sexta-feira, 10 de julho de 2009

AGRICULTURA - INVESTIDOR ESTRANGEIRO BUSCA TERRAS NO BRASIL.

Especialista em agronegócio, André Pessôa, sócio da consultoria Agroconsult, prevê um momento positivo para as atividades ligadas ao campo no Brasil. Segundo ele, apesar das perdas em algumas atividades - como a da cana-de-açúcar e de carnes, por exemplo, que sofreram com o sumiço do dinheiro dos investidores a partir da quebra do Lehman Brothers, em setembro passado -, o capital já começa a voltar ao Brasil. E o ingrediente a mais na atratividade que o País desperta no momento é o fato de que uma parcela muito pequena das empresas e produtores ligados ao agronegócio serem profissionalizados, segundo ele.

A entrevista é de Paula Pacheco e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 10-07-2009.

Eis a entrevista.

Como a crise financeira global impactou o agronegócio brasileiro?

Um dos principais impactos foi que os fundos de investimento, principalmente os estrangeiros, passaram a ficar mais interessados no ativo terra. É um fator de produção cada vez mais escasso. E com restrições ambientais cada vez mais presentes. Mas o Brasil não é o único a chamar a atenção de quem tem capital para investir. A tendência é de formação de um portfólio, com terra em países como Brasil, Argentina e Ucrânia. Um fator que pesa nessa decisão é que, apesar da crise, o consumo de alimentos não teve uma queda substancial. Ele praticamente não muda. Principalmente porque, nos países emergentes, a crise foi menos intensa. Isso tudo conta para o investidor que coloca o dinheiro em terra pensando em uma reserva de valor. Desde a crise, o investidor está com mais apetite. O mundo busca investir em coisas mais concretas, mais próximas da produção.

E isso influenciou no preço da terra no Brasil?

Sim, já há uma recuperação dos preços em relação ao que se via no final do ano passado, com tendência de alta. O fato fundamental nesse processo é que a terra continua a ser um ativo escasso. E a necessidade de abastecimento do mundo com alimentos é crescente, assim como as restrições ambientais. O Brasil tem a sua atratividade porque é altamente competitivo no agronegócio. Tem destaque na produção de papel e celulose, carne, cereais, algodão, café, açúcar, suco de laranja, couro, tabaco, com a vantagem de ser um mercado interno pujante, com crescimento de renda nos últimos anos.

Quais são os problemas do agronegócio no Brasil?

Há problemas na logística e no custo do capital, que é muito alto. E até hoje não fomos capazes de criar garantias para o agricultor. Ele tem um custo para plantar e não tem ideia de por quanto vai vender aquela produção. Isso é culpa do setor financeiro, do governo, do Congresso. Mas passa também pela falta de uma gestão profissionalizada - por isso vimos tanta quebradeira de empresas no setor. Eu estimo que nem 1% dos negócios no Brasil é profissionalizado, tem uma política de administração, de gestão de risco e, sobretudo, do dinheiro. O Brasil só briga de igual para igual porque é muito bom na parte operacional.

Há alguma vantagem em ainda termos tantas dificuldades?

Sim, isso atrai o investidor. Porque, apesar dos problemas, o Brasil se destaca muito no agronegócio. Imagina com uma gestão melhor, mais profissional, fugindo da informalidade, com números auditados, com uma política social e ambiental? É o grande negócio que o investidor do mercado de capitais busca: pegar uma excelente empresa com resultados modestos e melhorá-los com uma boa gestão.

Quais são as fronteiras agrícolas que mais têm atraído os investidores?

A região conhecida como Mapito, formada pelos Estados do Maranhão, Piauí e Tocantins, tem atraído cada vez mais investidores interessados na produção de grãos, de cana e pecuária. Isso tem acontecido porque é uma terra mais barata, com projetos de infraestrutura e logística já definidos para os próximos anos. A primeira expansão na região aconteceu há 30 anos. Mas a grande expansão está ocorrendo agora, com dois tipos de players. Um deles é o que já produzia grãos no cerrado e agora decidiu expandir para o Mapito com a lógica do retorno sobre o ativo. Ele vende a terra no Mato Grosso, por exemplo, e paga na compra da terra no Maranhão até 10 vezes menos. No ano seguinte, ele começa a produzir e a recuperar o investimento. O outro perfil é do novo investidor, que ainda não é produtor e em muitos casos se associa com quem já produz. Hoje estão investindo no Brasil principalmente fundos argentinos e americanos.

Os argentinos podem se dar bem em um país com características tão diferentes?

Não é tão simples, porque até as condições climáticas e de solo são diferentes. Eles podem pagar um pedágio na parte operacional no início, mas depois vão agregar o conhecimento que têm, como o grau de formalização dos negócios, na produção no Brasil.
Fonte:IHU

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