DIRCEU AFIRMA - “Dilma Rousseff é competitiva para ir ao segundo turno"
- Tribuna do Norte Anna Ruth Dantas - Repórter
Ex-ministro da Casa Civil e ex-deputado federal, José Dirceu quer voltar a disputar cargos eletivos. No momento, ele é inelegível, porque teve o mandato de deputado cassado na época das denúncias do mensalão. Mas já traça uma estratégia para mudar o cenário. Acredita que será absolvido no Supremo Tribunal Federal, onde responde à acusação de que operacionalizava o mensalão. Em seguida, pedirá anistia na Câmara dos Deputados. Caso seja “anistiado”, ele estaria liberado para disputar um cargo eletivo. “Dia e noite eu trabalho para que meu processo seja agilizado no Supremo Tribunal Federal. Já fui inocentado de outros e serei desse. E depois disso (de ser inocentado) peço anistia na Câmara”, ressaltou o ex-ministro. José Dirceu evitou falar sobre cargo que almeje disputar, mas observou que é um ardoroso defensor do Congresso Nacional. Embora não tenha mais um cargo na executiva petista, o ex-ministro fala como líder político e se mostra empolgado com a candidatura da ministra chefe da Casa Civil, Dilma Roussef. Mesmo o governador de São Paulo José Serra liderando as pesquisas eleitorais, Dirceu observa que não é momento de se intimidar com os números. Sobre o pleito de 2010, a crise econômica e o processo de anistia, José Dirceu concedeu a seguinte entrevista para a TRIBUNA DO NORTE.
Como o PT local deve discutir a formação de alianças para a disputa eleitoral de 2010?
Fazia meses que eu não vinha aqui. Tomei conhecimento hoje [das discussões no Estado sobre alianças], conversando aqui com os companheiros. Acredito que o PT no Rio Grande do Norte tem que pensar na questão nacional e realmente trabalhar pra formar uma colisão mais próxima possível da colisão nacional. Tem que discutir com a governadora, com o vice-governador, com o PMDB e demais aliados. O importante é que o PT tenha um papel ativo. Converse rapidamente com a governadora e com os partidos e construa uma aliança que apoie a ministra Dilma, porque nós temos sempre que olhar a questão nacional dos estados. O PT precisa ampliar seu número de deputados também e ter uma influência maior na Assembleia e em Brasília [com a eleição de deputados federais]. Agora, na verdade, eu sou daqueles que, se depender de mim, seguro um pouco essa questão sucessória, porque eu acho que a prioridade é enfrentar a crise.
Como o senhor observou a declaração do presidente Lula de que a crise era apenas uma “marola”?
Veja bem, eu acho que o presidente fez bem, porque naquele momento havia um péssimo muito grande e uma tentativa de importar do exterior a crise para o Brasil e criar, também, uma crise política, afirmando que país iria parar e isso não era verdade, como não é. O Brasil não é Estados Unidos nem Europa. O Brasil não tem problema imobiliários e créditos podres. Não tem problema no sistema bancário e financeiro. O Brasil está crescendo, tem reserva e pode usar as reservas. O Brasil tinha os compulsórios e usou. O Brasil podia reduzir os juros e superávit, como está reduzindo. O Brasil tinha o PAC, tinha distribuição de rendas, aumento salarias, criação de dez milhões de empregos. Enfim, estava forte. O presidente quis evitar que houvesse um péssimismo no país. A crise chegou, mas vamos sair dela. Tudo indica que nós sairemos. E, no final do ano, o Brasil já estará crescendo 3%.
Como é o relacionamento do senhor com o governo federal e a presidência da República?
Eu não sou dirigente do PT, nem estou no governo agora. O presidente é meu amigo, ele mesmo fez questão de declarar em uma entrevista. Não ex-”companheiro” não, mas sim “meus companheiros”, “meus amigos”, falando sobre o deputado federal Antônio Palloci e de mim. Então, nos falamos quando tem necessidade. Eu não estou no governo nem no palramento. Se eu estiver no palramento, estaria mais com o Presidente. Se eu estivesse na direção do PT, talvez também estaria mais, porque seria uma necessidade. O presidente conversa comigo conforme a necessidade. Ele se encontra comigo quando tem convenção do PT, fim de ano, reunião familiar. Então nós somos amigos. Não tenho é o mesmo papel que eu tinha até o ano 2005.
E como está o processo que o senhor responde no Supremo Tribunal Federal no caso das denúncias do mensalão?
Numa entrevista anterior o senhor se mostrava injustiçado, ainda traz esse sentimento de injustiça?
Veja bem, eu já fui absolvido em dois processos na 1ª instância. Em todas as investigações, inquéritos, CPI´s que fizeram, inclusive inquéritos em Correios. O irmão de Celso Daniel já se retratou em juízo e no caso Waldemiro Diniz eu também fui inocentado. Então me sinto numa posição de quem, na verdade, quer justiça. Eu não sou nem citado. Eu estou numa posição de quem quer justiça. Quero que o Supremo me julgue o mais rápido possível. Eu faço tudo para ser o mais rápido e fico satisfeito agora que o Supremo tenha tomado uma séries de medidas para o julgamento acontecer o mais rápido possível. Esse julgamento deve ser em 2011. Gostaria de ser julgado neste ano, porque já são dois anos. A denúncia chegará a três anos agora em fevereiro. Os fatos já vão cumprir cinco anos, quatro anos. Eu quero ser julgado. Tenho certeza de que vou ser absolvido.
Senhor tem vontade de volta para a política?
Eu quero que o Congresso me anistie [a decisão precisa ser tomada na Câmara e depois no Senado]. Depois eu vou avaliar. Eu estou com restrições, participo dentro das minhas limitações, com humildade, apreendendo muito com os erros que eu cometi e procurando estudar. Na vida agente precisa reconhecer os erros também. A única coisa que eu não aceito são as acusações que estão me fazendo, porque eu não sou culpado delas. Não é fato que eu fui chefe do Mensalão e muito menos que eu pratiquei algum ato de corrupção. Pelo contrário, em 40 anos da minha vida pública nunca fui sequer investigado. Eu nunca respondi em um Conselho de Ética. Eu não fui advertido pelo Tribunal de Contas, nunca tive absolutamente nada, e olha que eu fiz muita coisa na vida, de 65 até 2005, então a única coisa que eu quero é justiça.
O senhor falou de rever a questão de erros. Qual foi o principal que o senhor cometeu?
Nós devíamos ter priorizado o PMDB como aliado desde o início do governo. Devíamos ter dado mais atenção ao partido, mais atenção à mobilização da própria sociedade. Devíamos ter feito a reforma política. As outras questões envolvem mais política econômica, estabilidade dos movimentos.
A redução do índice de popularidade do governo Lula pela primeira vez no segundo mandato, como mostraram as pesquisas CNI/Ibope e Datafolha, é o reflexo da crise econômica?
Não. Eu não acredito que hoje houve uma redução da popularidade do presidente porque ele estava com 65% de aprovação antes da crise. É isso que diz a pesquisa. Voltou para 65%. Não acredito que isso tem relação com a crise. O apoio às medidas do governo é grande na pesquisa. Os brasileiros que concordam com o presidente. A crise não vai atingir o Brasil como está atingindo os outros países também. É a maioria que avalia assim. Então acredito que é uma oscilação natural. Não vejo a pesquisa como algo que mostra uma tendência de queda para o presidente, até porque acredito que nós vamos voltar a criar empregos no próximo bimestre e a arrecadação vai se estabilizar. O governo está baixando o superavit, vai baixar mias os juros e está lançando o programa de construção de casas populares. O governo vai tomar medidas para os frigoríficos no setor cafeeiro e vai manter os investimentos do PAC, além dos investimentos sociais. O Brasil vai sofrer os reflexos da crise internacional, porque o crédito desapareceu e caiu o comércio muito, o preço das matérias primas, alimentos. Os investimentos de capital serão menores, mas nada que eu acredite que seja atribuído ao governo, ao presidente.
O povo sabe que a responsabilidade da crise não é do governo.A crise econômica pode ter tem uma implicação política para o Presidente Lula, dificultando a campanha do nome que ele apoiar para a sucessão?
Poder, pode. Mas não necessariamente. Vi governo muito bom perder eleição e governo ruim ganhar eleição. Não necessariamente eleição sempre está ligada à questão econômica. Lógico que a questão econômica pesa nas eleições. Tem a famosa frase: “É a economia estúpido”. Isso surgiu por causa da eleição nos Estados Unidos do Clinton, se não me engano. Mas não acredito que um ano, seis meses ou dois trimestres de crise afetem seis anos de crescimento, dez milhões de empregos criados e os programas sociais. São esses os motivos do apoio que o governo tem no país. É um governo que mudou a qualidade do crescimento, do mercado interno, a distribuição de renda. Fez investimentos importantes na infraestrutura do país. O governo mudou a imagem do Brasil no exterior. Tudo isso pesa na avaliação que o eleitor, o cidadão e a cidadã faz do governo Lula. Não vejo que a crise econômica vai decidir a eleição de 2010, até porque a crise econômica é dos governadores também. Eu sempre falei isso, até escrevi no meu blog há 60, 90 dias. Aqueles que estão dizendo que nós vamos responder pela crise, estão esquecendo que São Paulo e Minas Gerais [os governadores dos dois estados, José Serra e Aécio Neves, são do PSDB] serão os estados mais afetados pela crise. Minas, por causa da siderurgia, da mineração, e São Paulo por tudo. São Paulo é finança, serviços, importação, agroindústria, indústria automobilística e construção civil. Metade dos desempregos deste período está em São Paulo. Acho que todos são afetados pela crise, que deve ser enfrentada por todos no país. Todos deviam se unir para enfrentar essa crise. Não deviam envolver problemas políticos ou eleições no enfrentamento da crise.
Outros países estão unidos para enfrentar o problema, até porque é uma crise mundial e grave.
Como o senhor avalia a situação da candidatura da ministra Dilma Russeff?
Ela dobrou 50% na pesquisa agora da Folha São Paulo. Ela vem crescendo no PT. Tem aumentando o apoio a ela. Eu diria que a ministra Dilma Rousseff tem uma maioria razoável no PT. E ela também vem se apresentando. O país tem que conhecer a Ministra Dilma, a mulher, a ministra, a resistente da ditadura, a técnica, a militante política, a mãe, a profissional. Acho que é muito importante ela ser mulher. Isso vai ter impacto grande na eleição. Acho que está todo mundo subestimando isso. Ela pode ser presidente do Brasil. As mulheres vão votar na Dilma. É um equivoco não avaliar isso. Além disso, ela tem apoio do Presidente, do PT, de uma coalizão de partidos então é uma candidata competitiva para ir ao 2º turno. Acredito que a tendência do país não é entregar para a oposição, não é votar no PSDB, não é voltar à Era de Fernando Henrique Cardoso. A tendência do País é dar continuidade ao que o presidente Lula fez nestes oito anos. Eu não vejo o país querendo mudar de rumo, de governo. E também não vejo a oposição com propósito. Ainda não ouvi e nem vi, nos meios eletrônicos, o PSDB apresentar uma proposta para o país.
Eles apresentam é mais o discurso de oposição.
Quem o Senhor preferia que a ministra enfrentasse?
Eu acho que é indiferente. Cada um tem as suas qualidades, seus defeitos, como todos nós temos, suas vantagens e desvantagens. É indiferente enfrentar um ou outro. O governador Aecio Neves tem mais apoio em Minas Gerais e o governador José Serra tem em São Paulo. Minas Gerais não quer um presidente paulista. Isso é um problema. Há um sentimento em Minas Gerais muito forte para um mineiro ser presidente da República. Aécio se beneficia disso. Lula também ganhou as eleições em Minas é lá Aécio Neves tem força. O José Serra é um candidato que já perdeu uma eleição. Tem suas qualidades e seus defeitos. Eu diria que o candidato Aecio tem mais carisma, pode ter um discurso mais atrativo que Serra. Mas Serra é o candidato com mais experiência de governo de vida
O presidente Lula considera importante ter o apoio do PMDB?
O PMDB é importante como aliado, mas isso não significa que nós não podemos ganhar uma eleição sem o apoio do partido. Ganhamos duas aliás. O PMDB apoiou Serra em 2002. Ficou neutro em 2006. Mas, é importante e fundamental o apoio do partido. Eu sou o maior defensor. Na minha avaliação o PMDB vai conosco na sucessão presidencial. É parceiro nosso. Há setores do PMDB que vão apoiar José Serra. Isso é público e notório. Há setores que podem ficar neutros. Alguns setores do PMDB clamam pela candidatura de Aécio Neves. Mas isso é irreal. Aécio não vai sair do PSDB para ir para o PMDB disputar uma convenção que pode perder. Pode não ter o PMDB. Lembre de Garotinho [ex-governador do Rio de Janeiro], que era candidato e ganharia a prévia do partido. Depois não teve o apoio necessário.
Fonte:Blog Por Um Novo Brasil.
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