quarta-feira, 8 de julho de 2009

HONDURAS - IGREJA NÃO TEM NADA A DIZER.

Ainda é cedo para dizer o que será de Roberto Micheletti – o presidente golpista de Honduras, sob cuja cabeça pesa a condenação unânime da comunidade internacional – e dos seus companheiros de golpe de Estado. Mas, na opinião de quase todos os observadores, o governo de "Gorilletti", como foi rebatizado o último golpista da América Latina, filho de um emigrante do Bérgamo italiano, tem os seus dias contados.

A reportagem é de Claudia Fanti, publicada na revista Adista, 06-07-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A situação conhecida no momento em que escrevíamos é que o presidente legítimo Manuel Zelaya – eleito em 2006 com os votos dos conservadores do Partido Liberal (o mesmo ao qual Micheletti pertence), mas que depois se aproximou das posições bolivarianas da Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas), até o seu ingresso no órgão em 2008 – postergou para o sábado, dia 04 de julho, o seu retorno a Honduras (antes previsto para a quinta-feira, 02), que realizará na companhia de José Miguel Insulza, secretário da OEA (da qual, se até sábado, Zelaya não for formalmente reintegrado, Honduras será suspensa), da presidenta argentina Cristina Kirchner, do presidente equatoriano Rafael Correa e de diversos ministros do Exterior.

Enquanto isso, o governo de fato declarou que Zelaya será preso ao ingressar no país, enquanto prossegue e se intensifica a resistência interna (e pacífica). O Congresso Nacional emitiu um decreto que suspende as garantias individuais consagradas na Constituição, começando pelo direito de reunião e organização.

E a Igreja cala

Na espera de entender como os eventos evoluirão, uma coisa já está suficientemente clara: o comportamento da Igreja hondurenha. Se na semana passada, desde o início do golpe (ocorrido no dia 28 de junho), todos condenaram o governo de fato – desde a Assembléia Geral da ONU à Organização dos Estados Americanos, da União Europeia aos Estados Unidos (que, talvez, julgando-se pelas primeiras declarações ambíguas da Casa Branca, foram mais incitados pelo repúdio internacional e pela firmeza dos países latino-americanos do que realmente convencidos), do Grupo do Rio à Alba (da qual veio, como era de se prever, a resposta mais dura) – nem uma única palavra oficial veio da Igreja. Nem depois do agradecimento de Micheletti dirigido à Igreja católica e à evangélica, no seu discurso depois do juramento ao Congresso, pelas orações que, assegurou o presidente golpista, sustentaram a sua luta.

O único que falou – em uma conversa telefônica com o sítio Religión Digital – foi o Pe. Germán Calíx, secretário-executivo da Cáritas hondurenha e estreito colaborador do cardeal Óscar Rodríguez Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa e presidente da Caritas Internationalis, assegurando que a Igreja católica condena o golpe de Estado ("O golpe – disse Calíx – não é a saída para a vida em democracia"), mas ao mesmo tempo exige de Zelaya o respeito pela Constituição, da qual o presidente teria se afastado com a sua iniciativa de consulta popular – na realidade, prevista pela Lei de Participação Cidadã – que esteve na origem do golpe de Estado.

Como se sabe, o presidente havia pedido que o povo, justamente no dia 28 de junho, se pronunciasse sobre o tema da "quarta urna", isto é, sobre a oportunidade que, nas eleições de novembro para a renovação da presidência, do Congresso e das autoridades locais, se acrescentasse uma consulta sobre a convocação ou não de uma Assembléia Constituinte. A tentativa de promover uma maior participação real do povo obviamente não agradou às "13 famílias" que regem as molas do poder em Honduras, incluindo o Congresso e a Corte Suprema de Justiça, assustadas pela eventualidade de uma reforma da Constituição no tipo daquela já realizada na Venezuela, na Bolívia e no Equador. E – como o que ocorreu nos outros três países da Alba, onde a Igreja sistematicamente se alinhou com a oligarquia (até apoiando, na Venezuela, o golpe falido de 2002) e contra o povo – não agradou nem mesmo aos bispos de Honduras.

Já no dia 19 de junho, nove dias antes do golpe, a Conferência Episcopal havia emitido um comunicado em que, entre óbvios apelos ao diálogo entre todos os setores da sociedade, "não apenas para superar a crise atual, mas também para propor um projeto de nação sobre o qual podemos trabalhar unidos", e as também óbvias garantias com relação à importância e à necessidade de consultar o povo nas questões de maior importância, afirmava que "um verdadeiro canal de participação cidadã não pode ser aberto contra as próprias leis": "Não se pode – lia-se no comunicado – desobedecer a Lei em nome das pessoas que querem se beneficiar, como também não se pode ser democrático sem respeitar a Democracia".

O cardeal que fala claro

Porém, contra quem deturpou a democracia, até mesmo revivificando os faustos da tradição golpista latino-americana, os bispos de Honduras consideraram preferível não dizer nem uma palavra, nem o cardeal Maradiaga, que muitos gostam de definir como progressista. O mesmo cardeal que, entrevistado pela revista Famiglia Cristiana (número 05 de julho), por ocasião da sua participação, no dia 25 de junho, no Encontro Nacional da Cáritas Italiana em Turim, foi, porém, muito claro ao atacar o presidente venezuelano Hugo Chávez: "Há quem tente – disse – reciclar um velho modelo ideológico, mesmo chamando-o de socialismo bolivariano. Não é comunismo, mas só capitalismo mascarado, porque quem paga são sempre os pobres". Acrescentando que "entre Teerã e Caracas, duas cidades petrolíferas estratégicas, há voos diretos. Servem para traficar dinheiro e armas. Mas ninguém fala sobre isso" Eu, pelo contrário, "estou habituado a falar claro. Fiz também sobre o Zimbábue por causa da repressão do presidente Mugabe, e não me deram mais o visto".

O cardeal, ao invés, não falou sobre o golpe no seu país, entre uma reunião e outra das quais – como declarou o Pe. Calíx na entrevista publicada por Religión Digital – ele está participando para evitar que o golpe de Estado acabe em um banho de sangue.

Os bispos, acrescentou o secretário da Cáritas hondurenha, estariam dispostos a participar de uma comissão de diálogo convocada pelo governo de fato – governo com o qual, pelo contrário, ninguém na América Latina está disposto a tratar –, na convicção de que "as reformas não podem vir por via autoritária e menos ainda via golpe de Estado", mas que seria necessário "abrir espaços para uma maior participação e buscar soluções políticas para problemas que são internos ao país".

Em todo o caso, disse, a chegada de Zelaya poderia ser "catastrófica", pois arriscaria provocar um choque entre manifestantes e forças policiais.
Fonte:IHU

Um comentário:

Anônimo disse...

a igreja sempre foi uma prostituta do fascismo... por isso ke ganhou estado do Vaticano