Nidia Díaz
PARA alguns poderá parecer incrível o surgimento na Bolívia de um grupo de mercenários internacionais com o sabido propósito de conseguir, pela via do terrorismo armado, a secessão de Santa Cruz e sua posterior declaração como novo Estado, quebrando a unidade nacional dessa nação andina.
Os que acompanhamos de perto os acontecimentos desse país irmão desde a posse do presidente Evo Morales — em janeiro de 2006, após uma vitória popular inédita — vemô-los como a expressão desesperada de uma oposição que não conseguiu vencer um processo de libertação nacional que, pela primeira vez na história americana, é liderado por um indígena, apesar das manobras de todo tipo para impedi-lo com o apoio do governo dos EUA, através de sua embaixada em La Paz.
O presidente boliviano tem passado de vitória em vitória nos ombros do povo. Ele ganhou sua última batalha rodeado de milhares de seguidores, quando estando em greve de fome, exigiu a aprovação pelo Congresso da Lei Transitória Eleitoral, via indiscutível para a entrada em vigor da nova Carta Magna, que foi ratificada em referendo popular em janeiro passado, com 62% dos votos do eleitorado. O Legislativo tinha 60 dias para aprovar a referida Lei.
Obstáculos, ardis, demoras, sempre foram as armas utilizadas pelos inimigos do processo para impedir sua legalização. A aprovação do novo documento constitucional foi um golpe mortal para os interesses econômicos da direita separatista boliviana. Os chamados Cem Clãs da Meia Lua não podem ficar de braços cruzados diante da concretização da letra e do espírito da Constituição, sem a terra tremer abaixo de seus pés. Terra à qual estão aferrados com unhas e dentes e que também, por decisão majoritária, será limitada a 5 mil hectares, algo que se negam a aceitar.
Sabem que, até hoje, contaram com a cumplicidade e o apoio material e midiático do governo dos Estados Unidos. Talvez a nova administração não lhes tenha feito sinais e eles estão desesperados. Contudo, suas fortunas, o mais das vezes amassadas ilegalmente, são suficientes para eles sufragarem ações conspirativas, subversivas e até magnicídios, com o objetivo de pôr fim ao processo de mudanças e de sepultar "o índígena", como é chamado pejorativamente o presidente, e cuja presença no Palácio Quemado desafia sua arrogância colonialista e racista.
Ainda hoje, enquanto redijo este artigo, leio declarações de opositores e de personalidades da política internacional apegadas aos interesses hegemônicos da extrema direita continental, que refletem dúvida sobre a veracidade da denúncia do governo boliviano a respeito das ações do grupo mercenário, cujo principal líder foi baleado no enfrentamento com a polícia nacional.
É indubitábel, pois a televisão húngara transmitiu uma entrevista realizada em setembro passado com Eduardo Rózsa Flores (falecido), onde afirmou: "Estamos preparados para declarar em poucos meses a independência de Santa Cruz e criar um novo país".
O cabecilha, de pai croata e mãe boliviana, foi o responsável pelo recrutamento na Hungria do resto dos mercenários, entre os quais, um romeno e um irlandês, Magyarosi Arpak e Michael Dwyer, respectivamente, que também morreram com ele, depois do confronto ocorrido em 16 de abril, no hospital Las Américas, como consequência de uma batida policial, onde também foram presos dois elementos, e um sexto fugiu.
Na referida entrevista televisionada, que outras mídias da Europa também divulgaram, Rózsa Flores acrescentou que "os organizadores (da Bolívia) vão munir as armas e contribuirão com o financiamento necessário à margem da lei. Entrarei na Bolívia do Brasil, para organizar uma milícia favorável à decisão de Santa Cruz. Se o governo não permite a autonomia de Santa Cruz, Santa Cruz está disposto a se separar da Bolívia".
Durante a operação policial realizada como consequência da explosão à dinamite de um artefato na residência do cardeal boliviano Julio Terrazas, foram apreendidas numerosas armas e explosivos em Santa Cruz, inclusive, explosivos C-4.
Muitos são os detalhes e as investigações que o governo boliviano faz para esclarecer os fatos e descobrir os verdadeiros responsáveis e organizadores da introdução no país de bandos mercenários terroristas, com o propósito de fazer colapsar o processo revolucionário boliviano.
Mais uma vez se evidencia que as denúncias sobre o magnicídio na Bolívia têm fundamento. Acontece que, a cada dia, a extrema direita separatista, racista e terrorista, vai perdendo mais terreno. As eleições gerais serão em 6 de dezembro próximo e o presidente Evo Morales tem elevada aceitação popular.
Fazer fracassar essas eleições faz parte novamente dos sonhos dos prefeitos opositores, dos comitês cívicos que os acompanham e da extrema direita continental, que observa com raiva e receios o avanço dos novos tempos.
Fonte:Granma
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