domingo, 10 de maio de 2009

DOS JULGAMENTOS SUMÁRIOS DA MÍDIA.

O pior é que a mídia além de extrapolar de sua função,não permite o direito de resposta.O Nassif na sua série "Dossiê da Veja", revelou de modo claro, como funciona o processo de "destruição de reputações", tão bem praticado pela Veja.
Carlos Dória.

Luis Nassif

É enorme a facilidade da mídia para impor julgamentos, condenações. O método é batido mas continua eficiente.

O primeiro passo é definir o que quer, se condenar o “bandido da vez” ou absolver o aliado. Aí, trata-se de demonizar o “bandido da vez”, como é o caso do tal deputado do castelo, ou demonizar o xerife, no caso do Protógenes.

Nem vamos entrar na análise das suas culpas, mas do método de manipulação jornalístico. O deputado deve ser julgado com isenção e, se comprovadas culpas ligadas ao mandato, ou crimes fiscais efetivos, que perca o mandato.

O que ocorreu, no entanto - e sempre ocorre em eventos estrambólicos, como um deputado quebrado dono de um castelo - é o julgamento sumário. Cria-se o carnaval e exige-se a punição. E aí entra o segundo deputado, o tal que deveria analisar o caso e, pressionado, informa que vai analisar de acordo com as provas, sem se submeter a pressões, e se disse “lixando” para a opinião pública ou do jornal.

O tal deputado gaúcho é santo ou demônio, tem reputação ilibada ou é suspeito, pouco importa. Ele só é relevante porque está analisando o caso do deputado do castelo e declarou que pretende analisar sem se submeter às pressões da mídia. Esse é o ponto central da questão. E quem ousa dizer que ele está errado? Fosse mais magistrado, e menos advogado, não fosse tão vergonhosamente parcial, Gilmar Mendes, o campeão dos direitos individuais do Daniel Dantas daria razão ao deputado.

A mídia nem quis saber se ele estava certo ou não nas suas declarações - e estava. Tratou de liquidar a questão sem entrar no mérito dela, simplesmente fuzilando a reputação do tal deputado. Vasculharam sua vida, tiraram da gôndola de acusações disponíveis o necessário e mandaram bala. Se a posição dele fosse outra, sua biografia poderia ser três vezes pior e ele seria poupado.

Veja, então, que a mídia se outorga o poder de selecionar qual a sua verdade e de fuzilar quem se meter no seu caminho. Apela de modo recorrente a esta prática da desqualificação da parte contrária. Quem for contra, quem for crítico, quem pensar diferente, é fuzilado, independentemente de estar certo ou não. Se não tiver faltas graves, fabricam-se.

Ora, não se está julgando o deputado mas sua posição no episódio. E, sendo bronco ou não, sendo dono de zona ou não, sua posição é a que mais está de acordo com as normas de direito individual. E a posição da mídia é a que mais se aproxima da selvageria dos julgamentos sumários.

A humanidade levou séculos para aprimorar princípios básicos de direitos individuais. São princípios de civilização. No entanto, o primarismo de alguns analistas pavlovianos leva a essa tese esdrúxula de que princípios devem ser aplicados nos Tribunais, porque juiz não foi eleito. Como político foi eleito, tem que abrir mão desses princípios e atender ao clamor das ruas. E por tal, entenda-se, a opinião formada pelo clamor da mídia. Conseguiram segregar até princípios básicos de civilização.

É de uma ignorância monumental. Parece a história de que só não pode beijo na boca.

Por Weden
Nassif,

O problema não é somente - como já não fosse absurdo - o direito auto-outorgado de fazer prejulgamentos, que constitui num desvio de função da mídia.

A grande imprensa também se atribuiu o direito de dizer o que eu posso querer ou não em termos de debates nacionais. E faz isso interditando debates.

O caso da demonização do Congresso pela imprensa está atrapalhando o país. Não se debate o funcionamento do sistema, mas a moral dos políticos.

Todo debate moral é estúpido. Até porque se entrarmos na seara moral, fica difícil encontrar um veículo de pé (vide defesa de Daniel Dantas pela mídia).

O caso da discussão sobre a lista fechada ou aberta é um exemplo disso: “estamos proibidos de escolher entre um dispositivo eleitoral e outro, porque a grande imprensa não quer”. Ou seja: já decidiram por nós.

Mas o que precisamos é de informações equilibradas para que nós, e somente nós, possamos julgar o que é melhor. Ao condenar uma proposta de antemão, ela cala a sociedade, porque toma o seu lugar. Intromete-se de um jeito que não deveria.

Imprensa não tem que tomar o lugar da sociedade. Ela deve dar voz à sociedade, e não se apropriar da sua voz, sendo dona da voz do dono.

Um dia vi o Alexandre Garcia dizendo que a (grande) imprensa vinha cumprindo a função de “representantes do povo” sem mandato. Deu-me um frio na espinha.

Porque acho que ninguém lhe deu procuração pra isso.
Fonte:Blog Brasil Brasil

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