Urariano Mota
Recife (PE) - Um terror, um fantasma ronda todo o mundo. Para combatê-lo se unem em santa aliança todas as potências da velha imprensa: dos papas do azar da mídia ao sistema Globo, dos bons canais da França às folhas policiais da Alemanha. Pois esse terror é um mal, um vírus, uma peste mais poderosa que todas as pestes reunidas no final do apocalipse. O fantasma são as vítimas, ou o que restou dos desgraçados que se foram a se esvair entre catarro e tosse.
Na primeira página da Folha de São Paulo, com foto, em 29.4.2009 se lê: "homem usa máscara de caveira contra a gripe suína na Cidade do México". Terrível, além de máscara, caveira. Da cidade do México, a Organização Mundial de Saúde informa que vai elevar o nível de alerta da gripe suína de 4 para 5, antes que decrete o último, de número 6. Tal 6 é um verdadeiro 866, o número da besta, porque teremos uma pandemia - a doença total para toda a população de todo o mundo. Se acham isso o fim, saibam que já no Cairo, segundo a agência EFE, o parlamento egípcio recomendou ao governo o sacrifício imediato de todas os porcos do país, um número estimado em cerca de 350 mil animais. O que irão fazer com tantos porcos sacrificados? Exportá-los para outros países onde famintos insensatos, entre o terror e a fome, escolherão o terror de uma costelinha assada? Que bons loucos, dirão os exportadores egípcios.
Atento ao prejuízo colossal dos criadores suínos, digo, dos criadores de suínos, que poderão gripar de falência múltipla de todos os bens, o Jornal Nacional já decifrou o gene e a origem da doença. Segundo William Bonner, em ênfase no adjetivo do JN de 28.4, e pergunta dirigida a autoridades, a gripe não vem de porcos, vem do México. Simples assim. Pensamento maravilhoso da mais pura ciência: se os porcos infectados estavam no México, como é que se pode chamar de suína uma gripe mexicana? Porcos têm nacionalidade, salvo porco engano. E pouco se lhe dá que ofende, com tamanha transferência, uma das mais importantes civilizações da América. Que fazer? Porcos têm origem.
Diante das notícias, nas cidades brasileiras procuram-se máscaras e remédios eficazes para a gripe. Máscaras cirúrgicas, é claro, e drogas que imaginam ser eficazes contra o vírus, oseltamivir, zanamivir, amantadina ou rimantadina. Mas tais milagres estão em falta nos balcões e sorrisos de balconistas do país. Em São Paulo, o Hospital Emílio Ribas, referência em infectologia, recebe novos suspeitos todo o dia. Mas ninguém tem ideia do número de pessoas que chegam com a suspeita. Leram bem: com a SUSPEITA. "Desde a recepção eles não sabem como lidar com a situação", declarou um paciente, incógnito, atrás de uma máscara. “Os funcionários me olharam com medo, muito medo. A médica que me atendeu chegou coberta da cabeça aos pés”. E mais disse o incógnito:
- Assim que cheguei ao hospital tirei a máscara. A moça recepcionista pulou para trás e me pediu para que pusesse a máscara de volta.
No Rio de Janeiro, o ataque de asma de uma passageira causou tumulto dentro de um avião. Por sorte, as autoridades fizeram exames e descartaram a possibilidade de gripe suína. No México uma senhora, por brincadeira, pôs-se a tossir no meio da rua. Todos - como um pelotão em ordem unida -, imediatamente, atravessaram a rua e mudaram de calçada. No entanto, observem: quantos mortos existem de tão colossal pandemia? Quantos, dentre os que morreram, tiveram como causa a gripe suína?
Para tamanho caos, o Ministério da Saúde no Brasil informa que acompanha 20 casos de pacientes em todo o Brasil. Suspeitos e suspeitas apenas. Uma tragédia, nos informes da mídia. Alguma coisa deve estar sendo oculta pelas autoridades, insinuam os comunicadores, pois sabemos todos que há muitas pessoas resfriadas, febris e com tosse. Com os olhos lacrimejantes, procuramos: para tais suínos, onde está o remédio, onde encontrar a cura? Melhor desligar a televisão, não ler as manchetes dos jornais, e soltar um longo e libertador espirro. Nada será mais inteligente e sensato que um Atchim.
Fonte:Direto da Redação.
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