa, com diversos vetores capazes de atuar no mercado. Isso transformou os jornais em poderosas e cobiçadas empresas, sujeitas majoritariamente a seus desempenhos de mercado. E isso afastou para o plano secundário aqueles princípios que embasavam o bom jornalismo. Consequentemente, a base daquele valor inicial do jornal, que é sua credibilidade, foi abalada.
É o mesmo fenômeno que gerou a atual crise financeira mundial. E assim como esta, a saída para os jornais também aponta na direção de uma maior regulamentação, que poderá advir de conselhos profissionais, associações nacionais e internacionais mas que, para salvar os jornais, terá que vir. E hoje, nas diversas atividades humanas, já há importantes movimentos de recuperação de princípios básicos e de limitações para a coisificação.
Nesse contexto, fica fácil compreender a atual crise da ABI. E quanto à Internet ela é bem diferente do jornal. É um fenômeno que vem somar e não substituir. Se está substituindo, é porque o jornal ficou fraco. É semelhante a um folheto passado de mão em mão, em países onde há censura de imprensa.
Fonte:Blog do Luis Nassif.
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