Válter Maierovitch
Faz 30 anos. No mês de março de 1979, Israel e Egito celebraram um tratado de paz, em Washington. Referido tratado foi antecedido por dois acordos firmados em setembro de 1978, em Camp David, onde ficava a residência de campo do então presidente norte-americano Jimmy Carter.
Logo após a celebração do tratado de paz, a Liga Árabe expulsou o Egito, 18 países viraram-lhe as costas e tiraram os embaixadores do Cairo. Esse tratado inspirou a Jordânia, que quinze anos depois acertou a paz com Israel.
A esquerda e os pacifistas, conforme lembrou o hoje célebre escritor esquerdista Amos Oz, pressionaram o governo do direitista Menachem Begin e, com a habilidade, Carter convenceu o presidente Anuar Sadat, do Egito.
Neste março de 2009, tudo está diferente, para pior. Mudanças radicais, 30 anos depois.
O futuro ministro de relações exteriores de Israel será Avigor Lieberman, um laico votado por judeus russos e que já mandou para o inferno o presidente Osny Mubarak, do Egito.
Não bastasse, Liberman, radical líder do partido Israel Beitenu (Israel a nossa casa), falou em bombardear a represa de Assuã e inundar o Egito, caso necessário.
Como se percebe, Lieberman não reúne nenhum dote para ocupar uma pasta de relações exteriores. Serviria melhor como embaixador na Moldávia, onde nasceu e é íntimo do ditador do país, de quem é conselheiro. Antes de Lieberman assumir o encargo, a mídia israelense já informou que ele tem um projeto secreto para novos assentamentos em terras palestinas.
O futuro premier, Benjamin Netanyahu, não é favorável a acordo de paz com os palestinos. Netanyahu vai apresentar, nas próximas horas, o seu governo ao presidente Shimon Peres.
Do novo governo fará parte, também, o Shas. Ou seja, o partido religioso ortodoxo, liderado por Eli Ishai.
No governo de Bibi Netanyahu, o ortodoxo Eli Ishai, de 46 anos, será vice-premier e ministro do interior (segurança interna).
Ishai é favorável à volta das colônias extintas quando era ministro Ariel Sharon e, também, quer ocupar todas as terras palestinas controladas por Israel. No particular, o laico Liberman se afina com o fundamentalista Ishai.
No último 25 de março, para surpresa geral, o partido trabalhista, de Ehud Barak, se juntou ao Likud de Natanyahu, a jogar no lixo seu passado histórico e tradições socialistas.
Embora internamente os trabalhistas estejam rachados em razão do apoio, Barak será o único, no novo governo, a falar em paz com os palestinos. Ele vai continuar na pasta da defesa.
Relativamente ao clima de paz, o março de 1979, do Tratado com o Egito, é bem diferente do março de 2009, que finda hoje. O Kadima, de Tzipi Livni, vai para a oposição (ganhou a eleição mas não fez maioria). Já com o Kadima (centro-direita) pouco se podia esperar em termos de paz. Basta lembrar que foi o Kadima, pela chanceler Tzipi e a forçar o desprestigiado premier Ehud Olmert, a promover a sangrenta, criminosa e irracional guerra contra o Hamas, a matar civis inocentes na faixa de Gaza.
Esse quadro é analisado no livro do peruano Mario Vargas Llosa, considerado um dos maiores escritores da língua espanhola.
Na véspera do lançamento para todo Europa do seu livro “Israel e o Pacifismo Desaparecido” (tradução livre), Vargas Llosa escreveu como os pacifistas perderam força e quase desapareceram :
- “ Passei boa parte dos anos 70 a defender Israel contra os escritores latino-americanos de esquerda que por conformismo atacam o sionismo e o imperialismo norte-americano. Nunca me arrependi de haver combatido esses exageros e de ter defendido o direito de Israel de existir e de garantir a sua segurança.
“ Além disso, sempre acreditei, e escrevi, que tal direito, a meu juízo, os israelenses conquistaram não por razões divinas ( nas quais, por ser agnóstico, não acredito), mas pelo fato de haver construído Israel praticamente do nada, com o seu suor e as suas lágrimas.
“Em muitas ocasiões, e a cada vez que estive em Israel – exceção à última sobre a qual trato no livro–, sempre encontrei um setor significativo da sociedade israelense que, enquanto lutava para a sobrevivência do pais contra aqueles que se empenhavam em destruí-lo, desejava a paz, o diálogo com os palestinos e reconhecia a eles o direitos deles de possuir um Estado soberano. . .”
Para rematar, Vargas Llosa destaca: –“ Houve um enfraquecimento e um quase desaparecimento em Israel da influente força eleitoral representada pelos partidos da paz e da coexistência. . . Deram lugar aos da exaltação de um arrogante extremismo, com a convicção de que a única política para garantir o futuro de Israel fosse a supremacia militar, a repressão sistemática e a intimidação aos palestinos, isto até a obrigação de aceitarem uma paz imposta, na qual os territórios do futuro Estado palestino seriam restritos . . .”
PANO RÁPIDO. A mudança de posição de Vargas Llosa merece reflexão. Pelo jeito, a esperança de paz está fora de Israel, ou seja, na Casa Branca, com Barack Obama a enquadrar Netanyahu, como, em outra ocasião, fez Bill Clinton, com a célebre pergunta: “o senhor por acaso é presidente da maior potência do planeta ? Netanyahu colocou o rabo entre as pernas e baixou a crista.
Fonte:Blog Sem Fronteiras.
Um comentário:
Prezado Carlos Dória, na minha modestíssima opinião os EUA nunca mais vão conseguir ser a potência que foram. Bush acabou com o país, irreversivelmente. O próximo país em que ocorrerá o mesmo é justamente Israel. É impossível que trogloditas no poder consigam outro resultado que não seja a "desgraceira " total. Antonio.
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