Internet também poderá ser uma frente de batalha em conflitos mundiais.
Tudo começou com a remoção da estátua de bronze de um soldado soviético na cidade de Tallinn, na Estônia, uma ex-república da URSS, em 2007. Quando as ruas haviam recuperado a tranquilidade após duas noites de tumultos provocados por estonianos de ascendência russa, indignados com a medida, uma frente de batalha se criava silenciosamente no ciberespaço.
Uma avalanche de mensagens foi enviada para o servidor de e-mails do parlamento, causando interrupção no seu funcionamento. Logo, a infraestrutura digital da Estônia foi praticamente paralisada, com a obstrução de sites dos principais órgãos governamentais e a desestabilização das operações do maior banco do país, em um ataque supostamente com origem na Rússia. Explodia ali um episódio que ficou conhecido como a “I Guerra Virtual”, que por um mês provocou caos no pequeno país báltico.
Na semana que passou, o rebuliço cibernético atingiu EUA e Coreia do Sul, alvos de ataques que derrubaram sites governamentais e de outras instituições, em uma ação atribuída à rival Coreia do Norte. Foi um alerta para que países do mundo inteiro invistam muito também em uma área que não envolve bombas ou metralhadoras.
– Os governos devem ter estruturas especializadas, equipamentos de última tecnologia e pessoal especializado para combater os crimes cibernéticos – observa o delegado Carlos Eduardo Miguel Sobral, chefe da Unidade de Repressão a Crimes Cibernéticos da Polícia Federal (PF).
Embora essa guerra não deixe mortos nem feridos, o impacto para a nação atacada pode não ser pequeno. Os ataques mais comuns são os de negação de serviço, como os sofridos por americanos e sul-coreanos (veja quadro). Criminosos virtuais usam milhares de computadores de usuários inocentes para sobrecarregar uma página da internet e tirá-la do ar. Dependendo do site atingido e da duração dos ataques, os prejuízos podem ser enormes para o funcionamento do país, já que hoje em dia uma grande quantidade de serviços básicos depende da web.
– Eles podem fazer até com que a economia do país pare – opina Avelino Zorzo, diretor da Faculdade de Informática da PUCRS, acrescentando que também pode haver um impacto para a imagem do governo perante seus cidadãos, que passariam a duvidar da capacidade de defesa do país.
Os danos maiores, porém, ocorrem quando um computador é invadido, tendo informações sensíveis e arquivos importantes acessados e senhas roubadas. Só no Brasil, de janeiro a março deste ano, foram reportadas mais de 200 mil tentativas de ataques de todos os tipos na internet, de acordo com o comitê gestor da rede no país. É o mesmo número registrado ao longo do ano passado inteiro.
Os criminosos virtuais contam com a impunidade, já que descobrir quem são os responsáveis é muito complicado, algumas vezes impossível. Mesmo que as suspeitas recaiam sobre um país adversário, como é o caso de EUA e Coreia do Norte, dificilmente haverá provas concretas de quem iniciou a guerra virtual. Para Sobral, o rastreamento dos ciberterroristas só será possível com uma aliança global:
– Precisamos ter acesso à informação de forma muito rápida, e isso não mais a nível local e nacional. A comunicação deve ser entre as autoridades de todos os países envolvidos.
Ainda que se consiga provar que o governo de um país seja o autor de ataques cibernéticos, há uma dúvida diplomática: o que a nação atacada poderia fazer em represália?
– Resumidamente: não muito. Poderia expulsar um embaixador ou retirar o seu – afirma James Lewis, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais dos EUA.
O consenso entre os especialistas é que qualquer punição deve ser proporcional ao delito, afastando a opção de ações militares convencionais.
Combate na web
ANTES DOS BOMBARDEIOS, OS HACKERS
Outros casos de batalhas virtuais no mundo:
- Se Estônia e Rússia protagonizaram em 2007 o que foi chamado de I Guerra Virtual, a Geórgia foi vítima do primeiro ciberataque conhecido que coincidiu com um conflito armado. O episódio ocorreu em julho de 2008, semanas antes do início da guerra entre os georgianos e os russos pela região separatista de Ossétia do Sul.
- Pesquisadores perceberam à época a transmissão de dados direcionados aos sites do governo georgiano com a mensagem: “vencer+amor+na+Rússia”. Além disso, ataques de negação de serviço sobrecarregaram e derrubaram os servidores do país. O site do presidente Mikhail Saakashvili, por exemplo, ficou fora do ar por 24 horas devido aos múltiplos ataques.
- A mídia e as companhias de transporte e comunicação também foram atacadas. Uma parte do site do Banco Nacional da Geórgia foi apagada, e a página passou a exibir imagens de ditadores do século 20 ao lado de Saakashvili. Não se sabe quem exatamente esteve por trás do ciberataque. O governo georgiano culpou a Rússia, mas Moscou afirmou que não estava envolvido no incidente.
ESPIONAGEM EM MASSA
- Desta, nem o Dalai Lama escapou. Em março passado, pesquisadores canadenses descobriram o que afirmaram ser a maior operação de espionagem online já vista. Baseados na China, os espiões haviam invadido, em menos de dois anos, pelo menos 1.295 computadores de 103 países.
- Os estudos apontaram que os criminosos virtuais não apenas invadiam os computadores, mas também contaminavam programas, acessando e-mails, câmeras e dispositivos de áudio. Centenas de entidades governamentais, empresas públicas e privadas de todo o mundo foram atingidas. Até mesmo os computadores do líder espiritual tibetano foram vítimas dos ataques.
- Foi o próprio escritório do Dalai Lama que encomendou a investigação, já que havia suspeitas de crimes virtuais. Os canadenses descobriram que o alvo dos ataques eram, na verdade, governos das regiões sul e sudeste da Ásia. Especulou-se que a rede de espionagem tinha origem na China, o que foi negado pelos chineses.
Fonte:FNDC
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