Após um ano de crise, números indicam queda no fluxo de migrantes para a Europa e os EUA
Mohamed Nur trabalha num camping em um balneário na Catalunha. Todos os meses, desde que chegou em 2002, enviava parte de seu salário à família, que permaneceu no Marrocos, seu país de origem. Mas desde junho vive uma situação que não tem coragem sequer de explicar à sua mulher. Seu patrão deixou de pagar seu salário e lhe deu duas alternativas: ser demitido ou continuar trabalhando de graça até que a situação melhore, em um dos países que mais sofrem com a crise.
A notícia é do jornal O Estado de S. Paulo, 30-08-2009.
Mohamed, por enquanto, decidiu ficar na Espanha. Mas muitos estão optando por deixar a Europa, principalmente aqueles que trabalham no setor da construção, que entrou em colapso. Um ano depois da eclosão da pior crise econômica em 70 anos, o mundo vê um novo fenômeno: a queda do fluxo de migrantes dos países pobres para Europa e Estados Unidos.
A crise, somada aos "muros" levantados pelos países ricos em suas fronteiras, faz com que o fluxo de imigrantes de países pobres aos desenvolvidos sofra pela primeira vez em 30 anos um freio. Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) indicam que o número de estrangeiros chegando na Europa e EUA recuou pela primeira vez em 2009. O levantamento também conclui que os imigrantes estão sendo os primeiros a perder o emprego.
O volume de imigrantes cresceu a cada ano no mundo desde 1980. Nos países ricos, a baixa taxa de natalidade exigia estrangeiros para mão de obra. Nos países pobres, as perspectivas de estabilidade eram poucas. Entre 1997 e 2008, 70% dos empregos criados no Reino Unido foram preenchidos por estrangeiros. Na Espanha, Itália, Dinamarca e Áustria, pelo menos 40% da população economicamente ativa era estrangeira. Nos últimos meses, porém, a pressão para criação de barreiras à entrada de estrangeiros aumentou de forma expressiva.
Políticos em toda a Europa passaram a lidar com o assunto como ponto central de suas campanhas eleitorais. Com a chegada da pior crise em 60 anos, políticas de restrição ganharam apelo popular e começaram a ser executadas. No Reino Unido, por exemplo, vistos de trabalho agora são dados apenas para quem tem títulos de pós-graduação. Na Itália, membros do governo chegaram a sugerir uma moratória de vistos de trabalho para qualquer um por 12 meses.
DEMISSÕES
Outra constatação preocupante é que os primeiros a serem demitidos são os estrangeiros. Muitos trabalhavam na construção, setor que desabou na Espanha, Reino Unido, Irlanda, EUA e outros países ricos. Os imigrantes tendem a ocupar postos temporários. Com a crise, os primeiros postos suprimidos são os temporários.
Nos Estados Unidos, a taxa de desemprego entre os estrangeiros é de 10%, ante 9,4% para a média geral. Antes da crise, a taxa de desemprego entre imigrantes era mais baixa que a média nacional. A maioria dos imigrantes apenas vive nos Estados Unidos para trabalhar e 12 milhões deles não têm vistos.
Na Espanha, a situação é ainda mais crítica. A taxa de desemprego entre os imigrantes já supera os 28%, ante 16% para os espanhóis. Desde 2000, a Espanha recebeu mais de 5 milhões de estrangeiros.
Na Suíça, a brasileira Irene da Silva trabalha há cinco anos como empregada doméstica. Não tem visto, mas acreditava que o sacrifício valia a pena para enviar dinheiro para sua casa, na Bahia. Agora, tem dúvida diante da queda de serviço. "Não sei até quando vou conseguir aguentar."
Fonte:IHU
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