Saramago: "Mudar a vida exige que mudemos de vida"
Thais Bilenky/Terra Magazine
Saramago, em São Paulo, diz que mudanças significativas no mundo pós-crise estão nas vossas mãos
Nobel de Literatura em 1998, doutor em máximas, autor de livros traduzidos até para a língua persa, José Saramago retornou ao Brasil, aos 86 anos - e após perder mais de 20 quilos -, para lançar seu último romance, A viagem do elefante.
Em rápida conversa com Terra Magazine, Saramago mostra doçura nos olhos que há pouco se recuperaram da visão da morte. Uma pneumonia o manteve hospitalizado por meses e interrompeu provisoriamente a escrita da nova obra.
O escritor português acredita que nada poderá fazer a economia mundial se recuperar da crise dos mercados - salvo as pessoas.
Terra Magazine - A crise financeira fará com que a atividade humana fique mais essencial, nuclear?
José Saramago - Não sei como posso responder. Não sabemos como vamos chegar ao fim.... Não sabemos em que estado ficaremos. O que eu posso dizer é que... estão dizendo que vão refundar o capitalismo! (adota expressão incrédula) Mas como disse antes, não temos alternativa política. A esquerda não tem alternativa política, não está organizada. Os sindicatos estão de restos. Então o que é que vamos fazer?
Ficaremos mais criativos com menos dinheiro?
Evidentemente. Mas o mundo não se volta para coisa nenhuma se nós não nos voltarmos. Somos nós que temos que nos voltar. Se vamos eu não sei. Escrevi um dia assim: "não mudaremos a vida... se não mudarmos de vida". Entende? Para mudar a vida é preciso que nós mudemos de vida. Seremos capazes disso? É o que está nas vossas mãos.
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Crise
Para Saramago, desenvolvimento sustentável requer geração de emprego. O escritor diz que tem a idéia antiga de que os humanos podem "viver como sobreviventes. Poupando, não desperdiçando".
"Os que se dizem de classe média já não estão mais lá (na classe média) - estão caindo, já caíram", avalia o escritor. "Os senhores responsáveis por tudo isso (crise econômica mundial) não são ricos, são riquíssimos, são multimilionários. Eles, os empresários, estão a se servir de nós. Nos fazem de bobos", critica.
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Máximas espontâneas e recentes:
- Não sou pessimista. O mundo que é péssimo.
- Não há direitos humanos.
- A humanidade não merece a vida.
- Uma boa doença vale por toda a obra de Paulo Coelho.
- A narrativa é a correnteza que nos leva, embora (sejamos) nós que guiamos o barco.
Terra Magazine
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