Os soldados afirmam que as regras de conduta eram 'permissivas'.
Um grupo de soldados israelenses que participou da ofensiva na Faixa de Gaza, em janeiro, afirmou que abusos frequentes, alguns que poderiam ser classificados como "crimes de guerra", foram cometidos contra civis durante o confronto com militantes do grupo palestino Hamas.
As declarações anônimas dos mais de 25 soldados foram feitas à organização Breaking the Silence (Quebrando o Silêncio), uma instituição de veteranos israelenses contra abusos no Exército.
Em um relatório divulgado pela organização a partir dos relatos, os soldados descrevem que as regras de conduta "permissivas" do Exército não distinguiam civis e combatentes e resultaram em um “golpe massivo e sem precedentes” contra os civis em Gaza.
Segundo os relatos, as mortes de israelenses deveriam ser prevenidas, mesmo que à custa de vidas palestinas.
Os testemunhos afirmam ainda que os soldados teriam recebidos ordens de abrir fogo contra qualquer prédio ou pessoa suspeita.
Os soldados teriam afirmado também que escudos humanos eram usados em buscas realizadas em prédios suspeitos. Segundo eles, o vandalismo contra propriedades palestinas foi frequente durante a ofensiva.
Um dos relatos afirma que os soldados eram ensinados que “em guerras urbanas, qualquer um é inimigo, não há inocentes”.
‘Rumores’
O Exército de Israel negou as acusações e afirmou que o relatório não tem credibilidade pois é baseado em "testemunhos anônimos e generalizados e rumores".
Apesar disso, os militares afirmaram que irão investigar qualquer reclamação formal de comportamento impróprio.
“O Exército lamenta que outra organização de direitos humanos tenha divulgado um relatório baseado em relatos anônimos e generalizados, sem investigação ou credibilidade”, afirmou a porta-voz do Exército, Avital Leibovich.
“Esperamos que qualquer soldado com alguma alegação procure as autoridades apropriadas”, disse ela.
A organização responsável pelo documento, no entanto, afirmou que os relatos são “sérios, arrependidos e chocantes”.
“Esse é um chamado urgente aos líderes e à sociedade israelense para tratar com seriedade e investigar os resultados das nossas ações”, afirmaram representantes da Breaking the Silence.
Os militares afirmam que tentaram ao máximo garantir a segurança dos civis. Alguns dos relatos divulgados no relatório realmente citam que, em algumas operações, os soldados distribuíam panfletos para alertar os civis para abandonarem áreas que seriam invadidas.
A organização sugere, no entanto, que são eventos que sucedem ao alerta que levantam questionamentos sobre a moralidade das ações do Exército israelense em Gaza.
Acusações
Os dois lados concordam que o número de palestinos mortos durante a ofensiva na Faixa de Gaza passa dos 1,1 mil. Destes, o Exército israelense afirma que 300 seriam civis, mas um grupo de defesa dos direitos palestinos estima que esse número possa chegar a 900.
Treze israelenses foram mortos, incluindo três civis, durante a ofensiva. Israel alegava que a operação visava paralisar os ataques com foguetes contra alvos israelenses, através da fronteira.
Muitas das alegações levantadas pelo novo relatório reforçam acusações feitas por outras organizações de direitos humanos de que a ação israelense na Faixa de Gaza teria sido “indiscriminada e desproporcional”.
Já foram conduzidas diversas investigações sobre a conduta da operação israelense em Gaza e tanto Israel como o Hamas, o grupo palestino que controla o território, já sofreram acusações de crimes de guerra.
Uma investigação interna do Exército de Israel afirma que as tropas lutaram dentro da lei, apesar de assumir que erros foram cometidos durante a ofensiva.
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, pediu mais de US$ 11 milhões em recompensas pelos estragos causados pelo Exército israelense contra propriedades da ONU na Faixa de Gaza.
Uma comissão da Liga Árabe concluiu que há provas suficientes para processar o Exército israelense por crimes de guerra e crimes contra a humanidade e que a “liderança política de Israel também é responsável por esses crimes”.
A mesma comissão afirmou ainda que militantes palestinos eram culpados de crimes de guerra por causa do uso indiscriminado de ataques de foguetes contra civis.
Um relatório da Anistia Internacional divulgado no início de julho afirma que Israel cometeu crimes de guerra e promoveu uma destruição indiscriminada sem precedentes durante sua ofensiva militar na Faixa de Gaza no começo de 2009.
Israelenses e palestinos rejeitaram o relatório da Anistia Internacional.
Nenhum comentário:
Postar um comentário