quinta-feira, 26 de março de 2009

REMESSA DE LUCROS SANGRA O BRASIL.

Tais remessas são uma consequência da privataria da era FHC.Jango Goulart pretendia regulamentá-las e isso foi uma das causas da sua deposição.
Carlos Dória

Nos dez primeiros dias do mês de março, as multinacionais transferiram para as suas matrizes no exterior US$ 3,266 bilhões. A sangria foi maior do que em todo o mês de janeiro e indica que a questão da remessas de lucros torna-se um gravíssimo problema para o Brasil num momento de acirramento da crise mundial capitalista.

A denúncia, feito com base em dados oficiais do Banco Central, foi publicada por Carlos Lopes, editor do jornal Hora de Povo, e deveria servir de alerta às autoridades econômicas do país, antes que a `marolinha` se transforme de vez num tsunami.

`Entraram no país US$ 7,169 bilhões, somando dinheiro meramente especulativo (que tem como destino a Bolsa de Valores ou títulos públicos), o investimento direto estrangeiro` (dinheiro para comprar empresas, ampliar a participação acionária externa ou empréstimos da matriz à filial de empresa estrangeira) e empréstimos externos para empresas brasileiras.

`Segundo o BC, a maior parte do que entrou deveu-se, principalmente, às ?operações financeiras`. Porém, saíram US$ 10,435 bilhões em remessas de lucros e dividendos. Portanto, o país perdeu US$ 3 bilhões e 266 milhões em apenas dez dias`, enfatiza Carlos Lopes, para quem esta sangria é criminosa.

A herança maldita de FHC

O jornalista, um nacionalista convicto, acompanha com preocupação o aumento da remessa de lucros nos últimos meses. Ele já havia denunciado, em outro artigo, que em janeiro as perdas foram de US$ 2,251 bilhões; em fevereiro, o resultado preliminar indicou perda de US$ 2,30 bi. Agora, em apenas dez dias, a sangria já atinge US$ 3,266 bilhões.

`Isto mostra que as empresas estrangeiras estão acelerando a drenagem de recursos do país e que a conta do entreguismo de Fernando Henrique e comparsas, com suas comemorações aos bilhões de dólares que entraram no país para comprar empresas públicas e privadas, tende a ser cobrada de forma dramática`.

Antes mesmo da eclosão da atual crise mundial, a política entreguista de FHC já tinha cobrado o seu preço. De 1999 até 2006, entraram no país US$ 124 bilhões e foram remetidos ao exterior US$ 223 bilhões - saldo negativo de US$ 99 bilhões.

`Mas, se isso já era verdade antes da crise, quando esta aparece, a drenagem de recursos dos países onde os monopólios externos têm filiais torna-se, na razão direta do pânico e do rombo a cobrir, mais e mais desesperada. Assim, a crise começou em setembro e as multinacionais remeteram US$ 57,234 em 2008, o que significa que num único ano elas remeteram para fora um quarto do que enviaram em oito anos (1999-2006)`.

Medidas drásticas contra a sangria

Como observa Carlos Lopes, as multinacionais não têm qualquer compromisso com o Brasil. `O compromisso desse capital é com sua matriz - no máximo, com algumas camadas de seu país de origem. Não é com o nosso País`.

`O seu inchaço aqui dentro serve apenas para aumentar de forma gigantesca as remessas de lucros ao exterior, tanto as oficiais quando as disfarçadas sob a forma de empréstimos à matriz, royalties, etc. [...].

`Com a crise, obviamente, essa drenagem de recursos tende a ser tornar avassaladora. Ao mesmo tempo, os saldos comerciais tendem a ser menores - em janeiro, tivemos o primeiro déficit comercial mensal em oito anos`, escreveu em outro texto.

Estes números alarmantes mostram que o governo Lula necessita, urgentemente, tomar medidas para conter a sangria de recursos. Como afirma Carlos Lopes, as potências imperialistas `estão tentando se proteger, ou escapar da crise, às nossas custas. O que significa que nós devemos nos proteger da sanha deles`.

Medidas efetivas, como o controle da remessa de lucros e do fluxo de capitais, que tanto aterrorizam os neoliberais - inclusive alguns infiltrados no atual governo -, deveriam voltar a fazer parte da agenda política num momento em que o capitalismo afunda e tenta repassar o ônus da crise para as nações periféricas e para os trabalhadores.

Altamiro Borges é jornalista, editor da revista Debate Sindical e autor do livro `As encruzilhadas do sindicalismo` (Editora Anita Garibaldi, 2ª edição)

Publicado originalmente: DIAP – Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (www.diap.org.br).
Fonte:AEPET

Nenhum comentário: