Por Luciano Martins Costa.
As tradicionais retrospectivas do ano que chegam às mãos dos leitores e trazem algumas curiosidades. As duas revistas semanais de informações mais destacadas pela circulação, Veja e Época, optaram pelas notas curtas e muitas fotografias sobre o que seus editores consideram os mais importantes acontecimentos de 2008.
A crise financeira, as Olimpíadas na China e a eleição do futuro presidente Barack Obama nos Estados Unidos dominam o cenário, mas Veja dedicou muitas páginas às mulheres bonitas que protagonizaram escândalos ou que simplesmente apareceram bastante no ano que se encerra.
Difícil explicar como a briga de uma atriz com o namorado, por exemplo, pode ajudar o leitor a entender o que foram esses últimos doze meses.
A questão ambiental, que em 2008 ganhou bastante espaço na imprensa, aparece num mero registro, e os debates sobre sustentabilidade, que chegaram a ocupar um espaço maior depois da eclosão da crise financeira internacional, em setembro, simplesmente desapareceram das lembranças do ano.
Inversão de valores
Lidas cuidadosamente, como ocorre com as revistas de informação que se pretendem influentes, ou folheadas aleatoriamente, como as publicações de amenidades, que não pretendem outra coisa a não ser entreter os leitores, as edições de fim de ano dão na mesma: passam a impressão de que 2008 foi um ano como qualquer outro.
Foi, por exemplo, o ano em que a Polícia Federal bateu recordes de atuação. Foi o ano em que um lustroso banqueiro e empresário, celebrizado na imprensa por sua ousadia no processo de privatização das telecomunicações, acabou na cadeia. Por pouco tempo, é verdade, mas o suficiente para levantar o véu das relações suspeitas entre o dinheiro de origem duvidosa e certas autoridades da República.
Mas o personagem escolhido pela revista Veja para lembrar o episódio foi o delegado federal encarregado do inquérito, acusado de haver cometido abusos durante as investigações.
Resumindo o que a imprensa fez durante o ano, a revista termina 2008 invertendo valores, e estampa o retrato do delegado no lugar do vilão.
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Bolas de cristal
A imprensa tem publicado, nos últimos dias de 2008, tentativas de adivinhar o que vai acontecer no mundo com a eclosão da crise financeira internacional, que se tornou explícita no dia 15 de setembro. A maioria dos artigos e reportagens destaca a necessidade de mudanças nos hábitos de consumo, especialmente dos cidadãos americanos e europeus. A palavra de ordem é: mais responsabilidade com relação ao dinheiro.
O Globo traz na segunda-feira (29/12) uma reportagem de orientação sobre como proceder diante do cenário de dificuldades – como, por exemplo, pagar à vista sempre que possível e evitar o consumismo.
Diretores de alguns dos principais jornais do país já admitiram que a imprensa andou exagerando no catastrofismo, acabando por antecipar os efeitos da crise internacional no Brasil antes que ela de fato acontecesse. Ainda assim, os números da economia no período natalino estiveram longe de configurar uma recessão.
Por outro lado, a maioria dos especialistas escolhidos pelos editores coincide em prever que o Brasil será um dos países menos afetados pelas turbulências globais.
Ponto comum
Os heróis recentes da globalização, Índia e China, apresentados pela imprensa como exemplos que o Brasil devia seguir, são vistos hoje como países muito vulneráveis.
A China enfrenta o desafio de ter que trocar rapidamente seu modelo exportador pelo incentivo ao consumo interno. No entanto, o crescimento econômico do país nos últimos trinta anos se baseou na extrema exploração da mão-de-obra, e os especialistas têm dúvidas sobre a capacidade de compra do povo chinês.
A Índia, até recentemente apontada como sinônimo de pujança econômica, se vê obrigada a encarar seus milenares problemas sociais e se encontra na iminência de uma guerra com o Paquistão.
Não parece fácil para a imprensa brasileira falar bem do Brasil e é sempre difícil desenhar perspectivas de ano-novo. No entanto, em todas as tentativas de prever o futuro, jornais e revistas acabam coincidindo num ponto: o novo ano será difícil para todos, mas o Brasil pode chegar ao final dele com mais motivos para comemorar do que o resto do mundo.
Fonte: Observatório da Imprensa.
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