quinta-feira, 27 de agosto de 2009

MST - Eu e Alfredo Southall.

por Michelle Amaral da Silva
Colaboradores: Milton Ribeiro

“Alfredo Southall é o dono da cidade”. Foi assim que ouvi falar pela primeira vez, em 1994, na figura de Alfredo Southall

Milton Ribeiro

– Alfredo Southall é o dono da cidade. Todo mundo pede bênção a ele. Não há, na região, quem não lhe obedeça — disse o cara da Itautec. — Se ele gostar, venderemos lá como água.

– Arrã — sempre o mesmo papo de vendedor, pensei.

Foi assim que ouvi falar pela primeira vez, em 1994, na figura de Alfredo Southall. Nós tínhamos uma pequena empresa de desenvolvimento de software e nossa nova parceira, a Itautec, queria fazer negócios em São Gabriel. Eu não queria, pois se toda nossa equipe estava com muitíssimo trabalho em Porto Alegre, como iríamos atender há 400 Km de distância? Mas fui voto vencido. Meu sócio tinha a fantasia de que a Itautec iria nos deixar cheios de clientes e, bem, devíamos ir.

E lá se foi Milton Ribeiro, um funcionário e o vendedor da Itautec para São Gabriel. Entramos na sala de reuniões dos Supermercados Southall e esperamos uma hora pela entrada do Imperador. Ele apareceu de botas de fazendeiro, bem sujas, e o maior séquito de baba-ovos já visto por mim. Era um sujeito enorme, daqueles que não se sabe o quanto tem de músculos ou gordura, com cabelos precocemente brancos e uma postura de chefia que disparou todos os meus sinais de alerta. Posso comprovar que identifico problemas em poucos segundos. Era o caso.

Junto com ele, vinham os gerentes de cada um dos supermercados, o advogado, o contador, alguns responsáveis pelas fazendas, o chefe do RH, havia de tudo, não sabia para quê. Afinal, nosso sistema controlaria apenas os pedidos, o estoque das lojas, o contas a pagar, etc. Mas logo soube o motivo de toda aquela gente. Alfredo precisava de uma platéia para suas demonstrações de poder; além disso, gostava que rissem de suas gracinhas. A cena montada me irritou ainda mais. Depois de um longo discurso a respeito de como gostava de negociar — acompanhado por assentimentos imediatos de sua claque –, ele passou a palavra ao advogado. Este disse que gostaria de fazer algumas objeções à proposta que eu apresentara. A primeira era um erro de português que o documento continha. Todos riram. O homem disse que o verbo “acessar” não existia. Dei-lhe razão, era um neologismo. Completou reclamando que eu utilizara a palavra inglesa “back-up” e não “cópia de segurança”. OK, concordei que os documentos tinham de ser escritos em vernáculo. E o que havia além disto? Nada, era só aquilo. Foi minha vez de rir, pensando no motivo que levara a ele me expor ao ridículo.

O problema é que rábula ligou o que tenho de pior: o humor ácido. Eu estava louco para pegá-lo. E o fiz segundos depois.

Ele seguiu falando que precisava de “quatro frente de caixa” em cada supermercado. Eu disse que ele tinha razão ao dizer “quatro frente de caixa”, pois, em língua portuguesa, só se usa o plural quando são seis ou mais. A claque toda riu, Alfredo também, mas o advogado e o vendedor da Itautec ficaram vermelhos de ódio. Meu parceiro achava ou sabia que aquilo fora um grave erro. Depois, ninguém mais se aventurou a falar, apenas Alfredo, eu e meu vendedor. Alfredo queria instalar o sistema para testes por 60 dias, sem pagar nada. Eu era contra, pois sabia muito bem o valor do nosso trabalho, do treinamento de todos os funcionários, das estadias e desconfiava do velho. Mas estava claro que meu parceiro estava disposto a tudo para agradar. Houve um intervalo para o almoço. Não nos convidaram para almoçar.

Então, eu e o cara da Itautec discutimos. Eu dizia que aquele não era nosso jeito de trabalhar e que tínhamos clientes referência aqui e ali. Eles que fossem visitá-los a fim de fazer a compra com maior segurança. Só que, ao final, deixei-me dobrar e, durante a tarde, não abri a boca na continuação do ato público com a multidão gabrielense. Voltei para Porto Alegre à noite, mas nosso funcionário ficou por lá, instalando o sistema para os testes. Fui obrigado a voltar ainda uma vez para nova reunião. Com toda a cena remontada — um monte de gente, piadas, etc. — Alfredo Southall avisou que não queria o sistema. Sinceramente, achei maravilhoso e desinstalei o aplicativo. Ele me convidou para almoçarmos; o advogado foi junto. Foi um encontro amigável. Eles me contaram que o foco era o Supermercado Southall. Dava muito mais lucro. As terras — ele era dono de hectares, hectares e mais hectares — seriam vendidas bem aos poucos, quando valesse a pena.

Um dia, passados dois meses, eu estava trabalhando sozinho num sábado, pois tenho o hábito de procurar os horários de silêncio para me organizar. Tocou o telefone e um cara efetivamente apavorado começa a dizer que dera um problema grave. Que problema? Ora, aparecia na tela a mensagem “Entrar em contato com o telefone 51 XXXX XXXX”. Expliquei calmamente que não entendia como ele tinha aquela versão do sistema, pois era uma versão de teste que expirava em 60 dias. Perguntei de onde ele falava. A resposta vocês já imaginam: ele falava de São Gabriel, do Southall. Alguém tinha copiado o sistema, mas não contara que ele possuísse a mais banal das seguranças.

Disse-lhe que nosso aplicativo estava instalado indevidamente, mas que segunda-feira eles poderiam entrar em contato conosco a fim de comprar o sistema e receber a cópia definitiva. Segunda-feira, nova ligação. Era o contador deles, me perguntando muito irritado o preço. Disse-lhe que considerava nossa proposta ainda válida. Ele me disse que ligaria em dez minutos. Nossa empresa já fechou e ainda aguardo o telefonema.

Depois, a Fazenda Southall ficou famosa. Pequena parte dela foi para a reforma agrária, a área mais interessante ficou com Alfredo e sua pouca vontade de trabalhar. A fazenda tornou-se símbolo da resistência dos grandes latifundiários e foi “vítima” de várias invasões do MST, algumas sangrentas.

O ápice ocorreu na última sexta-feira. Ao rechaçar mais uma invasão, o sem-terra Elton Brum da Silva, que tinha dois filhos e 44 anos, foi morto com tiros nas costas …

… por alguém do alto escalão da Brigada Militar. Tão alto que ninguém pode saber quem foi. Pelas marcas nas costas, mais parece um fuzilamento.

A promotora Lisiane Villagrande, do Ministério Público de São Gabriel, foi muito rápida e considerou “extremamente profissional” a ação da Brigada. Logo ela que, em 2003, numa reunião de fazendeiros da região, leu sob aplausos o despacho da ministra Ellen Gracie, do Supremo Tribunal Federal (STF), que anulava a desapropriação das fazendas Estância do Céu, Santa Adelaide, Caieira, Posto Bragança e Salso Fazenda (13,2 mil hectares), de propriedade de Alfredo Southall. Lisiane é proprietária de terras na cidade.

Sábado, enquanto a Zero Hora estampava a manchete “MST ganha seu mártir” e o comando da Brigada caía, a imprensa gaúcha esquecia de falar sobre a improdutividade das fazendas e muito menos pensavam em Elton Brum da Silva ou em sua família.

Milton Ribeiro é jornalista.
Fonte:Brasil de Fato.

Um comentário:

Anônimo disse...

DEDICADO AO SENADOR MARIA VAI COM AS OUTRAS !!
Senador Suplicy, o Senador que só sabe dizer Amem para Lula, mesmo que seja o Amem fora da ética e da verdade e para apoiar corruptos .
Caro senador Suplicy,
Trabalhe em favor do Brasil e de São Paulo, apenas
cumpra suas promessas e seu papel para o qual pagamos.
Pare de ficar cantando e fazendo gracinhas no congresso, não o pagamos para isso, não o pagamos para ver um senador da republica se expor ao ridículo porque esta atitude infantil sua não ajuda o Brasil em nada, muito pelo contrario.
Pare de ficar só no Bla,Bla,Bla, seu comportamento retrata o de seu colega Mercadante que é outro demagogo que subestima o povo achando que nos enganam .
Na verdade o que falta são Projetos de lei de sua autoria e trabalho na pratica de relevância para mostrar serviços para o bem do País conseqüentemente para o bem do povo Brasileiro .
Senador ,sabemos que o senhor tem o Rotulo de bom moço, e sabemos que nada mais é apenas um rotulo, porque na pratica o que temos mesmo é um senador IMPRODUTIVO que apenas segue as ordens de Lula mesmo que sejam para apoiar corruptos Tipo Sarney, Collor e Renan.
Vergonhoso e lamentável esta mudança radical de personalidade caro senador Suplicy !!!
Espero que o povo de São Paulo fique ligado nas próximas eleições e pesquise + sobre os políticos IMPRODUTIVOS como por exemplo o senhor .
Nos últimos anos o seu comportamento como político tem sido de dizer amem para Lula, mesmo que seja para apoiar tudo que o PT sempre combateu e foi , a falta de ética e a falta da verdade.
O PT hoje e uma vergonha nacional, e não tem + Moral, muito menos Ética e dignidade para criticar ninguém.
Desculpe Senador, mas as urnas vai dar a resposta para vocês que pregavam a ética,seriedade e hoje são o oposto e tudo isso.
Lula Continua sendo um demagogo e conduzindo o pais a vergonha com suas mentiras e com isso estar levando o partido ao fundo do poço.
Lula e PT quer a todo preço colocar na presidência uma Mentirosa .
Aliais,mentir e demagogia é o que o PT sabe fazer muito bem .
Lamentável que pessoas de sua “moral” ,sejam vista hoje como IMPRODUTIVO e menino de recado de Lula .
caro senador, Espero que o senhor não volte ao senado porque o Brasil não precisa de políticos assim COVARDES E IMPRODUTIVOS que seja menino de recado de Lula onde só sabem dizer Amem .
Pergunto: Porque o senhor não tem a coragem de mostrar o cartão vermelho para Lula?
Afinal quem contribui e muito para a crise no senado foi Lula em apoiar Sarney, e se aproximar cada vez + dos corruptos Renan e Collor os quais o PT tanto os combateu os chamando de Corruptos e Ladrão.
Só mais s uma pergunta: Lula não tem nada a perder com as atitudes sem ética e com falta de moral porque Lula não será candidato nas próximas eleições.
E o senhor senador, tem algo a perder nas próximas eleições ?
Abraços,
Nikacio lemos
23 anos
Universitário