Nas horas dramáticas para a História das democracias na América Latina o Correio Brasiliense continua a desinformar, recusa-se a cobrir decentemente o golpe de estado em Honduras.
Em sua edição de 6 de julho, no dia seguinte à sangrenta repressão militar à enorme multidão mobilizada em torno do aeroporto da capital, Tegucigalpa, e que impediu o retorno do Presidente Miguel Zelaya ao seu país, o jornal preferiu titular: “Pedestres em perigo no DF”
O que é mais grave, está silenciando sobre os mais terríveis delitos contra a liberdade de imprensa e de informação que estão sendo cometidos naquele país.
Rádios e canais de TV favoráveis ao único presidente reconhecido pela Comunidade Internacional (ONU, Unasur, Sica, OEA, Alba e todos os países do mundo) foram calados e silenciados, manu militari. Canais internacionais foram excluídos das transmissões por cabo, sabotados, distorcidos, compreendendo a CNN (somente quando falava o presidente deposto) e o próprio canal das Nações Unidas.
Enquanto isso, os meios favoráveis aos golpistas, quase todos de propriedade dos mesmos, mentem, ocultam, manipulam, fazem propaganda do golpe cívico-militar em curso. Cometem os graves delitos da distorção dos fatos e da omissão de informações cruciais para a sua população e a restituição da legalidade democrática.
Profissionais da imprensa honestos foram detidos, golpeados, presos e impedidos de trabalhar.
O Correio Braziliense, que faz campanhas sistemáticas pela liberdade de imprensa quanto se trata do Irã e da Venezuela, focalizando em manchetes agressivas ocorrências mesmo de caráter menor quanto a este tema naqueles países e por várias edições sucessivas, cala-se, silencia, e portanto, assume cumplicidade com aqueles terríveis delitos em Honduras.
Chama a atenção que o Correio, em plena crise de Honduras que é matéria de notícia e informação de primordial importância para a democracia em todo o nosso continente sul-americano, e objeto de informação de primeira página em todos os países, relegue o relato dos fatos a páginas internas, apresentando envergonhadas versões supostamente objetivas equilibrando na balança as declarações dos opositores e apoiadores do Presidente Manoel Zelaya. Ao contrário, dedica-se ao Irã, para dar continuidade à campanha de terrorismo mediático e prestar apoio às forças opositoras ao governo legítima – e comprovadamente – eleito, em socorro às elites daquele país.
Não há equilíbrio, não há proporções: fica evidente para todos os leitores que a posição do Correio é ideológica, na sua militância em favor dos ricos, das oligarquias, dos milionários e dos reacionários de sempre. Assim foi a cobertura sobre o separatismo na Bolívia, assim é a cobertura sobre o Equador, sobre a Argentina, onde quer que haja um movimento popular ascendente. E não será casualidade a campanha sistemática contra o governo do metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva.
O Correio Brazilense ainda não reconheceu o fim da Guerra Fria, como aqueles soldados do Império Japonês que não haviam tomado conhecimento do fim da Segunda Guerra mundial e haviam ficado isolados nas ilhas do Pacífico. Vêem atrás de qualquer governo progressista o “fantasma do comunismo”. Por isso se refugiam no apoio a qualquer iniciativa dos setores conservadores, direitistas e representativos das oligarquias e dos setores mais abastados da sociedade, como fica evidente nos fatos de Honduras. Não perceberam ainda em profundidade as mudanças em curso nos próprios Estados Unidos, a pátria eterna de todas as direitas, o refúgio por anos a fio dos ditadores, dos fascistas, dos torturadores e terroristas que infernizaram a vida de tantos povos pelo mundo afora.
Vice-versa, dedicam-se ao tiroteio contra os governos progressistas da América Latina, de maneira grosseira e manipuladora, a começar pela permanente ridicularização e desinformação sobre os processos de integração regional em curso.
Desta maneira, este jornal cujos espaços andam pesadamente ocupados com a receita publicitária e a satisfação aos interesses de seus sócios-financiadores, apresenta-se com uma cara conservadora e ideológica que lhe retira qualquer credibilidade.
Não há como não perder credibilidade num mundo já irremediavelmente dominado pelas novas mídias e pela Internet: a cidadania tem outros meios para informar-se. O Correio que se cuide, pode virar peça de museu e folhetim dos saudosistas das ditaduras e da colonização imperial. Pode perder prestígio inclusive em comparação com outros meios de informação no país que, apesar de terem saudades da “ditabranda” estão informando de maneira muito mais e completa sobre os fatos de Honduras que o Correio. É lamentável, para um país com tão pouco acesso à imprensa escrita.
Foi exatamente o que ocorreu com os golpistas de Honduras: apesar da terrível mordaça, das transmissões de desenhos animados, esportes e variedades no criminoso bloqueio da mídia, o povo daquele país recorreu às imagens da Telesur, difundidas por satélite aberto e sobretudo pela Internet. Por todos os meios, celulares, boca-a-boca, organização coletiva, o povo hondurenho se informou e rapidamente uniu-se e rapidamente articulou uma resistência colossal e massiva aos golpistas.
Um povo humilde, sofrido, dos mais pobres da América Latina num país em que 70% estão inexplicavelmente abaixo da linha de pobreza, frente a uma oligarquia rica e poderosa, é capaz de informar-se e organizar-se rapidamente e superar o cerco informativo. Imaginem vocês, do Correio, que as palavras pronunciadas pelo presidente legítimo dos hondurenhos na cabine do avião que sobrevoava a capital do país, foram transmitidas em tempo real pelos carros de som presentes à gigantesca manifestação aglomerada em torno ao aeroporto, tudo isso via Internet.
É curioso, dessa forma, que os grandes meios de imprensa no Brasil se interroguem sobre a crescente redução da sua influência sobre formação da opinião pública.
Pois que se dediquem às campanhas infames! Na História da imprensa democrática vocês escreverão somente páginas negras.
Neste momento os pobres de Honduras vertem sangue para receber de volta o seu Presidente, ilegitimamente destituído por um golpe fascistóide e oligárquico. Que manchete vão buscar para amanhã, e depois da manhã? “Hondurenhos divididos”? ou preferem “Chávez derrotado!”, como costumam fazer quando ocorre qualquer revés das forças progressistas em qualquer lugar do continente e do mundo? É lamentável. Resta esperar que a sociedade brasileira puna com a indiferença e o esquecimento o que, algum dia na remota História, talvez tenha sido um órgão de imprensa mas hoje convertido num folhetim das forças mais obscuras e reacionárias do nosso Continente.
Fonte:Pátria Latina.
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