Por Sabrina Domingos, do Carbono Brasil
A exigência do mercado tem feito com que os responsáveis pelo agronegócio brasileiro busquem alternativas mais sustentáveis para expandir a produção. Um dos caminhos é o fortalecimento da agricultura familiar, que estava reduzida no país nas últimas décadas. As mudanças aplicadas na política do governo, aliadas a uma maior conscientização da sociedade quanto à origem dos produtos que consomem, têm impulsionado o agronegócio familiar, principalmente na área de biocombustíveis, afirma o diretor da Hecta - Desenvolvimento Empresarial nos Agronegócios, José Carlos Pedreira de Freitas.
“Dos 5,2 milhões de produtores que temos hoje no Brasil, cerca de 4 milhões são familiares e produzem principalmente frutas, verduras, leite, café e flores”, destaca.
Freitas diz que até pouco tempo esses agricultores estavam fora do modelo, desenvolvido na década de 1960 e que beneficiava a grande produção. ”O que havia era um modelo baseado em um paradigma de abundância e uso intensivo dos recursos naturais, do capital, dos combustíveis fósseis (como o diesel) e dos insumos sintéticos”.
O diretor afirma que hoje estamos entrando em um novo paradigma, baseado na produção sustentável e que exige uma transformação da cultura. “É um paradigma da inclusão, para evitar a migração do campo”, explica, lembrando que os combustíveis fósseis e os insumos sintéticos atualmente são caros e nocivos ao meio ambiente. Por isso, acrescenta ele, é preciso desenvolver novas tecnologias voltadas para a preservação da natureza.
Freitas diz que estamos vivendo a transição de uma era dos recursos fartos e mal aproveitados para uma de consciência ambiental. “Prova disso é a importância que se tem dado à agricultura orgânica e aos estudos de agroecologia”, enfatiza.
O valor que a sociedade tem atribuído aos produtos orgânicos aumenta a renda dos pequenos produtores, que investem na agroindústria artesanal para produzir compotas, conservas e outros itens de valor agregado dentro da propriedade, com apoio da família, sem precisar deixar o campo para garantir a subsistência.
“A agricultura familiar é responsável por 75% do abastecimento interno de alimentos no Brasil”, afirma Freitas. Ele diz que as pequenas propriedades, apesar de serem locais e pulverizadas, fazem toda a diferença na cadeia de produção: “Cerca de 92% dos produtores de leite do país possuem até 20 vacas, são muito pequenos”.
Latifúndios
Apesar de a agricultura familiar e orgânica estar ganhando mais destaque no cenário nacional, as grandes propriedades continuam sendo as maiores fornecedoras do mercado externo. Mas as exigências internacionais também estão cada vez mais rigorosas, obrigando os grandes produtores a se adequarem à nova onda de sustentabilidade.
O pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, Ariovaldo Luchiari Junior, diz que a rastreabilidade do produto - para verificar toda a cadeia de produção, do campo até as gôndolas dos supermercados - é requisito essencial para a exportação; assim como o cumprimento de práticas agrícolas, de legislação ambiental, social e trabalhista.
“Uma série de usinas do Nordeste já possui certificação ISO 14000, que é uma exigência internacional, e muitas estão reconvertendo áreas de plantio para garantir o seu mercado”, afirma Luchiari.
Ele diz que a modernização no campo é fundamental, pois não existe mais espaço para produtores que desejam manter grandes extensões de terra com baixo índice tecnológico – o que, segundo ele, significa uma expansão de desordenada.
Para garantir o lugar ao sol, os grandes produtores buscam melhorar suas práticas. Na área trabalhista precisam cumprir a legislação fornecendo melhores condições aos funcionários, que têm direito a equipamentos de proteção individual, carga horária dividida em turnos, banheiros químicos e local adequado para as refeições no campo.
Há também os que prefiram mecanizar a produção para cortar custos, já que o mercado de máquinas agrícolas fornece equipamentos como uma colheitadeira de laranja capaz de substituir sozinha o trabalho de 120 homens.
Na área ambiental, uma preocupação constante dos produtores deve ser com a redução de emissão de gases causadores do efeito estufa. Para aumentar a eficiência da produção de forma sustentável, Luchiari sugere a adoção de práticas como o plantio direto, a substituição de combustíveis fósseis por renováveis, o uso de adubo orgânico, além da produção integrada de frutas e de grãos.
Freitas vai além, defendendo a integração de lavoura, pecuária e floresta para aumentar a produtividade de um mesmo espaço de terra. “Temos muitas áreas de pasto degradadas no Centro-Oeste, onde é possível aumentar em cinco vezes a quantidade de cabeças de gado”, propõe.Fonte:Envolverde.
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