Mário Augusto Jakobskind.
Este 20 de dezembro faz dezenove anos que os Estados Unidos invadiram o Panamá sob o pretexto de combater o narcotráfico, que era representado no país pelo homem forte Manuel Antonio Noriega, um ex-agente da CIA que só foi defenestrado depois de tentar adotar uma política independente de Washington.
Antes da invasão, o governo anterior o de Bush pai, o de Regan, já tinha começado a adotar o esquema intervencionista, repetindo o que ocorreu de 1950-1953, quando a CIA derrubou Mossadeg no Irã colocando em seu lugar a tirania do Xá, que só foi derrotado em 1979 pelos aiatolás. Remete também a Guatemala de Jacob Arbenz, derrubado pela CIA e que originou a implantação de governos ditatoriais que dizimaram milhares de indígenas, em 1965, a invasão da República Dominicana para eliminar Juan Bosch e, em 1970-1973 quando a CIA primeiramente tentou impedir a vitória de Salvador Allende, no Chile e finalmente derrubou o presidente constitucional em 11 de setembro de 1973. Etc etc e etc.
Pois bem, Noriega preso e levado para os Estados Unidos, foi condenado a 40 anos de prisão. Quando as forças militares estadunidenses bombardearam a Cidade do Panamá provocando mais de duas mil mortes de populações civis, os invasores garantiam que extirpariam o narcotráfico. Agora, em 2008, segundo o jornalista Edgardo Garrido Pérez o comércio de drogas aumentou por lá.
Na Cidade do Panamá constantemente se reúnem chefes de várias quadrilhas internacionais de narcotraficantes, sob o olhar das autoridades. Em termos gerais, os panamenhos pobres ficaram mais pobres e os ricos mais ricos. Os vários governos, aliadíssimos do Departamento de Estado, adotaram políticas neoliberais de privatização como em outros países latino-americanos. A vida ficou ainda mais cara e a violência urbana também se ampliou.
Esta é a realidade panamenha que é silenciada pela mídia conservadora, cujos editores internacionais preferem omitir fatos a arriscar a discutir o significado da invasão do Panamá em 20 de dezembro de 1989, um ensaio do que viria ser um pouco mais tarde a primeira invasão do Iraque.
Armas mortíferas e ditas inteligentes
Nestas experiências com armas ditas inteligentes, milhares de inocentes perderam a vida. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que só no Iraque o número de mortos no Iraque com a ocupação dos Estado Unidos oscila entre 104 mil e 223 mil civis, além de mais de quatro mil soldados invasores e ocupantes.
Não é à toa que Bush ao fazer marketing em uma visita ao Iraque teve de se desviar dos sapatos do jornalista Muntadar-al Zaidi, que virou herói, não apenas no mundo árabe mas em outros rincões, pois o seu gesto representou a vontade de milhões e milhões de habitantes deste planeta.
Nervosismo da mídia hegemônica
Por aqui, a mídia hegemônica, representada por O Globo, não está agüentando assistir calada aos sucessivos encontros de cúpula entre dirigentes de países da América Latina e Caribe. Para O Globo e o Departamento de Estado foi demais ter de aturar calado a I Cúpula da América Latina e Caribe, realizada na Bahia, um evento histórico, pois pela primeira vez um encontro desta natureza ocorreu sem os Estados Unidos. E uma das decisões, contrariando interesses, os dirigentes partiram para a criação de uma nova OEA, sem os Estados Unidos e com denominação a ser ainda definida.
Imediatamente foram acionados os colunistas de sempre para afirmar que a Cúpula não deu em nada e assim sucessivamente. O noticiário da televisão do mesmo nome tentou de todas as formas jogar na divisão, dando ênfase a supostas disputas, muitas delas em fase de negociações e que não impedirão a verdadeira unidade dos países da região.
Quem imagina que os demais canais de televisão mudaram de enfoque em relação à Globo, engana-se. A cobertura além de pífia não passou de adotar posturas primárias e na base do senso comum, apostando também na divisão e não na unidade.
Mais uma de O Globo
Como se não bastasse tudo isso, O Globo ainda foi em cima do presidente cubano Raúl Castro, que numa coletiva em Brasília falou dos cinco cubanos presos nos Estados Unidos. O jornal da rua Irineu Marinho, seguindo a pauta do Departamento de Estado, classificou os cinco presos políticos cubanos nos Estados Unidos de “espiões”. Exatamente a mesma terminologia empregada pelos representantes da ultradireita do exílio cubano de Miami.
Os presos não são espiões. Estavam em Miami infiltrados em grupos extremistas do exílio cubano que tramavam atentados contra a ilha caribenha. Eles simplesmente colhiam informações para prevenir o governo de atentados terroristas. As autoridades cubanas inclusive alertaram autoridades estadunidenses sobre o que estava acontecendo. A resposta veio com a prisão dos cinco cubanos, que estão há mais de 10 anos (completados no último mês de agosto) em cárceres estadunidenses. Ou seja, a própria contradição de um Estado que se propõe a combater todas as formas de terrorismo.
Ou seja, em vez de prevenir o terrorismo, os Estados Unidos puniram quem alertava com o objetivo de evitar atentados. Uma contradição total, para não falar da aberração jurídica que significa a condenação dos cubanos.
Para se ter uma idéia, mas só uma entre muitas aberrações, o julgamento ocorreu exatamente na área de predomínio de grupos extremistas anti-Cuba, que ocuparam os espaços do Tribunal que julgava os cubanos.
Como Raúl Castro apresentou uma proposta de troca de prisioneiros entre Estados Unidos e Cuba, O Globo não se conformou chegando a afirmar que seriam trocados alhos (dissidentes) por bugalhos (espiões). O tijolo de O Globo fez o jogo. A proposta foi colocada e agora resta saber qual será a resposta de Barack Obama, que esquenta os motores para a posse em 20 de janeiro.
Ou seja, mais uma vez O Globo demonstra na prática o tipo de jornalismo que pratica. O que se pode esperar de quem não se conforma com um mundo novo que está sendo construído na América Latina e Caribe? Nada além do que a manipulação da informação e a edição de mentiras e meias verdades.
Fonte:Blog Fazendo Média.
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