sábado, 9 de maio de 2009

BRASIL 10 x ITÁLIA 0

Mino Carta

Ocorre-me às vezes que a torcida canarinho, ou seja, o Brasil em peso, não consegue digerir a derrota do Sarriá. Aquele 3 a 2 imposto à seleção brasileira pela Itália de Paolo Rossi no Mundial de 1982. É conta aberta com a azzurra. Que, aliás, poderia ser pentacampeã em lugar do Brasil se Roberto Baggio tivesse acertado aquele pênalti em 1994.

Ressalvo que o futebol não tem para mim a importância que assume aos olhos da maioria dos patrícios, embora goste de assisti-lo, quando bem jogado, no meu entendimento. (Como brasileiro, considero-me especialista.) Nasce aí uma espécie de contencioso com a Itália que transcende as dimensões do gramado. Acho motivo miúdo para tantos ressentimentos pretensamente escondidos.

Muito mais importante, sempre no meu entendimento, é outra situação, a exibir neste exato instante uma clara vantagem brasileira. Trata-se de comparar a popularidade do presidente Lula com aquela do premier Silvio Berlusconi, herói de mais um episódio de repercussão mundial que CartaCapital ilustra nesta edição, à página 44.

Onde se origina a aprovação maciça a Lula? Para desespero da mídia nativa, na identificação entre o presidente e seu povo, encantado com a ascensão de um igual, o ex-torneiro mecânico dotado de avassaladora simpatia.

Onde se origina a popularidade de Berlusconi, por ora assentada por volta de 75%? A Itália de hoje é um dos sete países mais ricos do mundo e deste ponto de vista as comparações com o Brasil não cabem. Nem por isso se observa qualquer ponto a favor da Península. Muito pelo contrário.

Ódio de classe, por aqui, é próprio da minoria. E que a maioria enxergue em Lula seu melhor representante é absolutamente natural. Já na Itália, com seus 3 mil anos de história, a larga maioria ocupa o espaço da camada que chamaríamos de classe média, algo em torno de 70% da população. Donde a gravidade.

Pois a maioria dos italianos identifica-se com um político que governa em causa própria e com o cidadão mais rico do país, empresário sem escrúpulos, submetido a inúmeros processos dos quais se safa graças às leis promulgadas em seu proveito e no dos seus apaniguados. Sem acrescentar seu exibicionismo de novo-rico metido a casanova, suas gafes internacionais, seus comportamentos constrangedores em todas as circunstâncias. Neste gramado, o Brasil de Lula ganha de 10 a 0.
Fonte:Carta Capital

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