sexta-feira, 10 de julho de 2009

FIM DE JOGO!

Por Hazel Henderson*

Surgiu um novo player global no cenário mundial: o Grupo dos 192.

Esqueça o G-7, o G-8 e o G-20, esses devem se retirar, depois de pavonearem-se em Washington, em 2008, e em Londres, em abril de 2009.

O G-192 representa, pela primeira vez, todas as economias nacionais do mundo, de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Há tempos deixada de lado pelas elites financeiras (agora desacreditadas no cassino global, atualmente encolhido), o G-192 encontrou-se em Nova York, na Assembléia Geral das Nações Unidas, entre 24 e 26 de junho de 2009.

Eles compartilharam pontos de vista longamente ignorados sobre a crise financeira e seus impactos para o desenvolvimento.

O presidente Miguel d’Escoto Brockmann abriu com maestria o evento, oferecendo um discurso sobre a família humana como um todo e nossa evolução sobre o planeta Terra (veja em www.EthicalMarkets.tv, em inglês) que permitiu um diálogo mais profundo entre os membros do G-192 do que qualquer coisa vista anteriormente, nos encontros do G-7 e G-8.

Em muitas sessões plenárias e mesas redondas, os delegados puderam dar voz ao novo paradigma que emerge desse colapso de Wall Street, do cassino global e das ideologias fundamentalistas de mercado. Esse novo paradigma redimensiona as finanças e coloca os atuais jogadores do cassino em seus devidos lugares, como intermediários e servidores, e não como senhores dos setores realmente produtivos de suas economias. Um setor financeiro eficiente deve tomar menos que 10% do PIB de um país. Esses novos líderes redimensionaram suas economias como subconjuntos de suas sociedades e culturas, com suas múltiplas fontes de sabedorias, valores e riquezas - muito além do próprio dinheiro: seus bens ecológicos, sociais e culturais, interagindo com as energias criativas de seus povos (o capital humano).

A Comissão de Especialistas do Presidente, presidida pelo professor Joseph Stiglitz, da Universidade de Colúmbia, apresenta suas recomendações, diversas e sensatas: democratização do FMI, do Banco Mundial e do OMC; a criação de uma nova moeda de reserva global, como alternativa ao hoje volátil dólar norte americano; regulamentações mais rígidas para todas as áreas financeiras do mercado; agências de avaliação para derivativos e riscos excessivos. Os especialistas também clamam por um imposto sobre transações financeiras bem pequeno, para reduzir a volatilidade e oferecer recursos para financiar o Consenso Monterrey de 2002 e as Metas de Desenvolvimento do Milênio: redução da pobreza, educação, saúde e uma maior capacitação das mulheres. O G-192 adotou o Relatório dos Especialistas.

Não surpreendentemente, os principais veículos da mídia ignoraram esse evento histórico e também os chefes de Estado, membros do G-192. Também os grandes atores mundiais, como os Estados Unidos e outros membros do G-20, enviaram para o encontro representantes de segundo escalão. A visão do G-192 anuncia o final do domínio das políticas globais desses grandes players e dos setores industriais dependentes dos combustíveis fósseis.

Preste atenção no G-192, neste começo de século 21, em seu estilo de rede de poder distribuído, diferentemente das elites fossilizadas do G-7, G-8 e G-20 e suas cúpulas altamente restritas e coreografadas. Finalmente, o G-192 tem uma plataforma mundial para expressar suas frustrações com o fundamentalismo de mercado neoliberal, anglo-saxão, e com o modo como essa ideologia se espalhou, desde a Universidade de Chicago, por meio do presidente norte-americano Ronald Reagan e da primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, até as condições severas e padrões duplos impostos pelo FMI e as prioridades, mal definidas, do Banco Mundial. A imposição dessas políticas é hoje reconhecida como injusta e danosa, exacerbando o colapso das economias asiáticas, enquanto países como a China e a Malásia evitaram essa dor, utilizando suas próprias políticas.

O G-192 concebeu um novo jogo mundial. Ele vê o sistema financeiro servindo as pessoas, de uma maneira mais saudável e sustentável, oferecendo um futuro justo para todos. Ele prevê grandes oportunidades com o colapso do cassino global e com a crise climática, para que se mude o curso e se invista na construção de economias, em todo o mundo, mais limpas e mais verdes. Hoje o Grupo recebe o apoio de 21 agências das Nações Unidas, lideradas pelo PNUMA, PNUD e pela Organização Internacional do Trabalho, que lançaram, em 2008, a Iniciativa por uma Economia Verde e o Green New Deal para o mundo.

O G-192 também ofereceu um fórum para organizações da sociedade civil, cujas políticas foram desenvolvidas desde 2000, no Fórum Mundial Social, e por milhares de organizações sociais, que ajudaram a delinear a nova visão. Todos agora se juntam para virar o jogo, do debate lúgubre sobre os custos dos setores que dependem dos combustíveis fósseis, para a mitigação das mudanças climáticas, para os cálculos positivos das grandes economias e novas riquezas, e dos milhões de novos postos de trabalho que serão criados com o investimento em Prosperidade Climática (leia aqui no Mercado Ético o artigo de Marc Weiss sobre o tema)

O mundo está pronto para essa nova visão e recebe de braços abertos todos os novos líderes do G-192.

* Hazel Henderson é autora da obra Ethical Markets: Growing the Green Economy (Mercado Ético: Construindo a Economia Global), (2006) e co-criadora, no Calvert Group, dos Indicadores de Qualidade de Vida Calvert-Henderson. Trabalhou no comitê organizacional da conferência “Além do PIB”, no Parlamento Europeu (2007). É líder mundial da plataforma Mercado Ético.

(Envolverde/Mercado Ético)

Um comentário:

frei Rodrigo disse...

Eu acredito que o mundo está mudando. E começou das bases do globo e está migrando para para as mentes dos poderosos do mundo, pois já não há mais como manter a geografia política sob o domínio e decisão de um pequeno grupo. Isto está acontecendo devagar e muito ainda se tem por fazer. E tenho convicção de que este novo período na história da humanidade deverá ser denominado de SOLIDARISMO.

Uma nova geografia política na qual deverá imperar o diálogo e a colaboração, não somente no âmbito humano, mas principalmente no nível do relacionamento homem-natureza.