sábado, 18 de julho de 2009

MOVIMENTOS REPROVAM MEDIAÇÃO DE OSCAR ARIAS.

Para os movimentos sociais hondurenhos, as negociações entre o presidente constitucionalmente eleito, Manuel Zelaya, e o chefe do regime golpista, Roberto Micheletti – ambos do Partido Liberal –, serão infrutíferas. Grande parte devido ao mediador, o presidente da Costa Rica Óscar Arias Sánchez, indicado pelo governo estadunidense no dia 6.

A reportagem é do jornal Brasil de Fato, 16-07-2009.

“Arias está alinhado aos golpistas, tem respaldo deles e por isso foi escolhido como mediador. Não temos esperanças com essa negociação”, pontua Juan Barahona, dirigente do Bloque Popular, entidade que reúne diferentes forças da esquerda hondurenha. Em comunicados oficiais, movimentos populares, que apoiam Zelaya, avaliaram que ele errou ao aceitar a indicação de Arias.

A primeira mesa de negociações foi instalada no dia 9, e uma outra o será no dia 18. Em comunicado oficial, a Frente Nacional de Resistência contra o Golpe de Estado afirmou que “nenhum acordo foi obtido nas conversas”, devido à “absoluta falta de vontade política para encontrar uma saída rápida para retomar a normalidade constitucional no país” por parte da comissão do governo de fato.

Ainda segundo a nota, Óscar Arias afirmou durante o encontro que “qualquer acordo passa pela restituição do presidente constitucional”, postura elogiada pelos movimentos. “Esperamos que essa postura seja mantida e se efetive o mais rápido possível”. Outro ponto destacado pelos membros da Frente foi a incapacidade de Micheletti de defender seu regime. “Não têm argumentos para justificar por que sequestraram de maneira violenta o presidente da República, tampouco para explicar a falsificação da assinatura da suposta carta de renúncia do presidente constitucional, e menos ainda para justificar os crimes cometidos pelas Forças Armadas contra os manifestantes indefesos”.

Estados Unidos

Nos últimos dias, têm crescido a crítica das organizações populares hondurenhas acerca dessa negociação diplomática. Ganha força a percepção de que as conversas não passarão de retórica e jogo de cena. Para Barahona, a indicação de Arias mostra que os Estados Unidos não têm interesse em encontrar uma solução para a questão, que passaria por reconduzir Manuel Zelaya à chefia do país. “Há um apoio discreto dos EUA. Publicamente se dizem contra, mas se os golpistas não têm respaldo popular aqui [em Honduras], e se toda comunidade internacional condena, como estão se mantendo no poder?”, questiona o militante, que acredita que, ao tentar ser neutro, o presidente estadunidense Barack Obama acaba por dar força aos executores do golpe de 28 de junho.

Mesmo Zelaya já vem dando sinais de impaciência. No dia 13, em comunicado lido por ele na embaixada de Honduras em Manágua, Nicarágua, engrossou o discurso. "Damos um ultimato ao regime golpista para que, no mais tardar na próxima reunião, que será realizada esta semana em San José, Costa Rica, se cumpram as ordens expressas das organizações internacionais e da Constituição hondurenha", declarou.
Caso não haja avanços, o mandatário deposto alertou que irá abandonar a mesa de negociação e tomará “outras medidas”, sem especificar quais. Do outro lado, os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Bolívia, Evo Morales, vêm igualmente reiterando o papel nocivo da posição “neutra” dos Estados Unidos e a ineficácia das negociações intermediadas pelo presidente costarriquenho.

Por sua parte, Arias, após o primeiro encontro, teria dito à secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, que somente um posicionamento mais claro e a pressão por parte dos Estados Unidos poderá por fim ao conflito. O governo de Obama, porém, mantém a tática de evitar tomar uma posição clara, para evitar maiores desgastes.

Arias

No entanto, o currículo de Óscar Arias justifica o porquê de os movimentos hondurenhos acreditarem que ele pouco fará pela volta de Zelaya à presidência. O costarriquenho presidiu seu país pela primeira vez entre 1986 e 1990, período em que participou ativamente, junto aos Estados Unidos, para restituir a normalidade na América Central, leia-se: conter o avanço da Revolução Sandinista na Nicarágua. Em artigo, o economista cubano Roberto Regalado conta que o Nobel da Paz recebido por Arias em 1987 deveu-se justamente a seu alinhamento com o então governo estadunidense de Ronald Reagan à política de “guerra de baixa intensidade” contra os sandinistas, que desembocou nos Acordos de Esquipulas II, assinado por cinco presidentes centro-americanos, e que pressionava a revolução nicaraguense por todos os lados.

Em 2006, Oscar Arias voltou ao poder, onde ficará até 2010. Em outro artigo, David Solís Aguilar, do Movimiento Alternativa de Izquierdas (Maiz), da Costa Rica, afirmou que tanto na década de 1980 como agora, o governo de Arias é estritamente neoliberal, “com execução de práticas privatizadoras, concentradoras de riquezas, entreguistas, violadoras de direitos humanos, trabalhistas, ambientais e de liberdade de expressão”. Aguilar também afirma que, para conseguir se eleger de novo, o que é proibido de acordo com a Constituição da Costa Rica, Arias deu, junto ao judiciário do país, “um golpe de Estado técnico”.
Fonte:IHU

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