Adital
Familiares de mortos e desaparecidos durante a Guerrilha do Araguaia estão exigindo que o Ministério da Defesa cancele as atividades da missão "essencialmente militar" que faz a busca de corpos de vítimas, no sudeste do estado do Pará. Em nota divulgada semana passada, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) exige sua participação nas buscas.
"Não foi por boa vontade que o governo criou essa missão, é na verdade uma mise-en-scène [encenação]. Ora eles se preocupam com a governabilidade, ora eles se preocupam com elegibilidade", criticou Cecília Coimbra, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro. Cecília desconfia da função dos militares na região do Araguaia. "A gente acha até que eles podem ocultar provas", afirmou.
A CEMDP teme que "informações e pistas importantes acerca de nossos familiares podem estar sendo destruídas". A comissão considerou como "desesperador" o fato de a missão do Araguaia estar sob o comando do general Mário Lúcio Alves de Araújo, que demonstrou apoio à Ditadura Militar brasileira (1964-1985) para um jornal mineiro, no ano passado.
"Indagado quanto à importância do dia 31 de março [de 1964, data do golpe militar brasileiro], para todo o país, com entusiasmo, [Mário Lúcio Alves de Araújo] salienta que há exatos 44 anos o exército brasileiro atendendo a um clamor popular foi às ruas contribuindo substancialmente e de maneira positiva impedindo que o Brasil se tornasse um país comunista", noticiou o jornal O Norte de Minas em 1º de abril de 2008.
Na segunda-feira (13), o Ministério Público Federal no Pará (MPF-PA) anunciou que vai pedir a suspensão das buscas, devido à falta de participação dos parentes na comissão. O MPF em Brasília também já pediu a paralisação dos trabalhos até que todos os militares que participaram do combate sejam ouvidos.
Na semana passada, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, argumentou que os integrantes da CEMDP não poderiam participar da missão por terem participado da ação judicial que condenou a União a realizar as buscas. O governo foi notificado pela Justiça Federal, que recebeu o pedido no final de junho deste ano da procuradora da República Luciana Loureiro, de Brasília.
Apenas em 2003, a Justiça Federal em Brasília exigiu que o governo federal abrisse os arquivos referentes à guerrilha e ouvisse os militares envolvidos no massacre dos militantes do Araguaia. O processo foi encaminhado à justiça ainda em 1982, por 22 famílias que exigiam informações sobre o paradeiro de 25 combatentes.
Interpelação
A integrante do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio, Elisabeth Silveira e Silva, entrou, na última quarta (15), com uma interpelação contra o historiador Hugo Studart no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ). Segundo Elisabeth, um artigo do historiador caluniou seu irmão, Luiz Renê Silveira e Silva, morto durante a Guerrilha do Araguaia.
No artigo "A guerra acabou", publicado em 6 de julho no jornal O Estado de São Paulo, Studart afirma que os guerrilheiros Luiz Renê, Hélio Navarro de Magalhães e Antônio de Pádua Costa foram poupados pelo Exército e ganharam novas identidades.
O texto diz que "três guerrilheiros que se entregaram, foram poupados e receberam nova identidade: Hélio Navarro de Magalhães, Antonio de Pádua Costa e Luiz Renê Silva".
"O artigo é extremamente calunioso. O objetivo é desqualificar os companheiros, a luta dos familiares, pra confundir a opinião pública, justamente no momento em que a OEA aceita nosso pedido contra o Estado", avalia Elisabeth.
A Guerrilha
A Guerrilha do Araguaia foi coordenada pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB) no final dos anos 1960 e início dos 1970, durante a ditadura militar (1964-1985). O objetivo era destituir os militares do poder e promover o comunismo nos moldes do regime chinês e cubano. Dezenas de militantes foram executados pelas forças militares do país, às margens do rio Araguaia, na cidade paraense de Marabá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário